Blog do Aluizio Amorim
Por Nilson Borges Filho (*)
Embora
seja improvável a candidatura do presidente do STF, ministro Joaquim
Barbosa, à presidência da República, nem por isso o desconforto deixou
de existir nos gabinetes do Palácio do Planalto.
Barbosa falou demais
quando desprezou o sistema partidário brasileiro, chamando-o de
“partidos de mentirinha”.
Pior: o ministro não abriu exceção. Colocou
todas as siglas no mesmo saco. A rigor, Barbosa não está errado, pois
ideologia e ações programáticas passam ao largo dos 39 partidos
existentes.
E a melhor maneira para saber se existe diferença entre os
partidos basta coloca-los no poder.
No
Brasil nenhum partido surgiu da sociedade civil, todos, mesmo o PT,
foram criados dentro da estrutura do Estado.
Lula deu início ao PT a
partir das organizações sindicais e de intelectuais de esquerda
instalados nos laboratórios das universidades públicas.
Formaram o bolo
da “esquerda caviar” artistas e frações da classe média deslumbrada.
À
época era – como dizer? – chiquérrimo ser petista nos bares da orla sul
do Rio de Janeiro e ou dos Jardins de São Paulo. Hoje não mais, a
classe média acha de extremo mau gosto ser petista, principalmente
depois que estourou a bandalheira do mensalão.
O
Lula barbudo cultuado na década dos 80 por essa gente de bons hábitos se
transformou no semianalfabeto, metido em ternos caros, que está se
achando.
Lula perdeu o glamour do guevarismo de botequim e passou a ser o alter ego da turma do bolsa-família, da classe média de baixa renda e de empresários bajuladores e espertos
.
Lula perdeu o glamour do guevarismo de botequim e passou a ser o alter ego da turma do bolsa-família, da classe média de baixa renda e de empresários bajuladores e espertos
.
O Lulinha paz e amor de antes é
hoje, para a turma do andar de cima, aquele homenzinho vulgar nas
palavras, no comportamento e na escolha das “rosemarys”.
As
pesquisas endossam a tese de que depois desses doze anos o lulo-petismo
perdeu o prazo de validade e que já se percebe fadiga de material.
Os
bem-nascidos viraram a cara para o petismo, mas não sabem para onde ir.
As opções colocadas no cenário para o pleito deste ano ainda não
emplacaram.
É nesse vácuo que aparece a figura de Joaquim Barbosa, “o justiceiro” que colocou gente poderosa na cadeia, desde políticos estrelados e corruptos a banqueiros vigaristas.
O povão adorou: a cadeia
agora é para todos. A classe média bem-nascida encontrou o seu herói do
dia: o implacável.
Nas
mídias surgem os defensores da candidatura de Barbosa à presidência. Os
exaltados, com certa acidez e uma ponta de preconceito proclamam:
“elegemos um analfabeto, depois uma mulher e agora chegou a vez de um
negro”. Como se a cor e o gênero de um governante fossem critérios
válidos para ser um estadista.
O
medo da candidatura de Barbosa deve-se principalmente porque o ministro
dialoga diretamente com as ruas, sem necessidade de passar pela
intermediação de um partido político.
Forçando a mão, alguns analistas
políticos trazem para o debate o fenômeno Jânio Quadros dos anos 60 para
enquadrar a candidatura de Joaquim Barbosa como um outsider da política
nacional.
Bobagem. Com um sistema de presidencialismo de coalizão, a
eleição de um presidente descompromissado com partidos políticos pode
levar o país a um processo sem volta de ingovernabilidade. Melhor um
Congresso podre do que Congresso nenhum.
Portanto,
cabem a Aécio Neves e Eduardo Campos conseguir que os 61% dos que não
aprovam o governo de Dilma Rousseff se encantem com suas candidaturas.
Existe no imaginário popular uma possibilidade mudancista.
Resta saber
se a oposição está qualificada para assumir esse compromisso.
Do jeito que está, dizem os brasileiros que pensam, não dá para continuar: inflação,
juros na altura,
o setor produtivo patinando,
uma carga tributária obscena,
as contas públicas sem controle,
o mercado nervoso,
uma política externa de canteiro de obra,
violência nas ruas e no campo,
desrespeito ao Estado de direito,
insegurança jurídica,
grupelhos de vândalos se apossando das ruas,
um governo medíocre e predatório,
um legislativo vendido,
um judiciário aparelhado e
uma presidente completamente despreparada para o cargo que não consegue juntar três palavras com algum sentido.
Esse é o quadro do Brasil de hoje que, se
mantido, pode ainda piorar. Chegamos ao fundo do poço.
É o horror.
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito e colaborador deste blog.
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