Primeiro dos executivos presos na Operação Lava-Jato a admitir que
pagou propina no esquema da Petrobras, Erton Medeiros Fonseca, da Galvão
Engenharia, trouxe à tona um novo nome a ser investigado. Trata-se do
empresário Shinko Nakandakari, que, segundo o executivo, atuava como
operador do esquema de corrupção na Diretoria de Serviços da Petrobras,
comandada por Renato Duque, ao lado de Pedro Barusco, ex-gerente
executivo da área de Engenharia da estatal que se dispôs a contar o que
sabe ao Ministério Público Federal e devolver US$ 97 milhões. Os
advogados de Fonseca entregaram nesta segunda-feira à Justiça Federal do
Paraná várias notas fiscais relativas à propina. Elas foram emitidas a
favor da LFSN Consultoria e Engenharia, no valor de R$ 8,863 milhões, e
teriam como finalidade pagar a propina a políticos.
A LFSN Consultoria pertence a Shinko, a Luís Fernando Sendai
Nakandakari, que seria filho dele, e a Juliana Sendai Nakandakari. O
endereço informado à Receita Federal é um apartamento num prédio
residencial no bairro do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo, que está em
nome de Luís Fernando. Os pagamentos da Galvão foram feitos por meio de
transferências eletrônicas a Luís Fernando e Juliana. Nas notas,
aparece que o pagamento foi feito por serviços prestados.
As notas fiscais — várias delas com o valor de R$ 660 mil — foram
emitidas entre 2010 e 2014. Segundo a planilha de pagamentos apresentada
à Justiça pela Galvão Engenharia, o primeiro pagamento ocorreu em
novembro de 2010 e o mais recente é de 25 de junho de 2014 — cerca de
dois meses depois de a Operação Lava-Jato ter sido deflagrada pela
Polícia Federal. As notas têm valores entre R$ 115 mil e R$ 750 mil.
Fonseca se dispôs a fazer acareação com o ex-diretor de Abastecimento
da Petrobras Paulo Roberto Costa e com o doleiro Alberto Youssef, na
tentativa de provar à Justiça que, ao contrário da acusação que lhe é
imputada, ele não fazia parte da organização do cartel de empreiteiras,
mas foi vítima de extorsão. É o mesmo argumento apresentado em
depoimento pelo vice-presidente executivo da Mendes Júnior, Sérgio Cunha
Mendes, que pagou R$ 8 milhões ao doleiro.
Em depoimento à Justiça, Fonseca afirmou que cedeu à pressão de
Shinko porque a Galvão Engenharia vinha sendo sucessivamente preterida, e
o nome da empresa havia sido excluído da lista das “convidadas” a
participar da licitação. Disse ainda que o dinheiro era destinado ao
caixa do PP.
Shinko Nakandakari é um dos denunciados num processo de improbidade
administrativa envolvendo a construtora Talude, contratada pela Infraero
para obras no aeroporto de Viracopos, em Campinas.
O valor inicial do
contrato, assinado em 2000, foi de R$ 13,892 milhões. Seis meses depois
da assinatura, foi feito um aditivo de R$ 1,904 milhão. O segundo
aditivo, de R$ 1.540.352,97, ocorreu em 2011. Para o Ministério Público
Federal, não havia razões para firmar os aditivos, que tornaram a obra
mais cara. O caso está na Justiça.
Fonseca cumpre prisão preventiva na carceragem da Polícia Federal em
Curitiba. Ao pedir pela liberdade dele, os advogados argumentam que a
Galvão Engenharia pertencia ao “grupo A”, a elite de fornecedores da
Petrobras, mas havia deixado de receber os convites da estatal para
disputar licitações. Inconformada, a construtora teria encaminhado pelo
menos 20 requerimentos à Petrobras, entre 2006 e 2014, relembrando aos
executivos da estatal o padrão de excelência de seus serviços e pedindo
que fosse incluída em certames em curso.
Os
advogados dizem ainda que, se estivesse participando de um “conluio”
com outras empreiteiras, a Galvão Engenharia não precisaria pedir à
Petrobras que a convidasse para as licitações. Os depoimentos de Paulo
Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef incriminam Fonseca. Costa
afirmou que ele participava do esquema de cartel, e Youssef diz ter
tratado com ele o fechamento de contratos entre a Galvão Engenharia e
suas empresas de fachada, como forma de viabilizar o pagamento das
propinas. Foram apreendidos pela PF contratos da Galvão Engenharia com
empresas que eram usadas pelo doleiro para movimentar recursos ilícitos.
A empresa depositou pelo menos R$ 4,179 milhões na conta da MO
Consultoria, uma dessas firmas de fachada.
A Galvão informa ter participado de 59 licitações na Petrobras. Os
contratos individuais da empresa com a estatal, entre 2009 e 2013,
somaram R$ 3,474 milhões. A Galvão atuou também em consórcios. Na semana
passada, o advogado de Fonseca, José Luis Lima, disse que a empresa
obteve contratos com a Petrobras “de forma lícita”, mas depois passou a
ser vítima de extorsão. ( O Globo )
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