sábado, 14 de novembro de 2015

O direito de preferir um filho heterossexual


Por: Rodrigo Constantino

Mais um texto polêmico e longo, mas necessário. Peço que o leitor realmente deixe as habituais pedras de lado, e tente acompanhar meu raciocínio da forma mais civilizada e aberta possível. O que escrevo é uma reação ao que tenho visto por aí, cada vez mais, e que considero um dos maiores riscos modernos: o relativismo exacerbado dos “tolerantes”, que se mostra um tanto seletivo e intolerante na prática.


Antes de partir para os argumentos, um caveat: compreendo a revolta de muitos homossexuais diante do preconceito ou da homofobia, que em alguns casos acaba em agressão ou mesmo morte. Meu ponto é que o movimento gay passou do ponto, que o pêndulo exagerou para o outro lado, e que isso representa, inclusive, uma ameaça às liberdades individuais.


Tomo como base, aqui, o comentário de um leitor no tópico sobre Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos. Primeiro, ele rebate meu uso mais restrito do termo homofobia, ligado ao medo (e não à aversão), e depois conclui algo que julgo bizarro, mas sintomático dos tempos modernos. Diz ele:


Fobia: medo ou aversão…
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E sim ter uma aversão a homossexualidade te faz homofobico, preferir que seu filho não seja também, visto que tu categoriza como algo ruim. Enquanto deveria ser neutro


Se para ser considerado homobóbico basta sentir aversão a dois homens se beijando, então muita gente é homofóbica sem saber. Creio que esta flexibilização do conceito é até prejudicial aos gays, pois banaliza a verdadeira homofobia.


Uma coisa é o sujeito não suportar gays, não tolerar sua existência assumida e pública; outra, que considero bem diferente, é ele simplesmente não gostar da ideia, não desejar estar perto, ou mesmo considerar algo imoral.


Já expliquei melhor aqui o novo conceito de “tolerância” vigente no mundo, com base em ótimo livro de D.A. Carson, teólogo canadense. Esta “tolerância” moderna, que exige a aceitação plena ou a completa indiferença diante de tudo, acaba sendo um tanto intolerante.


Vejam só: a pessoa se julga a mais tolerante do mundo, pois aceita tudo e todos como eles são; mas não aceita aquele que considera o homossexualismo algo imoral ou indecente. Não está clara a contradição? Ele não está sendo intolerante com o outro?



A frase final do leitor, destacada em negrito, é o resumo da doença da atualidade: o “neutralismo” exacerbado. Todos devem ser neutros em relação a qualquer valor estético, ético ou moral, caso contrário são intolerantes, preconceituosos, reacionários, carolas, conservadores.


Quantos não andam por aí afirmando que não sou mais um liberal por emitir meus julgamentos morais ou estéticos? É uma confusão enorme de conceitos, e uma muito perigosa. O liberal não tem de ser neutro coisa alguma.


Ele é liberal pois tolera as diferenças, dentro de um limite da própria sobrevivência da liberdade e da tolerância (não se tolera nazistas organizados, e não se deveria tolerar comunistas pelo mesmo motivo: desejam destruir a própria liberdade).


Mas é evidente que a pessoa tem total direito aos seus valores morais, e nem por isso deixa de ser liberal. Voltando à questão do homossexual, claro que um pai tem pleno direito de não ser neutro e de preferir um filho heterossexual.


Isso não faz dele um reacionário, muito menos um homofóbico. Da mesma forma que ele pode ter preferência por ter um filho flamenguista em vez de vascaíno, ou pode desejar um filho médico em vez de bailarino. Quem é o antiliberal? Não é aquele que pretende se meter até nas preferências alheias?


Um pai pode perfeitamente amar seu filho gay, respeitá-lo como indivíduo e até ter orgulho dele (não por ser gay, o que faria pouco sentido lógico, e sim por ser uma pessoa decente e de caráter). Mas ele pode continuar preferindo que o filho fosse heterossexual. Não há homofobia alguma aqui.


Creio estar escrevendo o óbvio. Mas confesso ficar estarrecido com a velocidade a qual esta obviedade se dissipou. Hoje, não são poucos os que confundem liberalismo com relativismo moral e tolerância com aceitação plena – ou pior, aprovação irrestrita – de quaisquer diferenças. Isso não é liberalismo coisa alguma.


O comentário do leitor poderia ser um exagero, um caso isolado. Infelizmente, acredito que é uma tendência crescente. Cansei de receber críticas de jovens que se dizem liberais ou libertários afirmando que é um absurdo eu me considerar um liberal se digo, abertamente, que considero moralmente superior a profissão de médica a de prostituta.


Eis o ponto em que chegamos: para ser um “liberal” moderno, o pai ou o filho devem ser indiferentes, neutros, entre ter uma filha ou uma mãe médica ou prostituta. Pergunto: aonde isso vai parar? Pode o mundo preservar valores decentes com uma mentalidade dessas?


Parte da explicação do fenômeno pode ser psicológica, relacionada ao narcisismo típico dos tempos atuais. Em nome da “autoestima” de todos, da crença de que todos são “especiais”, os pais não podem mais ter o direito de desejar coisas diferentes para seus filhos, pois isso pode ameaçar seus egos (e cada vez mais o mundo é egocêntrico).


Ninguém quer a separação umbilical entre pais e filhos, pois separar é perder, e é sempre doloroso. É preciso ser uno, indivisível. Portanto, os pais não podem mais ter certas expectativas em relação a seus filhos, desejos próprios, pois isso pode magoá-los na frente, se não atenderem a tais demandas. Eis o imperativo categórico de hoje: todos somos completamente neutros em relação a nossos filhos!


Somente isso seria, na lógica vigente, respeitar as liberdades individuais. O que é, naturalmente, uma distorção e tanto, digna de uma tirania de crianças mimadas, que recusam inclusive as liberdades dos próprios pais. Não é interessante? Não por acaso esse tipo de “libertarianismo” (ou licenciosidade) costuma atrair justamente os mais jovens.


Retorno ao caso do filho gay para fechar. Quem duvida que um homossexual pode ser uma ótima pessoa, cheia de valores e com bom caráter? Conheço alguns que se mostram infinitamente melhores do que muito machão por aí, e têm meu respeito ou minha admiração.


Mas que bem faremos a eles se negarmos o direito de outros não apreciarem homem com homem, se chamarmos qualquer coisa de homofobia, se colocarmos os interesses do movimento gay acima das liberdades individuais, que incluem o direito de não gostar de gays? Quem estaria sendo o intolerante nessa história?


Rodrigo Constantino

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