sábado, 1 de março de 2014

QUEM TEM MEDO DE JOAQUIM BARBOSA?

Blog do Aluizio Amorim

Por Nilson Borges Filho (*)

Embora seja improvável a candidatura do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, à presidência da República, nem por isso o desconforto deixou de existir nos gabinetes do Palácio do Planalto. 

Barbosa falou demais quando desprezou o sistema partidário brasileiro, chamando-o de “partidos de mentirinha”. 

Pior: o ministro não abriu exceção. Colocou todas as siglas no mesmo saco. A rigor, Barbosa não está errado, pois ideologia e ações programáticas passam ao largo dos 39 partidos existentes. 

E a melhor maneira para saber se existe diferença entre os partidos basta coloca-los no poder.

No Brasil nenhum partido surgiu da sociedade civil, todos, mesmo o PT, foram criados dentro da estrutura do Estado. 

Lula deu início ao PT a partir das organizações sindicais e de intelectuais de esquerda instalados nos laboratórios das universidades públicas. 

Formaram o bolo da “esquerda caviar” artistas e frações  da classe média deslumbrada. 

À época era – como dizer? – chiquérrimo ser petista nos bares da orla sul do Rio de Janeiro e ou  dos Jardins de São Paulo. Hoje não mais, a classe média acha de extremo mau gosto ser petista, principalmente depois que estourou a bandalheira do mensalão.

O Lula barbudo cultuado na década dos 80 por essa gente de bons hábitos se transformou no semianalfabeto, metido em ternos caros, que está se achando. 

Lula perdeu o glamour do guevarismo de botequim e passou a ser o alter ego da turma do bolsa-família, da classe média de baixa renda e de empresários bajuladores e espertos

O Lulinha paz e amor de antes é hoje, para a turma do andar de cima, aquele homenzinho vulgar nas palavras, no comportamento e na escolha das “rosemarys”.

As pesquisas endossam a tese de que depois desses doze anos o lulo-petismo perdeu o prazo de validade e que já se percebe fadiga de material. 

Os bem-nascidos viraram a cara para o petismo, mas não sabem para onde ir. As opções colocadas no cenário para o pleito deste ano ainda não emplacaram. 


É nesse vácuo que aparece a figura de Joaquim Barbosa, “o justiceiro” que colocou gente poderosa na cadeia, desde políticos estrelados e corruptos a banqueiros vigaristas. 

O povão adorou: a cadeia agora é para todos. A classe média bem-nascida encontrou o seu herói do dia: o implacável.

Nas mídias surgem os defensores da candidatura de Barbosa à presidência. Os exaltados, com certa acidez e uma ponta de preconceito proclamam: “elegemos um analfabeto, depois uma mulher e agora chegou a vez de um negro”. Como se a cor e o gênero de um governante fossem critérios válidos para ser um estadista.

O medo da candidatura de Barbosa deve-se principalmente porque o ministro dialoga diretamente com as ruas, sem necessidade de passar pela intermediação de um partido político.

Forçando a mão, alguns analistas políticos trazem para o debate o fenômeno Jânio Quadros dos anos 60 para enquadrar a candidatura de Joaquim Barbosa como um outsider da política nacional. 

Bobagem. Com um sistema de presidencialismo de coalizão, a eleição de um presidente descompromissado com partidos políticos pode levar o país a um processo sem volta de ingovernabilidade. Melhor um Congresso podre do que Congresso nenhum.

Portanto, cabem a Aécio Neves e Eduardo Campos conseguir que os 61% dos que não aprovam o governo de Dilma Rousseff se encantem com suas candidaturas. Existe no imaginário popular uma possibilidade mudancista. 
Resta saber se a oposição está qualificada para assumir esse compromisso.


Do jeito que está, dizem os brasileiros que pensam, não dá para continuar: inflação, 


juros na altura, 
o setor produtivo patinando, 
uma carga tributária obscena, 
as contas públicas sem controle, 
o mercado nervoso, 
uma política externa de canteiro de obra,
violência nas ruas e no campo, 
 desrespeito ao Estado de direito, 
insegurança jurídica, 
grupelhos de vândalos se apossando das ruas, 
um governo medíocre e predatório, 
um legislativo vendido, 
um judiciário aparelhado e 
uma presidente completamente despreparada para o cargo que não consegue juntar três palavras com algum sentido.

Esse é o quadro do Brasil de hoje que, se mantido, pode ainda piorar. Chegamos ao fundo do poço. 

É o horror.
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito e colaborador deste blog.

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