Editorial do Estadão analisa a ascensão e a decadência do "modelo petista" de governar:
Dilma Rousseff reclama e cobra dos novos ministros o apoio
parlamentar que imaginou que estava comprando com a última “reforma” do
Ministério, mas parece não se dar conta da armadilha em que se meteu no
desespero para salvar seu mandato: o gigantesco aparelho estatal jamais
será suficientemente grande para saciar o apetite dos políticos espertos
que se sentem fortes para obter vantagens de um governo politicamente
fraco. E a ironia dessa situação é que ela é produto exatamente da
soberba e do autoritarismo com que o lulopetismo pretendeu eternizar-se
no poder, estimulando o fisiologismo para obter uma base de apoio
parlamentar ampla “como nunca antes na história deste país”. Funcionou
enquanto Lula e o PT, num período de prosperidade, contaram com respaldo
popular. Mas aí veio à luz, graças à incompetência de Dilma Rousseff, a
insustentabilidade do modelo populista. E, hoje, o governo que prometia
o paraíso está reduzido à humilhante condição de refém do que existe de
pior na política brasileira.
Soberba e autoritarismo. Esse o binômio que caracterizou a ascensão e
decretou a decadência do modelo lulopetista de governar. É curioso
notar que, em suas origens, aquilo que se pode chamar de núcleo gerador
do Partido dos Trabalhadores (PT) era um movimento sindical restrito à
elite do operariado industrial, os empregados da emergente e próspera
indústria automotiva, concentrada no ABC paulista. Luiz Inácio da Silva
projetou-se no panorama político nacional porque seu carisma e sua
capacidade de liderança tinham um foco muito bem definido: os interesses
da categoria especial de trabalhadores que representava. Nessa época
Lula não escondia que tinha ojeriza pela política.
O grande sucesso de sua liderança, porém, acabou atraindo a atenção
de quem tentava resistir à ditadura, em especial a intelectualidade de
esquerda e os movimentos sociais ligados à Igreja Católica. Daí ao
surgimento, em 1980, do Partido dos Trabalhadores foi um passo. Entrava
em cena, sob o comando de Lula, uma legenda partidária ungida com a
missão heroica de ser contra “tudo isso que está aí”, o que incluía
todos os políticos não petistas. Por mais de 20 anos Lula encarnou o
papel do ferrabrás da política, sempre investindo contra tudo e contra
todos. Afinal, ninguém era melhor do que ele, ninguém tinha a mesma
legitimidade para representar os pobres e os oprimidos.
Mas como só representa quem se elege, logo ficou claro que, para
chegar ao poder, era preciso fazer política, ou seja, fazer tudo aquilo
que faziam os adversários, só que melhor. A famosa Carta aos Brasileiros produziu
seus efeitos e o PT chegou ao poder. Para garantir o necessário apoio
dos “pelo menos 300 picaretas” do Congresso, bastava fazê-los comer na
mão dos novos donos do Palácio do Planalto. Afinal, quem é que,
satisfeita a necessidade de um mínimo de “atenção” do governo, ousaria
contrariar o grande líder popular ali instalado aparentemente para
sempre? E foi assim, tratando os aliados como um mal necessário,
olhando-os de cima para baixo, que a soberba petista passou a controlar o
poder com mão de ferro.
Lula escolheu para suceder-lhe um poste. Só que Dilma Rousseff se viu
não como uma marionete, mas como a nova mandachuva do sistema. Logo nos
primeiros meses de mandato sofreu um embaraçoso revertério ao ter que
recuar, por ordem do verdadeiro mandachuva, na “faxina” que tivera a
ousadia de promover num Ministério composto por gente pouco séria. Mas
não aprendeu nada com a experiência.
Ao ser reeleita, Dilma sentiu-se capaz de voo próprio. Livrou-se de
todos os lulistas tipo Gilberto Carvalho e montou um governo para chamar
de verdadeiramente seu. Achou que o título de “presidenta” lhe conferia
poder suficiente para exercer autoridade e impor sua vontade. Conseguiu
apenas mostrar sua incompetência e acabou entregando o governo em
comodato a Lula e aos capas pretas do PMDB. Pior: não resolve a crise em
que meteu o País nem dá lugar para quem de fato pode e tem competência
para tirar a Nação do buraco.
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