Política
Opinião / Matheus Pichonelli
Carta Capital
Com denúncias e condenações envolvendo os seus
partidos, candidatos tendem a manter a cautela e preservar as pedras e
as vidraças
por Matheus Pichonelli
—
publicado
19/02/2014 14:42
Piero Locatelli
A depender do noticiário das últimas semanas, PT e
PSDB terão motivos de sobra para iniciar a eleição deste ano com cautela
em relação às frequentes acusações de um contra o outro.
De um lado, está na memória recente do eleitor a imagem da prisão dos condenados no “mensalão” e a demissão de sete ministros no início do governo Dilma Rousseff por suspeita de corrupção, entre eles Antonio Palocci (Casa Civil). Em outros tempos, o tema seria munição farta para opositores.
Desta vez, tudo leva a crer que será tratado como uma espécie de botão vermelho ao qual se recorre apenas em último caso.
A tendência é que segurem as pedras para preservar suas vidraças.
Isso porque, do outro lado, o pré-candidato Aécio Neves (PSDB) deve subir ao palanque ancorado nas recentes denúncias contra correligionários tucanos. A principal delas acaba de estourar em seu quintal, Minhas Gerais. No segundo maior colégio eleitoral do País, o ex-governador Eduardo Azeredo acaba de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República no chamado “mensalão tucano”.
Ele é suspeito de participação no esquema que serviu de molde ao “mensalão” petista: as empresas do publicitário Marcos Valério levantavam dinheiro para a campanha e, em troca, ganhavam contratos para prestação de serviços supostamente forjados com estatais mineiras.
Uma semana depois, em São Paulo, a Justiça Federal decidiu abrir ação criminal contra 11 réus suspeitos de participar de um esquema de suborno da multinacional francesa Alstom.
O processo mina o terreno tucano no maior colégio eleitoral do País, justamente o estado em que estão há mais tempo no poder (20 anos).
Segundo o Ministério Público, a empresa francesa pagou 23,3 milhões de reais aos acusados para conseguir um contrato para fornecer equipamentos a três subestações de energia da Eletropaulo e da Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE).
O contrato, de 181,3 milhões de reais, foi assinado em 1998, durante o governo Mario Covas. A suspeita é que, com o suborno, a Eletropaulo e a EPTE conseguiram driblar a necessidade de uma nova licitação com o aditivo de um contrato firmado em 1983.
São réus do processo, entre outros, o ex-presidente da Cesp José Geraldo Villas Boas e o ex-presidente da EPTE José Sidnei Colombo Martini.
Eles negam a participação no esquema.
Diferentemente do caso mineiro, a denúncia não cita figurões tucanos, mas o juiz do caso ordenou a abertura de um novo inquérito para apurar o suposto envolvimento do vereador paulistano Adrea Matarazzo, ex-secretário estadual de Energia e ex-homem forte de José Serra na Prefeitura de São Paulo.
Quem também é investigado, mas no Superior Tribunal de Justiça, devido à prerrogativa de foro, é o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Robson Marinho, principal secretário do governo Covas. Uma conta atribuída a ele está bloqueada na Suíça.
O dinheiro (cerca de 1 milhão de dólares), segundo a investigação, tinha como origem o caixa da Alstom.
Pesa contra os tucanos também o avanço das investigações sobre o cartel no metrô, no qual ao menos 19 empresas, entre elas a Siemens, fizeram acordos para garantir contratos superfaturados em até 30% do valor dos contratos para operar o sistema público de transporte em São Paulo.
No início da semana, despachos divulgados pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo mostraram que a estatal paulista CPTM gastou, durante a gestão do então governador José Serra, cerca de 2 bilhões de reais para comprar 48 trens em 2008 e 2009 sem fazer pesquisa de preços, uma exigência da lei de licitações.
Em depoimento à Polícia Federal, um alto executivo da Siemens na Alemanha já declarou que parte dos 7 milhões de dólares de uma conta no paraíso fiscal de Luxemburgo atribuída a Adilson Primo, seu ex-presidente no Brasil, pode ter sido usada para pagar propina a agentes públicos brasileiros.
Outro diretor da companhia alemã, Everton Rheinheimer, afirmou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que possui "documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra”.
O objetivo, segundo declarou, era o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM.
Soma-se às suspeitas o fato de que antigos aliados tucanos também ficaram sem discurso após a revelação de outros escândalos, caso do ex-senador Demóstenes Torres (DEM), antigo paladino dos bons modos do Congresso envolvido até a espinha com o contraventor Carlinhos Cachoeira, um municiador notório de ataques a adversários comuns.
Com tanta suspeita rondando o partido e seus aliados, não será de se estranhar que tucanos e petistas tenham reservas para disparar o primeiro petardo ao longo da eleição – seja nos principais estados, sejam na corrida presidencial.
Ambos são alvo de manifestantes desde junho. Ambos são criticados pela benevolência com empreendimentos privados para tirar a Copa do Mundo na cartola.
E ambos devem evitar confrontos pelo monopólio da ética. Ao menos no sistema de jogo, os dois principais partidos do País devem iniciar o embate em situações parecidas, com a defesa reforçada e cautela para evitar contra-ataques.
Resta saber se a dupla Eduardo Campos e Marina Silva, até ontem aliados da estrutura agora contraposta, quebrará o silêncio até agora desenhado para colocar o assunto, incômodo aos rivais, à mesa.
De um lado, está na memória recente do eleitor a imagem da prisão dos condenados no “mensalão” e a demissão de sete ministros no início do governo Dilma Rousseff por suspeita de corrupção, entre eles Antonio Palocci (Casa Civil). Em outros tempos, o tema seria munição farta para opositores.
Desta vez, tudo leva a crer que será tratado como uma espécie de botão vermelho ao qual se recorre apenas em último caso.
A tendência é que segurem as pedras para preservar suas vidraças.
Isso porque, do outro lado, o pré-candidato Aécio Neves (PSDB) deve subir ao palanque ancorado nas recentes denúncias contra correligionários tucanos. A principal delas acaba de estourar em seu quintal, Minhas Gerais. No segundo maior colégio eleitoral do País, o ex-governador Eduardo Azeredo acaba de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República no chamado “mensalão tucano”.
Ele é suspeito de participação no esquema que serviu de molde ao “mensalão” petista: as empresas do publicitário Marcos Valério levantavam dinheiro para a campanha e, em troca, ganhavam contratos para prestação de serviços supostamente forjados com estatais mineiras.
Uma semana depois, em São Paulo, a Justiça Federal decidiu abrir ação criminal contra 11 réus suspeitos de participar de um esquema de suborno da multinacional francesa Alstom.
O processo mina o terreno tucano no maior colégio eleitoral do País, justamente o estado em que estão há mais tempo no poder (20 anos).
Segundo o Ministério Público, a empresa francesa pagou 23,3 milhões de reais aos acusados para conseguir um contrato para fornecer equipamentos a três subestações de energia da Eletropaulo e da Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE).
O contrato, de 181,3 milhões de reais, foi assinado em 1998, durante o governo Mario Covas. A suspeita é que, com o suborno, a Eletropaulo e a EPTE conseguiram driblar a necessidade de uma nova licitação com o aditivo de um contrato firmado em 1983.
São réus do processo, entre outros, o ex-presidente da Cesp José Geraldo Villas Boas e o ex-presidente da EPTE José Sidnei Colombo Martini.
Eles negam a participação no esquema.
Diferentemente do caso mineiro, a denúncia não cita figurões tucanos, mas o juiz do caso ordenou a abertura de um novo inquérito para apurar o suposto envolvimento do vereador paulistano Adrea Matarazzo, ex-secretário estadual de Energia e ex-homem forte de José Serra na Prefeitura de São Paulo.
Quem também é investigado, mas no Superior Tribunal de Justiça, devido à prerrogativa de foro, é o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Robson Marinho, principal secretário do governo Covas. Uma conta atribuída a ele está bloqueada na Suíça.
O dinheiro (cerca de 1 milhão de dólares), segundo a investigação, tinha como origem o caixa da Alstom.
Pesa contra os tucanos também o avanço das investigações sobre o cartel no metrô, no qual ao menos 19 empresas, entre elas a Siemens, fizeram acordos para garantir contratos superfaturados em até 30% do valor dos contratos para operar o sistema público de transporte em São Paulo.
No início da semana, despachos divulgados pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo mostraram que a estatal paulista CPTM gastou, durante a gestão do então governador José Serra, cerca de 2 bilhões de reais para comprar 48 trens em 2008 e 2009 sem fazer pesquisa de preços, uma exigência da lei de licitações.
Em depoimento à Polícia Federal, um alto executivo da Siemens na Alemanha já declarou que parte dos 7 milhões de dólares de uma conta no paraíso fiscal de Luxemburgo atribuída a Adilson Primo, seu ex-presidente no Brasil, pode ter sido usada para pagar propina a agentes públicos brasileiros.
Outro diretor da companhia alemã, Everton Rheinheimer, afirmou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que possui "documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra”.
O objetivo, segundo declarou, era o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM.
Soma-se às suspeitas o fato de que antigos aliados tucanos também ficaram sem discurso após a revelação de outros escândalos, caso do ex-senador Demóstenes Torres (DEM), antigo paladino dos bons modos do Congresso envolvido até a espinha com o contraventor Carlinhos Cachoeira, um municiador notório de ataques a adversários comuns.
Com tanta suspeita rondando o partido e seus aliados, não será de se estranhar que tucanos e petistas tenham reservas para disparar o primeiro petardo ao longo da eleição – seja nos principais estados, sejam na corrida presidencial.
Ambos são alvo de manifestantes desde junho. Ambos são criticados pela benevolência com empreendimentos privados para tirar a Copa do Mundo na cartola.
E ambos devem evitar confrontos pelo monopólio da ética. Ao menos no sistema de jogo, os dois principais partidos do País devem iniciar o embate em situações parecidas, com a defesa reforçada e cautela para evitar contra-ataques.
Resta saber se a dupla Eduardo Campos e Marina Silva, até ontem aliados da estrutura agora contraposta, quebrará o silêncio até agora desenhado para colocar o assunto, incômodo aos rivais, à mesa.
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