Aluno de 16 anos teria levado arma e atirado contra desafeto
Isa Stacciarini
isa.coelho@jornaldebrasilia.com.br
Um episódio de violência expõe a fragilidade da segurança nas proximidades das instituições públicas de ensino.
Um aluno do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Caseb, K., 14 anos, foi atingido por um tiro nas costas, nas imediações da escola.
Dois adolescentes foram apreendidos: J., 16 anos, que teria confessado o ato, e um outro menor que estava com ele no momento do disparo.
O suposto autor é um estudante do mesmo colégio, morador de São Sebastião.
Já a vítima reside no bairro de Arapoangas, em Planaltina. Segundo relatos de familiares do suspeito, os jovens já tinham discutido antes.
Um tio dele conta que, no dia anterior ao ato, K. teria entrado em luta corporal com o menor, dentro da escola, para tentar pegar o colar que ele usava. K. estaria armado com uma faca. Por conta disso, no dia seguinte, J. teria decidido levar a arma para a escola, e usá-la em legítima defesa.
O menor atirou duas vezes contra o desafeto, por volta das 12h40 de ontem.
Uma das balas atingiu um muro da escola. A outra feriu o adolescente, que foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros.
No Hospital de Base, a vítima passou por cirurgia no abdômen para analisar supostas lesões internas ou hemorragia. Seu estado de saúde é estável.
Local exato
A Secretaria de Educação afirma que os tiros aconteceram fora da escola. Mas alunos garantem que tudo aconteceu no pátio externo do colégio, em frente a um estacionamento privado.
Segundo os adolescentes, o suspeito pelos disparos faz parte de uma gangue e a vítima seria considerada rival do grupo. Quando o tiro foi dado, pelo menos dois rapazes estariam juntos, mas somente um apertou o gatilho do revólver calibre 38.
Alguns estudantes que trocavam de turno viram quando K. foi baleado. Uma aluna explica que a vítima ainda correu para procurar ajuda. “Ele entrou na escola para chamar a namorada e pedir socorro.
Não conheço quem atirou, mas parece que a vítima já tinha xingado o menino que fez os disparos”, aponta. Outra estudante da mesma idade conta que as discussões entre os dois já aconteciam há algumas semanas.
“O menino falava que a vítima se intrometia na gangue dele”, disse.
A arma foi encontrada por um comerciante a aproximadamente 200 metros da escola. E., 46 anos, passava na hora em que os suspeitos corriam em direção à 509 Sul.
“Na hora que olhei os meninos correndo, mudei de calçada e quando percebi que um deles tinha atirado um objeto no chão, achei que fosse uma bombinha”, explica.
Ao saber que um aluno da escola tinha sido baleado, E. foi procurar o que tinha sido jogado na grama. “Quando meu amigo do trabalho me contou, eu voltei para tentar ver o que era o objeto jogado fora.
Encontrei essa arma e liguei para a polícia”, relata.
Versão Oficial
A Secretaria de Educação esclarece que o caso aconteceu pouco
antes do início do turno vespertino, ao lado de fora da escola. A pasta
afirma está acompanhando o caso diretamente, tanto na escola quanto no
Hospital de Base.
Além disso, segundo o órgão, o Caseb conta com um polo do Batalhão Escolar e está inserido em projetos que trabalham a política de paz nas escolas, segurança, atividades artísticas e culturais.
Além disso, segundo o órgão, o Caseb conta com um polo do Batalhão Escolar e está inserido em projetos que trabalham a política de paz nas escolas, segurança, atividades artísticas e culturais.
Vistoria na escola não é frequente
O subtenente da PM Marcelo Gonçalves explica que há um polo de
policiamento fixo dentro da escola. “Aparentemente o crime foi uma rixa.
Na hora havia dois militares dentro no colégio que costumam fazer vistorias nos alunos dentro de sala de aula”, garante. Segundo o policial, no horário vespertino seria feita uma varredura nas mochilas dos alunos.
Na hora havia dois militares dentro no colégio que costumam fazer vistorias nos alunos dentro de sala de aula”, garante. Segundo o policial, no horário vespertino seria feita uma varredura nas mochilas dos alunos.
No entanto, o subtenente reconhece que as vistorias não são feitas
diariamente. “A gente faz a varredura esporadicamente, mas hoje (ontem) o
trabalho seria feito na parte da tarde. O aluno suspeito de ter atirado
é um estudante recém-chegado no colégio”, diz.
Mesmo com o ocorrido, os alunos da escola ainda tiveram aula até as
16h15. A regional de ensino e a diretora da escola não quiseram se
pronunciar sobre o caso.
Susto e revolta
Quem ouviu os dois disparos de muito perto se assustou. Foi o caso
da dona de casa que se identificou apenas como Maria do Socorro, de 34
anos. Ela andava com o marido pela calçada próxima à escola quando
percebeu os disparos.
“As pessoas que estavam ali próximo inclusive se
abaixaram e meu marido, que é segurança, disse que o barulho era de tiro
mesmo. Depois a gente viu dois meninos descendo correndo de jaqueta
branca. Fiquei com medo”, confessa.
Um pai de dois alunos do Centro de Ensino Fundamental Caseb, de 15 e
16 anos, se revoltou com o caso. O comerciante Pablo Lima, 40 anos,
explica que os filhos foram assaltados no início da semana próximo à
escola.
Segundo o pai, os estudantes vão sair do colégio.
Segundo o pai, os estudantes vão sair do colégio.
“Nossos filhos
ficam jogados às traças dentro da escola e a direção não dá um
esclarecimento concreto. E a vida dos nossos meninos, como fica? Eles
são alunos ameaçados dentro da própria escola. Isso é desesperador e
revoltante”, lamenta.
Os filhos de Pablo foram transferidos para o colégio no ano letivo
de 2014. Ele conta que registrou ocorrência do roubo na 1ªDP no início
da semana, mas não teve resposta da polícia nem da direção da escola.
“Em 2014 meus filhos não estudam mais aqui. O Caseb tinha fama de ser uma boa escola, mas há relatos de que alunos fumam maconha dentro do colégio. Os adolescentes metem bala sem dó porque têm a certeza que nada vai acontecer com eles”, explica.
“Em 2014 meus filhos não estudam mais aqui. O Caseb tinha fama de ser uma boa escola, mas há relatos de que alunos fumam maconha dentro do colégio. Os adolescentes metem bala sem dó porque têm a certeza que nada vai acontecer com eles”, explica.
Indagação
“Sou um pai revoltado com a falta de segurança nas escolas públicas. Até quando isso vai acontecer?”, questiona.
Ponto de vista
O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de
Ensino do DF (Aspa-DF), Luis Cláudio Megiorin, destaca que o Caseb foi a
primeira escola a receber o polo de policiamento, em agosto do ano
passado.
Segundo o especialista, o colégio inaugurou o programa por
causa dos constantes índices de violência. Para Megiorin, os casos de
criminalidade nas escolas da rede pública se referem à onda de violência
que atinge as ruas.
“O sistema de internação de adolescentes
infratores está falido. Ao invés de o Estado investir em melhorar as
unidades, o que está sendo feito é abrandar as penas”, aponta.
Megiorin destaca que há a informação de o suspeito dos disparos já estar envolvido em casos de furtos de celulares na escola.
Megiorin destaca que há a informação de o suspeito dos disparos já estar envolvido em casos de furtos de celulares na escola.
Arma encontrada
No tambor do revólver, cinco munições ainda estavam intactas. A
arma comporta sete projéteis. PMs do Batalhão Escolar foram chamados e
recolheram o objeto, que foi levado para a Polícia Civil.
A perícia foi
feita no local, pela Polícia Civil, ainda no início da tarde de ontem. A
arma encontrada no gramado foi apreendida por equipes da 1ªDP (Asa
Sul), onde a ocorrência foi registrada, mas depois o caso passou para a
Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário