Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz Garcia
Uma das
preocupações permanentes das grandes potências — e também das médias e
pequenas, embora a maioria não tenha recursos para tomar as providências
necessárias — é manter bem guardados os seus segredos. Principalmente aqueles
que podem transformar amigos em inimigos, ou, pelo menos, em amigos
desconfiados.
No momento, o
governo americano está com uma batata extremamente quente nas mãos. Não é
batata recente: há quase um ano a opinião pública ficou sabendo que a poderosa
Agência de Segurança Nacional (NSA) tem um sistema de espionagem vasto e
secreto.
Isso deveria ser louvável
e tranquilizador para a opinião pública, não fosse por circunstância
lamentável: o governo espiona em grande escala cidadãos americanos em
território americano. É uma consequência da descoberta, no fatídico episódio do
11 de setembro, de que o país, como o resto do mundo, não era invulnerável a
atos terroristas.
A espionagem
doméstica não deixa de ser uma arma de defesa do governo e dos cidadãos. Mas
tudo depende da escala e da existência provada do risco de terrorismo
doméstico. Pelo visto, a NSA exagerou na dose. Principalmente, numa coleta em
massa de telefonemas domésticos de cidadãos americanos. E é importante
registrar que até hoje, que se saiba, essa invasão da privacidade individual
não produziu qualquer revelação sobre ações ou planos de sinistros terroristas.
Até agora, tanto o
presidente Obama quanto o Congresso estão dando os primeiros passos na
elaboração de um projeto que proteja os cidadãos do que se pode chamar de
curiosidade excessiva do Estado.
Foi marcada para
esta semana a apresentação pelo Departamento de Justiça de uma proposta de
reforma do programa de coleta de dados telefônicos. É o mesmo que foi revelado
no ano passado por Edward Snowden, um ex-prestador de serviços da CIA, para
grande indignação da opinião pública e nenhuma outra consequência até agora.
Na verdade, o
problema é comum a todos os regimes democráticos: frequentemente, sentem a
necessidade de arranhar a democracia para mantê-la forte. Não se conhece
solução perfeita para essa contradição.
Luiz Garcia é
Jornalista. Originalmente publicado em O Globo em 27 de Março de 2014.
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