Após parecer por impeachment, PT decide que não irá 'prejulgar' Cunha
Vera Rosa e Ricardo Galhardo - O Estado de S.Paulo
29 Outubro 2015 | 02h 02
Depois de assessores
terem preparado um relatório técnico sobre viabilidade de um pedido de
impedimento da presidente Dilma, Diretório Nacional do partido vai
manter controle sobre os votos petistas no Conselho de Ética da Câmara
dos Deputados
BRASÍLIA - No momento em que
a ameaça de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff volta a
ganhar força, a cúpula do PT vai enquadrar os deputados do partido no
Conselho de Ética, recomendando que não haja “prejulgamento” do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A posição será
referendada nesta quinta-feira, 29, pelo Diretório Nacional do PT, em
reunião na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrará forte
reação dos petistas contra o que ele chama de “ação orquestrada” para
destruir o partido e o governo.
Com essa decisão, a cúpula do partido deixa
claro que a palavra final sobre como proceder com Cunha será da direção.
O próprio Lula já havia afirmado que Cunha tem direito a uma ampla
defesa das acusações.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
No auge do distanciamento da relação entre Dilma e Lula e sob a
pior crise de seus 35 anos, o PT também tentará adotar um discurso de
unidade em várias trincheiras - desbastando até mesmo as críticas mais
ácidas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy -, mas a divisão no partido é
evidente.
Embora seis correntes do PT queiram que a sigla defenda desde já a
cassação do mandato de Cunha, a estratégia combinada com o Palácio do
Planalto é ganhar tempo. Suspeito de manter contas secretas na Suíça com
dinheiro desviado da Petrobrás, o presidente da Câmara conseguiu
retardar o processo contra ele no Conselho de Ética e pode ser julgado
somente em 2016 por seus pares.
Cabe a Cunha decidir se dá ou não sequência ao impeachment
contra Dilma, mas ele já tem um “álibi”: a assessoria técnica da Câmara
emitiu parecer sugerindo a aceitação do requerimento apresentado pelos
juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, que pede o
afastamento da presidente. Diante desta ameaça, a cúpula do PT e o
governo fazem de tudo para não provocá-lo.
Nos bastidores, ministros avaliam que Cunha pode até mesmo ser
obrigado a deixar o comando da Câmara, por ordem do Supremo Tribunal
Federal, antes mesmo da decisão sobre seu futuro. Em conversas
reservadas, aliados do deputado contaram que ele já ameaçou aceitar o
pedido de impeachment de Dilma, caso o Supremo tente tirá-lo do cargo.
‘Banho maria’. A ordem para não cutucar Cunha
e adotar a tática do “banho maria” já rachou o PT. Até agora, 32 dos 64
deputados do PT assinaram representação encabeçada pelo PSOL e pela
Rede, cobrando a cassação do presidente da Câmara. Além disso, a
corrente Mensagem ao Partido, grupo do ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, apresentará hoje um documento pedindo respaldo do PT à ação
contra Cunha.
“Os três deputados do PT no Conselho de Ética devem se
pronunciar de forma unitária, mas não vamos nos manifestar previamente a
respeito de uma questão sobre a qual Eduardo Cunha nem sequer se
defendeu ainda”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. “Como vamos
julgar quem ainda nem é réu no Supremo? Está certo que não dão esse
tratamento para nós, que somos sempre culpados até prova em contrário,
mas não faremos isso.”
Na reunião dessa quarta-feira da Executiva Nacional petista,
Falcão garantiu que o partido não está negociando com Cunha. “Quem tem
acordo com ele é a oposição, que quer dar um golpe”, afirmou.
Questionado se não temia que Cunha desse o pontapé inicial no
impeachment, o presidente do PT disse não haver base jurídica e legal
para o afastamento de Dilma. “Isso é mais um factoide que a oposição
quer criar, precipitando uma crise política na linha do quanto pior,
melhor”, reagiu.
Para o secretário de Comunicação do PT, Alberto Cantalice, o
partido terá de acompanhar o caso com cautela. “Não podemos fazer
prejulgamento do presidente da Câmara”, disse ele. “Mas se até a direita
pede a saída dele, como o PT vai ficar atrás?”, questionou o secretário
de Formação Política, Carlos Henrique Árabe.
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