12/03/2014 10h06
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Espera pelo serviço chega a até um ano, afirma defensor público.
Saúde diz que pretende contratar mais médicos e terceirizar atendimento.
Dados da Secretaria de Saúde apontam que 12 mil pessoas aguardam pela
primeira consulta em oftalmologia no Distrito Federal.
O atendimento é
feito em seis hospitais regionais – Ceilândia, Gama, Guará, Paranoá,
Santa Maria e Sobradinho – e estaria prejudicado pela falta de
profissionais no mercado. De acordo com o defensor público Ramiro
Sant'Ana, a espera pelo serviço chega a até um ano.
O secretário-adjunto da pasta, Elias Miziara, reconhece a situação.
O secretário-adjunto da pasta, Elias Miziara, reconhece a situação.
"A
demanda é realmente muito elevada, mas felizmente a maioria se encaixa
em situações mais simples, de indicação de óculos.
Não chega a ser algo a
ponto de levar à cegueira.
[A falta de oftalmologistas, mesmo com
contratação temporária]
É um problema que escapa ao nosso controle e à
nossa capacidade de resolução", afirmou.
O baixo número de médicos na área – a rede conta com 72 profissionais atualmente – também seria responsável pelas grandes filas em outras demandas oftalmológicas.
O baixo número de médicos na área – a rede conta com 72 profissionais atualmente – também seria responsável pelas grandes filas em outras demandas oftalmológicas.
Para contornar a situação, a secretaria vai
realizar novo concurso e lançou dois editais neste ano.
Um deles prevê a
terceirização de atendimento de pacientes com problema na retina; o
outro, o funcionamento de uma carreta para realizar 200 cirurgias
diárias de catarata.
A ideia é que a unidade móvel funcione a partir deste mês nos moldes da
Carreta da Mulher, visitando mais de uma região administrativa ao longo
de um mês e meio.
Atualmente, 3 mil pessoas aguardam por cirurgia de
catarata no DF. A pasta já havia realizado mutirões para combater a
doença em 2011 e em 2012.
"Nossa preocupação no primeiro momento é atacar aquelas situações que
impossibilitam as pessoas de ter uma vida normal", disse Miziara.
"À
medida em que a gente conseguir solucionar essas urgências, poderemos
dirigir mais atenção às outras situações."
Presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais, César
Ashkar afirma que a situação tem prejudicado quem depende de laudo
médico para obter benefícios previstos em lei, incluindo o Passe Livre e
a aposentadoria.
A entidade representa cerca de 700 pessoas na capital
do país.
"Para a gente isso tem sido um problema muito sério. Sem acesso à consulta, também ficamos sem nossos direitos. E direitos que estão previstos em lei", declarou.
Segundo Ashkar, a espera levou um associado de 22 anos a ficar cego. O rapaz, que nasceu com baixa visão em um olho e sem enxergar do outro, precisou de tratamento depois de ser agredido no rosto, mas não conseguiu atendimento a tempo.
"Entramos na Justiça para obrigar a rede a ampará-lo, mas nem assim", diz o presidente. "Quando ele conseguiu fazer a cirurgia, já não tinha mais conserto."
Uma situação semelhante foi divulgada recentemente pelo G1.
"Para a gente isso tem sido um problema muito sério. Sem acesso à consulta, também ficamos sem nossos direitos. E direitos que estão previstos em lei", declarou.
Segundo Ashkar, a espera levou um associado de 22 anos a ficar cego. O rapaz, que nasceu com baixa visão em um olho e sem enxergar do outro, precisou de tratamento depois de ser agredido no rosto, mas não conseguiu atendimento a tempo.
"Entramos na Justiça para obrigar a rede a ampará-lo, mas nem assim", diz o presidente. "Quando ele conseguiu fazer a cirurgia, já não tinha mais conserto."
Uma situação semelhante foi divulgada recentemente pelo G1.
Mesmo com uma decisão judicial, um mecânico de 54 anos acabou ficando cego depois de passar quatro meses tentando atendimento pela rede pública de saúde.
Problema antigo
Problema antigo
Membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Leonardo Reis critica o tempo de espera por consulta no DF e aponta como referência a França, em que um paciente aguarda até 30 dias pelo primeiro atendimento.
"Sem
dúvida é um prazo longo [o de Brasília], e a demanda reprimida no
serviço público precisa ser atendida para que essa fila diminua."
Reis afirma que a situação não é exclusividade da capital do país e que
os governos precisam investir mais na área, seja fazendo contratações
com empresas privadas, comprando equipamentos ou celebrando acordos
entre municípios.
A entidade estima que 90% da população têm algum
distúrbio visual, como miopia, hipermetropia, astigmatismo ou
presbiopia, o que torna imprescindível a ida frequente ao
oftalmologista.
Para o defensor público Ramiro Sant'Ana, há mais um aspecto que
influencia na longa espera no DF: a vinda de moradores de outros estados
em busca de atendimento na capital federal.
"Há vários anos que oftalmologia é uma especialidade que gera muita reclamação do cidadão. O Distrito Federal é um polo atrativo para Minas Gerais, Goiás e Bahia.
"Há vários anos que oftalmologia é uma especialidade que gera muita reclamação do cidadão. O Distrito Federal é um polo atrativo para Minas Gerais, Goiás e Bahia.
É muita gente que vem aqui em busca de cirurgia.
Como prever o tamanho disso e manter o serviço adequado, quando há uma
demanda tão expressiva de fora?", questionou.
Fachada
do Hospital Regional de Ceilândia, uma das seis unidades de saúde a
realizar as primeiras consultas em oftalmologia pela rede pública no
DF (Foto: TV Globo/Reprodução)
O massagista José Alves Neto, de 45 anos, afirma que já perdeu as
esperanças de conseguir atendimento. Por causa de um glaucoma, ele
perdeu os dois olhos com menos de 3 anos de idade e desde 2000 tenta
fazer cirurgia para colocar próteses no lugar.
"A gente perde até as contas de tudo o que já tentou e ficou sem resposta. É frustrante. É tudo muito difícil e muito penoso. E, por causa da deficiência, a gente ainda é discriminado", disse.
"A gente perde até as contas de tudo o que já tentou e ficou sem resposta. É frustrante. É tudo muito difícil e muito penoso. E, por causa da deficiência, a gente ainda é discriminado", disse.
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