quarta-feira, 12 de março de 2014

Enquanto não houver educação para as massas, repartição do espaço publico= vandalismo, pichação, sujeira, destruição, barulho e criminalidade





Administrador de Brasília rejeita rótulo de cidade violenta e defende a democratização dos espaços públicos
 
 Dono de uma voz mansa e pausada, Messias de Souza fala de Brasília com paixão. 
 
Administrador da cidade desde 2011, ele sonha em ver a cidade abraçar uma nova fase mais cosmopolita – com opções de lazer abertas até depois da meia-noite, espaços públicos democratizados e infraestrutura adequada para receber os moradores das cidades dormitório. Enfim, uma Brasília mais viva e aberta à diversidade cultural e humana.

Pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB, Souza se prepara para deixar o cargo em abril. Mas antes, concedeu entrevista exclusiva à revista
Plano Brasília, onde fez questão de defender a imagem da cidade – citada em um guia elaborado pelo governo francês como um lugar violento e propenso a sequestros relâmpagos.

"Esses fenômenos de violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também ocorrem em Paris", argumenta. "O que eu gostaria de deixar claro é que esses índices de sequestro relâmpago têm caído no Distrito Federal. Mas estamos com a imagem prejudicada porque houve uma grande exposição midiática, neste início de ano, por causa de alguns episódios que envolveram a classe média".


Segundo o administrador, a sociedade deveria encarar a questão da violência com mais seriedade e de forma permanente, em vez de se preocupar com ela somente quando morre alguém da classe dominante. 
 
"A única maneira de combater essa violência é reduzindo a desigualdade social. Temos de ampliar o acesso à educação e à saúde, além de melhorar da renda das pessoas para diminuir a desigualdade e reduzir os conflitos entre as diferentes classes sociais. Não adianta combater a violência com novas leis e mais polícia", finaliza.

DIREITOS HUMANOS

 

Messias de Souza veio para Brasília em 1985, para trabalhar como assessor na Assembleia Nacional Constituinte. O convite foi decorrência de seu trabalho na defesa pela anistia de presos e exilados políticos. Apaixonado por política e por direitos humanos, esse alagoano – formado em Direito – acabou se apaixonando pela cidade. 
 
Tanto que decidiu ficar. Aqui, Souza fez carreira e criou seus três filhos. E, justamente por isso, não aceita ver a imagem da juventude candanga atrelada à violência.

"Em vez de colocar um rótulo em nossos jovens, devíamos estimular esse grupo a desenvolver todo o seu potencial criativo. Seria mais produtivo tanto para eles quanto para o restante da sociedade", argumenta. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista realizada com o administrador da cidade.
 
 

Plano Brasília: Faltam menos de 100 dias para a Copa do Mundo. Como Brasília está se preparando para o evento?

 

Messias de Souza: O governo local está fazendo obras de mobilidade urbana, melhorando a infraestrutura de turismo e de hotelaria da cidade para melhor receber o turista. 
 
 
Já iniciamos a colocação de placas de identificação nos principais monumentos, em mais de uma língua, para que os estrangeiros possam se localizar melhor na cidade. Também estamos mapeando os roteiros de interesse turístico e revitalizar a iluminação dos espaços públicos. 
 
 
Na Esplanada, por exemplo, estamos iniciando a instalação de uma nova iluminação a led, que vai permitir às pessoas circular com mais tranquilidade no local durante a noite. Então, temos obras que estão sendo feitas para o evento, mas que irão beneficiar permanentemente os moradores da cidade.
 

PB: Semana passada, o governo francês lançou um cartilha sobre os cuidados que seus cidadãos devem ter ao vir ao Brasil. Nessa publicação, existe um alerta sobre Brasília, apresentada aos franceses como uma cidade com alto risco de sequestros relâmpagos. Como o senhor vê isso?

 

"Em todas as grandes cidades do mundo as pessoas precisam observar questões de segurança. Não é só no Brasil. Esses fenômenos de violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também ocorrem em Paris".  
 
Messias de Souza MS: Em todas as grandes cidades do mundo as pessoas precisam observar questões de segurança. Não é só no Brasil. 
 
Esses fenômenos de violência ocorrem aqui, em Brasília, mas também ocorrem em Paris. Quando a violência acontece só na periferia, comenta-se muito pouco e a mídia nem se interessa em divulgar. 
 
Acho que a sociedade precisava encarar essa questão com mais seriedade e de forma permanente, em vez de se preocupar com ela somente quando morre alguém da classe dominante. 
 
O fato é que a sociedade brasileira é desigual e essa desigualdade provoca violência. E a única maneira de combater essa violência é reduzindo essa desigualdade. 
 
Temos de ampliar o acesso à educação e à saúde, além de melhorar da renda das pessoas para diminuir a desigualdade e reduzir os conflitos entre as diferentes classes sociais. 
 
Não adianta combater a violência com novas leis e mais polícia.
 
 

PB: Na semana passada, dois jovens espancaram um professor de educação física no Pier 21. E não podemos esquecer do assassinato do índio Galdino e do estudante Marco Antônio Velasco. Afinal, o jovem de Brasília é mais violento que os jovens de outras capitais?

 

 

"Em vez de colocar um rótulo em nossos jovens, devíamos estimular esse grupo a desenvolver todo o seu potencial criativo".  
 
Messias de Souza MS: Não devemos atribuir à juventude, como um todo, uma violência que está restrita a um segmento dos jovens. 
 
A maioria dos nossos jovens têm aspirações próprias da idade. Eles buscam desenvolver atividades culturais e esportiva, querem empreender, trabalhar. 
 
Existem, é claro, casos isolados de violência juvenil. E quanto mais consciência e mais debates forem realizados em torno do assunto, melhor o enfrentamento dessas questões. 
 
Só acho que, em vez de colocar um rótulo em nossos jovens, devíamos estimular esse grupo a desenvolver todo o seu potencial criativo. Seria mais produtivo tanto para eles quanto para o restante da sociedade.
 
 

PB: Essa não é uma visão dominante na cidade. No início do ano, o Shopping Iguatemi fechou as portas com medo dos jovens que agendaram um rolezinho. O que o senhor achou dessa atitude?

 

 

MS: Eu acho que foi uma atitude precipitada. Não se deve tratar um problema pelos seus efeitos, mas sim por suas causas. 
 
O fenômeno do rolezinho precisa ser debatido junto à própria juventude, porque ele demonstra que uma parte dessa geração sente-se excluída dos grandes centros de consumo. 
 
Ao agendar um rolezinho, esses jovens estão reivindicando o direito de transitar e de se reunir em shoppings, como qualquer outro jovem da sua idade. 
 
Em vez de proibir o rolezinho, melhor seria criar condições para esse público se manifestar e se divertir. Colocando-os para fora dos shoppings, cola-se um rótulo de marginalidade nesses jovens que não é saudável. 
 

PB: O senhor falou que a iluminação da Esplanada está sendo modificada para a Copa. Mas ela ainda parece muito escura....

 

MS: As obras ainda não terminaram. A Esplanada está passando por um processo de reposição de iluminação. Estamos substituindo as lâmpadas atuais por lâmpadas de led. 
 
Acredito que seja o melhor projeto de iluminação já feito no local. A obra já foi feita em um primeiro trecho, que vai do Memorial JK até a antiga Rodoferroviária. 
 
E, até a Copa, ela será expandida a toda a Esplanada dos Ministérios. Além disso, também faremos um novo projeto de iluminação decorativa dos monumentos da cidade, que ressaltará as formas dos nossos monumentos.
 

PB: Mas existem muitas zonas no Plano Piloto sem iluminação noturna. A administração de Brasília tem recebido alguma reclamação nesse sentido?

 

MS: Sim, temos recebido. Nós montamos, inclusive, um grupo de monitoramento para fazer o mapeamento de todas as áreas escuras do Plano Piloto. 
 
E, infelizmente, são muitas. Algumas áreas verdes são escuras porque não têm rede elétrica. Em outras, essas redes se degradaram ao longo do tempo e precisam ser refeitas. Nós, da Administração, quando vemos que tem lâmpadas queimadas, enviamos à CEB para que façam a reposição. 
 
Quando tem problema de ampliação de rede, solicitamos que eles tomem providência... Mas os problemas ainda existem. É fato que, até 2010, a CEB estava sucateada. 
 
O governo passou três anos investindo na recuperação financeira da companhia e no fortalecimento de sua estrutura para poder atender melhor à população. 
 
Agora, a situação começa a mudar. Recentemente, inauguramos uma nova subestação de energia, perto do Mané Garrincha, para atender a Asa Norte. Mas até para fazer isso tivemos problemas. 
 
A área central de Brasília é tombada pelo Patrimônio Histórico, então a CEB não pode construir subestações pensando apenas nas necessidades operacionais de cada região. 
 
Ela precisa estudar se a obra não vai afetar o projeto urbanístico original da cidade. Como você pode ver, não é tão simples fazer obras de melhoria aqui, na capital.
 
 

PB: Já que o senhor falou em obras, qual é a sua opinião sobre as recentes manifestações contrárias à construção de uma creche na Asa Sul?

 

 

MS: Existe uma polarização de opiniões na cidade. Algumas pessoas acham que os espaços públicos têm de ser usufruto exclusivo dos moradores de uma quadra. 
 
Outros, querem que esses espaços sejam utilizados por todos, de forma democrática. No início do ano, os moradores de uma quadra entraram com uma ação na Justiça para embargar a construção de uma creche. 
 
Como eles não têm filhos pequenos ou matricularam suas crianças em escolas privadas, não enxergam a necessidade de se construir uma escola no local. 
 
Mas eu me pergunto: e as pessoas que precisam dessas creches para colocar seus filhos? Brasília é uma metrópole. 
 
Não pode ter escola só para quem mora na cidade, mas também para quem converge todos os dias para trabalhar, aqui no Plano Piloto. 
 
Nosso papel, como administrador, foi o de intermediação do conflito entre os moradores e a Secretaria de Educação. 
 
Por isso, convocamos uma reunião com as lideranças da quadra e com representantes da Secretaria de Educação. 
 
Segundo o órgão, existe uma demanda reprimida na Asa Sul por uma creche pública. Necessidade aferida pelo telematrícula e por pesquisas da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). 
 
O espaço escolhido para obra respeita o projeto urbanístico da cidade e já estava reservado à construção de uma escola de ensino fundamental. 
 
Mesmo assim, alguns moradores entraram com uma ação na Justiça. No momento, estamos prestando todas as informações técnicas necessárias para que a Justiça tome sua decisão. 
 
À nós, da Administração de Brasília, cabe a aprovação e a fiscalização do projeto em relação às questões de urbanismo. E esses aspectos de urbanismo, na nossa opinião, estão bem equacionados.
 
 

PB: Outra briga pelo uso do espaço público está acontecendo no Lago Norte. É verdade que os moradores querem cercar o calçadão?

 

 

MS: Na verdade, os moradores do Lago Norte têm reclamado do barulho que se faz no calçadão de madrugada. 
 
E, de fato, às vezes ocorrem barulhos excessivos, que precisam ser evitados. O problema é que esses moradores estão confundindo esse barulho ilegal com o de algumas festas regulares, autorizadas e licenciadas, que estão ocorrendo no calçadão. 
 
Em relação a essas festas, não tem como elas deixarem de existir. Brasília é uma cidade viva e o calçadão foi feito justamente para democratizar o acesso ao Lago Paranoá, que está sendo ilegalmente privatizado pelas mansões e pelos clubes. 
 
Nossa intenção, com a construção do calçadão, foi justamente ampliar o acesso da população ao Lago Paranoá. 
 
Mas é certo que o barulho que está sendo feito indevidamente será equacionado pela fiscalização. Tem gente que para o carro no calçadão e liga o som no maior volume possível. Vamos tentar impedir que isso aconteça. 
 
Mas com as festas é diferente. Recentemente, promovi o diálogo entre os dirigentes de clubes, os produtores de eventos culturais e os moradores da orla. 
 
No final, todos concordaram que há necessidade de festas, de eventos culturais e de medidas mitigadoras do barulho. Mas há também um problema da legislação. 
 
A lei do silêncio trata uma britadeira e um violino da mesma maneira. Qualquer som fica no mesmo patamar e não deveria ser assim, porque são valores sociais completamente diferentes. 
 
Então, também é preciso rever a lei do silêncio. A aplicação dessa lei, tal como está posta hoje, inviabiliza o funcionamento de muitos espaços culturais. 
 
Isso pode acabar prejudicando os moradores da cidade, que terão cada vez menos opções de lazer.

COMENTARIO

Enquanto não houver uma educação em massa no Brasil, enquanto todos os brasilienses  não aprenderem a cuidar, a preservar, a respeitar o bem alheio e a natureza, repartição do espaço publico vai continuar significando vandalismo, pichação, sujeira, destruição, barulho e criminalidade e os moradores das areas nobres --para preservar o que possuem-- vão continuar murando suas propriedades.E fazem eles muito bem!

Maria Antonia

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