Enquanto não houver educação para as massas, repartição do espaço publico= vandalismo, pichação, sujeira, destruição, barulho e criminalidade
Administrador de Brasília rejeita rótulo de cidade violenta e defende a democratização dos espaços públicos Dono de uma voz mansa e pausada, Messias de Souza fala de Brasília
com paixão. Administrador da cidade desde 2011, ele sonha em ver a
cidade abraçar uma nova fase mais cosmopolita – com opções de lazer
abertas até depois da meia-noite, espaços públicos democratizados e
infraestrutura adequada para receber os moradores das cidades
dormitório. Enfim, uma Brasília mais viva e aberta à diversidade
cultural e humana.
Pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB, Souza se prepara para
deixar o cargo em abril. Mas antes, concedeu entrevista exclusiva à
revista
Plano Brasília, onde fez questão de defender a imagem da
cidade – citada em um guia elaborado pelo governo francês como um lugar
violento e propenso a sequestros relâmpagos.
"Esses fenômenos de violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também
ocorrem em Paris", argumenta. "O que eu gostaria de deixar claro é que
esses índices de sequestro relâmpago têm caído no Distrito Federal. Mas
estamos com a imagem prejudicada porque houve uma grande exposição
midiática, neste início de ano, por causa de alguns episódios que
envolveram a classe média".
Segundo o administrador, a sociedade deveria encarar a questão da
violência com mais seriedade e de forma permanente, em vez de se
preocupar com ela somente quando morre alguém da classe dominante. "A
única maneira de combater essa violência é reduzindo a desigualdade
social. Temos de ampliar o acesso à educação e à saúde, além de melhorar
da renda das pessoas para diminuir a desigualdade e reduzir os
conflitos entre as diferentes classes sociais. Não adianta combater a
violência com novas leis e mais polícia", finaliza.
DIREITOS HUMANOS
Messias de Souza veio para Brasília em 1985, para trabalhar como
assessor na Assembleia Nacional Constituinte. O convite foi decorrência
de seu trabalho na defesa pela anistia de presos e exilados políticos.
Apaixonado por política e por direitos humanos, esse alagoano – formado
em Direito – acabou se apaixonando pela cidade. Tanto que decidiu ficar.
Aqui, Souza fez carreira e criou seus três filhos. E, justamente por
isso, não aceita ver a imagem da juventude candanga atrelada à
violência.
"Em vez de colocar um rótulo em nossos jovens, devíamos estimular
esse grupo a desenvolver todo o seu potencial criativo. Seria mais
produtivo tanto para eles quanto para o restante da sociedade",
argumenta. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista realizada com o
administrador da cidade.
Plano Brasília: Faltam menos de 100 dias para a Copa do Mundo. Como Brasília está se preparando para o evento?
Messias de Souza: O governo local está fazendo obras de
mobilidade urbana, melhorando a infraestrutura de turismo e de hotelaria
da cidade para melhor receber o turista. Já iniciamos a colocação de
placas de identificação nos principais monumentos, em mais de uma
língua, para que os estrangeiros possam se localizar melhor na cidade.
Também estamos mapeando os roteiros de interesse turístico e revitalizar
a iluminação dos espaços públicos. Na Esplanada, por exemplo, estamos
iniciando a instalação de uma nova iluminação a led, que vai
permitir às pessoas circular com mais tranquilidade no local durante a
noite. Então, temos obras que estão sendo feitas para o evento, mas que
irão beneficiar permanentemente os moradores da cidade.
PB: Semana passada, o governo francês lançou um cartilha sobre os
cuidados que seus cidadãos devem ter ao vir ao Brasil. Nessa publicação,
existe um alerta sobre Brasília, apresentada aos franceses como uma
cidade com alto risco de sequestros relâmpagos. Como o senhor vê isso?
"Em todas as grandes cidades do mundo as pessoas precisam
observar questões de segurança. Não é só no Brasil. Esses fenômenos de
violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também ocorrem em Paris".
Messias de Souza
MS: Em todas as grandes cidades do mundo as pessoas precisam
observar questões de segurança. Não é só no Brasil. Esses fenômenos de
violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também ocorrem em Paris. Quando
a violência acontece só na periferia, comenta-se muito pouco e a mídia
nem se interessa em divulgar. Acho que a sociedade precisava encarar
essa questão com mais seriedade e de forma permanente, em vez de se
preocupar com ela somente quando morre alguém da classe dominante. O
fato é que a sociedade brasileira é desigual e essa desigualdade provoca
violência. E a única maneira de combater essa violência é reduzindo
essa desigualdade. Temos de ampliar o acesso à educação e à saúde, além
de melhorar da renda das pessoas para diminuir a desigualdade e reduzir
os conflitos entre as diferentes classes sociais. Não adianta combater a
violência com novas leis e mais polícia.
PB: Na semana passada, dois jovens espancaram um professor de
educação física no Pier 21. E não podemos esquecer do assassinato do
índio Galdino e do estudante Marco Antônio Velasco. Afinal, o jovem de
Brasília é mais violento que os jovens de outras capitais?
"Em vez de colocar um rótulo em nossos jovens, devíamos estimular esse grupo a desenvolver todo o seu potencial criativo".
Messias de Souza
MS: Não devemos atribuir à juventude, como um todo, uma
violência que está restrita a um segmento dos jovens. A maioria dos
nossos jovens têm aspirações próprias da idade. Eles buscam desenvolver
atividades culturais e esportiva, querem empreender, trabalhar. Existem,
é claro, casos isolados de violência juvenil. E quanto mais consciência
e mais debates forem realizados em torno do assunto, melhor o
enfrentamento dessas questões. Só acho que, em vez de colocar um rótulo
em nossos jovens, devíamos estimular esse grupo a desenvolver todo o seu
potencial criativo. Seria mais produtivo tanto para eles quanto para o
restante da sociedade.
PB: Essa não é uma visão dominante na cidade. No início do ano, o
Shopping Iguatemi fechou as portas com medo dos jovens que agendaram um
rolezinho. O que o senhor achou dessa atitude?
MS: Eu acho que foi uma atitude precipitada. Não se deve
tratar um problema pelos seus efeitos, mas sim por suas causas. O
fenômeno do rolezinho precisa ser debatido junto à própria juventude,
porque ele demonstra que uma parte dessa geração sente-se excluída dos
grandes centros de consumo. Ao agendar um rolezinho, esses jovens estão
reivindicando o direito de transitar e de se reunir em shoppings, como
qualquer outro jovem da sua idade. Em vez de proibir o rolezinho, melhor
seria criar condições para esse público se manifestar e se divertir.
Colocando-os para fora dos shoppings, cola-se um rótulo de marginalidade
nesses jovens que não é saudável.
PB: O senhor falou que a iluminação da Esplanada está sendo modificada para a Copa. Mas ela ainda parece muito escura....
MS: As obras ainda não terminaram. A Esplanada está passando
por um processo de reposição de iluminação. Estamos substituindo as
lâmpadas atuais por lâmpadas de led. Acredito que seja o melhor projeto
de iluminação já feito no local. A obra já foi feita em um primeiro
trecho, que vai do Memorial JK até a antiga Rodoferroviária. E, até a
Copa, ela será expandida a toda a Esplanada dos Ministérios. Além disso,
também faremos um novo projeto de iluminação decorativa dos monumentos
da cidade, que ressaltará as formas dos nossos monumentos.
PB: Mas existem muitas zonas no Plano Piloto sem iluminação noturna.
A administração de Brasília tem recebido alguma reclamação nesse
sentido?
MS: Sim, temos recebido. Nós montamos, inclusive, um grupo de
monitoramento para fazer o mapeamento de todas as áreas escuras do Plano
Piloto. E, infelizmente, são muitas. Algumas áreas verdes são escuras
porque não têm rede elétrica. Em outras, essas redes se degradaram ao
longo do tempo e precisam ser refeitas. Nós, da Administração, quando
vemos que tem lâmpadas queimadas, enviamos à CEB para que façam a
reposição. Quando tem problema de ampliação de rede, solicitamos que
eles tomem providência... Mas os problemas ainda existem. É fato que,
até 2010, a CEB estava sucateada. O governo passou três anos investindo
na recuperação financeira da companhia e no fortalecimento de sua
estrutura para poder atender melhor à população. Agora, a situação
começa a mudar. Recentemente, inauguramos uma nova subestação de
energia, perto do Mané Garrincha, para atender a Asa Norte. Mas até para
fazer isso tivemos problemas. A área central de Brasília é tombada pelo
Patrimônio Histórico, então a CEB não pode construir subestações
pensando apenas nas necessidades operacionais de cada região. Ela
precisa estudar se a obra não vai afetar o projeto urbanístico original
da cidade. Como você pode ver, não é tão simples fazer obras de
melhoria aqui, na capital.
PB: Já que o senhor falou em obras, qual é a sua opinião sobre as
recentes manifestações contrárias à construção de uma creche na Asa Sul?
MS: Existe uma polarização de opiniões na cidade. Algumas
pessoas acham que os espaços públicos têm de ser usufruto exclusivo dos
moradores de uma quadra. Outros, querem que esses espaços sejam
utilizados por todos, de forma democrática. No início do ano, os
moradores de uma quadra entraram com uma ação na Justiça para embargar a
construção de uma creche. Como eles não têm filhos pequenos ou
matricularam suas crianças em escolas privadas, não enxergam a
necessidade de se construir uma escola no local. Mas eu me pergunto: e
as pessoas que precisam dessas creches para colocar seus filhos?
Brasília é uma metrópole. Não pode ter escola só para quem mora na
cidade, mas também para quem converge todos os dias para trabalhar, aqui
no Plano Piloto. Nosso papel, como administrador, foi o de
intermediação do conflito entre os moradores e a Secretaria de Educação. Por isso, convocamos uma reunião com as lideranças da quadra e com
representantes da Secretaria de Educação. Segundo o órgão, existe uma
demanda reprimida na Asa Sul por uma creche pública. Necessidade aferida
pelo telematrícula e por pesquisas da Companhia de Planejamento do DF
(Codeplan). O espaço escolhido para obra respeita o projeto urbanístico
da cidade e já estava reservado à construção de uma escola de ensino
fundamental. Mesmo assim, alguns moradores entraram com uma ação na
Justiça. No momento, estamos prestando todas as informações técnicas
necessárias para que a Justiça tome sua decisão. À nós, da Administração
de Brasília, cabe a aprovação e a fiscalização do projeto em relação às
questões de urbanismo. E esses aspectos de urbanismo, na nossa opinião,
estão bem equacionados.
PB: Outra briga pelo uso do espaço público está acontecendo no Lago Norte. É verdade que os moradores querem cercar o calçadão?
MS: Na verdade, os moradores do Lago Norte têm reclamado do
barulho que se faz no calçadão de madrugada. E, de fato, às vezes
ocorrem barulhos excessivos, que precisam ser evitados. O problema é que
esses moradores estão confundindo esse barulho ilegal com o de algumas
festas regulares, autorizadas e licenciadas, que estão ocorrendo no
calçadão. Em relação a essas festas, não tem como elas deixarem de
existir. Brasília é uma cidade viva e o calçadão foi feito justamente
para democratizar o acesso ao Lago Paranoá, que está sendo ilegalmente
privatizado pelas mansões e pelos clubes. Nossa intenção, com a
construção do calçadão, foi justamente ampliar o acesso da população ao
Lago Paranoá. Mas é certo que o barulho que está sendo feito
indevidamente será equacionado pela fiscalização. Tem gente que para o
carro no calçadão e liga o som no maior volume possível. Vamos tentar
impedir que isso aconteça. Mas com as festas é diferente. Recentemente,
promovi o diálogo entre os dirigentes de clubes, os produtores de
eventos culturais e os moradores da orla. No final, todos concordaram
que há necessidade de festas, de eventos culturais e de medidas
mitigadoras do barulho. Mas há também um problema da legislação. A lei
do silêncio trata uma britadeira e um violino da mesma maneira. Qualquer
som fica no mesmo patamar e não deveria ser assim, porque são valores
sociais completamente diferentes. Então, também é preciso rever a lei do
silêncio. A aplicação dessa lei, tal como está posta hoje, inviabiliza o
funcionamento de muitos espaços culturais. Isso pode acabar
prejudicando os moradores da cidade, que terão cada vez menos opções de
lazer.
COMENTARIO
Enquanto não houver uma educação em massa no Brasil, enquanto todos os brasilienses não aprenderem a cuidar, a preservar, a respeitar o bem alheio e a natureza, repartição do espaço publico vai continuar significando vandalismo, pichação, sujeira, destruição, barulho e criminalidade e os moradores das areas nobres --para preservar o que possuem-- vão continuar murando suas propriedades.E fazem eles muito bem!
Maria Antonia
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