Em meio a críticas do PT e de movimentos sociais pela escolha de
Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, a presidente Dilma Rousseff,
que participou da reunião do diretório nacional da legenda nesta
sexta-feira, 28, em Fortaleza, fez acenos ao partido e sua base, lembrou
que foi eleita por forças progressistas, mas reiterou o compromisso com
a estabilidade econômica e pediu maturidade à militância petista em
nome da governabilidade.
"Nós temos que tomar as medidas necessárias, sem rupturas, sem
choques, de maneira gradual e eficiente como vem sendo feito. Temos que
estar unidos. Eu preciso do protagonismo de todos vocês e neste
protagonismo destaco o PT. O PT tem maturidade e hoje, depois de todo
esse período sabe que precisamos ter legitimidade e governabilidade",
disse a presidente em seu primeiro encontro com a cúpula do partido
depois da reeleição.
Dilma comemorou o fato de o País terminar o ano dentro da meta
de 6,5% de inflação, mas disse que não está satisfeita e que medidas
devem ser tomadas. Por isso, ela desafiou o partido a renovar suas
perspectivas diante das demandas econômicas. " A conjuntura muda, a situação do País muda, as condições da
economia mudam. Nós nos adaptamos às novas demandas e damos respostas a
cada uma delas. Acho que esta é a grande missão do PT", disse ela.
Por outro lado, a presidente fez afagos ao PT, garantindo que a
condução ortodoxa da economia não vai afetar a essência do programa do
partido. "Uma coisa deve ficar clara e ninguém deve se enganar sobre
isso. Fui eleita por forças progressistas, não para qualquer processo
equivocado, mas para continuar mudando o Brasil", garantiu.
Bem humorada, Dilma lembrou que, embora tenha sido eleita pelo
PT, lidera uma coalizão de partidos e tem a obrigação de governar para
todo o conjunto da população. "O governo não é um governo meu, no sentido que ele é só meu e
eu guardo abraçadinha nele. O governo é do PT e dos partidos da nossa
aliança porque nós fizemos uma aliança e dos movimentos sociais. Mas
também o governo é dos que mostraram em mim e dos que não votaram",
disse ela.
Os movimentos sociais que formam a base do PT tiveram atenção
especial da presidente. Dilma voltou a dizer que uma das diferenças
entre o segundo mandato e o primeiro será a disposição para o diálogo,
em especial com os setores organizados da sociedade. "Quero enfatizar um aspecto que é: nós temos que olhar para os
movimentos sociais. Numa sociedade democrática o Congresso é
fundamental e nós temos os processos que levam às leis, às reformas e às
transformações. Mas é na nossa relação com os movimentos sociais que
nós também aprendemos e recebemos todas reivindicações da parte
organizada da sociedade. Uma das práticas que considero extremamente
relevantes é a de ouvir sistematicamente os movimentos sociais",
prometeu.
Falando para o partido, Dilma voltou a defender a reforma
política, uma das prioridades da agenda petista, desta vez de forma mais
objetiva, dizendo que é contra as alianças proporcionais e o
financiamento empresarial de campanhas, segundo ela origem de toda a
corrupção estatal. Um dos momentos mais aplaudidos do discurso de 45 minutos foi
quando Dilma disse entender e incentivar a independência do PT em
relação ao governo. "Governo é governo e partido é partido", disse ela,
emendando com outra tirada bem humorada. "Vocês podem criticar à
vontade, mas também não exagerem".
Em meio a um dos maiores escândalos de corrupção da história
do País desvendado pela Operação Lava Jato e manifestações diárias
pedindo seu impeachment e até a anulação das eleições, Dilma conclamou o
PT a defendê-la dos "golpistas" que, de acordo com ela, não se
conformam por ficarem 18 anos fora do poder federal.
"Eu conto com vocês para que juntos enfrentemos todos os
desafios e encaremos com serenidade os golpistas de sempre, que sempre
ocorreram de uma forma ou de outra na história do Brasil, mas golpistas
hoje que têm uma característica. Eles não nos perdoam por estarem tanto
tempo fora do poder", disse a presidente.
Sem citar nomes ou casos específicos, Dilma pediu serenidade aos
petistas e alertou para o risco de provocações. "Vamos lidar com isso
com tranquilidade e serenidade. Nós não
podemos cair em nenhuma provocação. Temos ter a tranquilidade de que
nosso País conquistou a duras penas a democracia". (Estadão)
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