O Estado de São Paulo
Sempre pode mudar, mas, neste momento, os rumos de Luiz Inácio Lula da
Silva e de Dilma Vana Rousseff apontam em direções opostas. Lula entrou
no alvo e afunda em suspeitas; Dilma parece sair da fase mais aguda da
crise - apesar de tudo...
O PT e Dilma têm comido o pão que o diabo amassou e eles próprios
assaram em fogo alto. O partido queima sua imagem em mensalões e
petrolões e Dilma torra definitivamente a imagem de “gerentona” com o
não crescimento, a inflação e os juros escorchantes e o desemprego
aumentando. Até aqui, porém, Lula era coadjuvante da crise, até mesmo
como alvo das manifestações. Agora, passou a protagonista.
Primeiro, a informação de que o já famoso delator Paulo Roberto Costa
voou a Brasília especificamente para papear com o então presidente Lula,
no Palácio do Planalto, num encontro listado pela própria Petrobrás
entre as “viagens Pasadena”. E a dias da formalização desse mico de
grandes proporções.
Depois, a descoberta de que a Camargo Corrêa, envolvida até a tampa na
Lava Jato, despejou R$ 3 milhões no Instituto Lula, sem falar outros
trocados doados simultaneamente ao partido. A isso somem-se as viagens
de Lula, sobretudo para a África, a bordo de jatos de grandes
empreiteiras.
Aliás, não ajuda Lula em nada o Itamaraty produzir um memorando interno
para driblar a lei da transparência e impedir a divulgação de documentos
que, oficialmente, já são de domínio público. E por quê? Para que a
imprensa - logo, a opinião pública - não acabe aprofundando detalhes das
relações perigosas entre Lula e a Odebrecht, outra listada na Lava
Jato.
Como sempre que não tem o que dizer, Lula usou o acolhedor ambiente do
congresso do PT para fugir dessas questões e descascar em cima da
imprensa. “Parece que as pessoas não querem mais ler as mentiras que
eles publicam.” Se não for pedir demais, dá para dizer quais são essas
“mentiras”? Os dados econômicos? O aparelhamento das estatais? O
julgamento do mensalão no STF? As investigações do Ministério Público e
da PF sobre o desmanche da Petrobrás?
Quanto mais Lula se enrola, mais Dilma começa a respirar melhor.
Emagreceu 15 quilos, recupera a autoestima, pedala pelas redondezas do
Alvorada e até dá-se ao luxo de comparecer à abertura do congresso do
PT, discursar quase uma hora e... não ser vaiada. Ufa!
Também listou um monte de ideias e abastece a tal “agenda positiva”, ora
com um ambicioso plano de safra, ora com um novo plano de investimentos
para tapar os buracos da precária infraestrutura nacional. As intenções
são grandiosas. As dúvidas sobre a viabilidade, igualmente.
Essa Dilma renovada sai da toca e cruza oceanos e mares para agitar a
agenda externa e produzir boas pautas para a demanda interna. Após
Bruxelas, para o encontro Celac-União Europeia, vem aí a viagem mais
esperada há anos, aos EUA.
Dilma encontra investidores privados em Nova York no dia 28, janta na
Casa Branca no dia 29, tem intensa agenda com Barack Obama (reuniões,
entrevistas, assinatura de atos) no dia 30 e depois vai à Califórnia
tratar de alta tecnologia. A expectativa do governo é não só uma nova
etapa nas relações Brasil-EUA, mas manchetes favoráveis na imprensa
tupiniquim.
O equilíbrio entre Lula e Dilma, porém, não é exatamente assim: um sobe,
o outro cai. Um depende visceralmente do outro, tanto quanto o PT
depende de ambos. Ou, repetindo José Dirceu, que sabe das coisas, estão
todos “no mesmo saco”.
Com um detalhe interessante: por mais que o PT fique esbravejando contra
o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o partido precisa dele quase tanto
quanto de Dilma e de Lula. Se o ajuste fiscal der certo e a economia
aprumar, o horizonte petista em 2018 é um. Se não, é outro, mais sombrio
para o partido, para Dilma e para Lula. O PT está nas mãos de Levy.
Quem diria...
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