sábado, 29 de novembro de 2014

CUIABÁ: CIDADE DE PEDRA.



CUIABÁ: CIDADE DE PEDRA.
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Visitei neste mês minha cidade – Cuiabá. A narrativa de hoje traz uma visão de mudança de paradigma em termos de concepção de cidade dedicada ao bem estar de seus habitantes, mudança esta causada pelas intervenções no traçado urbanístico e na arquitetura da cidade e de seu entorno, com ocupações urbanas que se constituem em verdadeiras agressões à antes “Cidade Verde”.

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Em um deslocamento de taxi pela cidade, tive a oportunidade de dialogar com o motorista, pessoa de origem humilde. O tema da conversa foi a questão da sustentabilidade de Cuiabá e o aumento do calor, consequência destas agressões, que impuseram a “cultura do concreto e do asfalto”, tornando impermeáveis grandes áreas, antes cobertas pela vegetação ou por solos permeáveis, que deixam a água das chuvas penetrar no solo, alimentando aquíferos e amenizando o calor.


O crescimento vertical da cidade com grande concentração de edifícios de 10, 20 e até 30 andares na área urbana, hoje ocupando áreas onde estavam casas, com quintais enormes nos quais vicejavam árvores frutíferas e mesmo mata nativa, em pleno centro urbano, conjuntos que legitimaram a “Cuiabá Cidade Verde”.


Hoje, esta ocupação desordenada, sem planejamento ambiental e mesmo urbanístico e paisagístico, se acelerou com as obras da Copa 2014 – as obras do VLT, de baixa qualidade e feitas à toque de caixa antes da copa, atualmente estão semiestagnadas, e a depredação do patrimônio verde da cidade, resultante deste processo equivocado, constituí-se em um grande absurdo, senão em crime ambiental.


O nosso motorista fez questão de nos mostrar a triste visão de tocos de árvores que foram simplesmente cortadas quase na raiz ao longo da Avenida Fernando Corrêa, e o mesmo se repetiu em outros canteiros da obra gigantesca, que nasce com o vício imperdoável da falta de respeito à vocação verde da Cidade.

Foram centenas de Ipês, Cedros e outras espécies do cerrado que ornamentavam a paisagem urbana, protegiam a população pelo sombreamento que amenizavam o calor, que foram ceifadas. 


A modernização urbana e novas alternativas de mobilidade são necessárias, porém em plena sintonia com os valores de humanização da cidade, e respeito ao patrimônio histórico e natural de Cuiabá.


Constatamos pessoalmente as altas temperaturas de Cuiabá em um final de inverno, que mais parecia um verão de 40 graus, típicos da nossa Capital de Mato Grosso – Aprofundamos a discussão e verificamos que as causas deste fenômeno encontrarão explicação no calor irradiado para o ambiente pelo excesso de concreto e asfalto cobrindo o solo, na liberação de calor dos edifícios que mantém a temperatura elevada no período noturno e, finalmente, na expansão da ocupação do entrono da cidade através de novos empreendimentos imobiliários, projetados, claramente sem os necessários cuidados com a preservação da cobertura vegetal e de um conceito sustentável de ocupação urbana e paisagístico.


Não sabemos como as autoridades de Cuiabá e do Estado de Mato Grosso chegaram a este estado de total desapreço com a nossa outrora “Cidade Verde” que agora pode ser chamada de “Cidade de Pedra”.

Eng. Everton Carvalho – Presidente da ABIDES

Arq. Ana Rita Maciel Ribeiro – Diretora de Sustentabilidade da ABIDES

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