O GLOBO - 10/05
O governo ajuda os pessimistas ao não conter a expansão dos gastos em custeio, combustível da elevação de preços, outra marca da administração Dilma
Na falta de boas notícias, o governo pode comemorar que a inflação (IPCA) de abril, de 0,67%, desacelerou em relação ao 0,92% de março, devido a um alívio na pressão dos preços de alimentos e tarifas de transportes. As autoridades que não param de alertar que a inflação dos alimentos é passageira, como em todos os anos, alardearão sua capacidade de análise, embora, infelizmente, a alta de preços esteja bastante disseminada pela economia.
Sempre é bem-vindo um arrefecimento no custo de vida. Mas, em bases anualizadas, o índice ficou em 6,28%. Continua, portanto, próximo do limite legal dos 6,5%, e deve, inclusive, ultrapassá-lo em breve. Isso preocupa dado o histórico de leniência do governo com a inflação. Tanto que o governo Dilma se notabilizará por jamais ter atingido a meta oficial de 4,5%, com dois pontos a mais e a menos de tolerância. Como cortina de fumaça, construiu a interpretação marota de que até 6,5% tudo é “meta”. Equivale a alterar a posição das traves para validar um gol.
Até mesmo um economista do círculo de assessores informais da presidente desenvolveu o raciocínio de que, como a média da inflação brasileira, dos últimos anos, tem sido 6%, não haveria problema em mantê-la neste nível — um dos mais elevados do mundo, ressalvadas as excrescências argentina e venezuelana.
Média, porém, lembra outro economista, é um conceito escorregadio. Pois uma pessoa com a cabeça no forno e os pés no congelador pode ter uma temperatura média na altura do umbigo bastante razoável. Mas não sobreviverá muito tempo.
Sempre vale repetir: é erro crasso deixar a inflação nesta faixa elevada, num num país com mecanismos de indexação bem azeitados. E como o BC parece ensaiar interromper o ciclo de aumento dos juros, as expectativas diante dos preços não melhorarão. Assim, a profecia de uma inflação persistentemente alta se concretizará. Neste ambiente, sem margem para a absorção de choques imprevisíveis — quebra de safras devido a fenômenos climáticos extremos —, o Brasil faz piquenique na borda de vulcão.
No jantar com jornalistas, há poucos dias, a presidente Dilma defendeu a leniência com a inflação em nome da manutenção dos empregos. É clássico este equívoco entre "desenvolvimentistas". Ora, inflação elevada corrói o salário do trabalhador e ainda cria zona de incertezas à frente dos empresários. Estes recuam nos investimentos, e, assim, criam menos empregos. A inflação perturba o sistema produtivo e, por isso, impede a economia de crescer a taxas mais elevadas, como acontece no Brasil. Do que resulta, também, menos empregos. Já se assistiu a este filme no país, mas a memória nacional é curta.
O governo também ajuda os pessimistas com a inflação ao não conter a expansão dos gastos em custeio, combustível da elevação de preços, outra marca do governo Dilma: no primeiro trimestre, a arrecadação subiu 10,6%, e as despesas, 15%.
O governo ajuda os pessimistas ao não conter a expansão dos gastos em custeio, combustível da elevação de preços, outra marca da administração Dilma
Na falta de boas notícias, o governo pode comemorar que a inflação (IPCA) de abril, de 0,67%, desacelerou em relação ao 0,92% de março, devido a um alívio na pressão dos preços de alimentos e tarifas de transportes. As autoridades que não param de alertar que a inflação dos alimentos é passageira, como em todos os anos, alardearão sua capacidade de análise, embora, infelizmente, a alta de preços esteja bastante disseminada pela economia.
Sempre é bem-vindo um arrefecimento no custo de vida. Mas, em bases anualizadas, o índice ficou em 6,28%. Continua, portanto, próximo do limite legal dos 6,5%, e deve, inclusive, ultrapassá-lo em breve. Isso preocupa dado o histórico de leniência do governo com a inflação. Tanto que o governo Dilma se notabilizará por jamais ter atingido a meta oficial de 4,5%, com dois pontos a mais e a menos de tolerância. Como cortina de fumaça, construiu a interpretação marota de que até 6,5% tudo é “meta”. Equivale a alterar a posição das traves para validar um gol.
Até mesmo um economista do círculo de assessores informais da presidente desenvolveu o raciocínio de que, como a média da inflação brasileira, dos últimos anos, tem sido 6%, não haveria problema em mantê-la neste nível — um dos mais elevados do mundo, ressalvadas as excrescências argentina e venezuelana.
Média, porém, lembra outro economista, é um conceito escorregadio. Pois uma pessoa com a cabeça no forno e os pés no congelador pode ter uma temperatura média na altura do umbigo bastante razoável. Mas não sobreviverá muito tempo.
Sempre vale repetir: é erro crasso deixar a inflação nesta faixa elevada, num num país com mecanismos de indexação bem azeitados. E como o BC parece ensaiar interromper o ciclo de aumento dos juros, as expectativas diante dos preços não melhorarão. Assim, a profecia de uma inflação persistentemente alta se concretizará. Neste ambiente, sem margem para a absorção de choques imprevisíveis — quebra de safras devido a fenômenos climáticos extremos —, o Brasil faz piquenique na borda de vulcão.
No jantar com jornalistas, há poucos dias, a presidente Dilma defendeu a leniência com a inflação em nome da manutenção dos empregos. É clássico este equívoco entre "desenvolvimentistas". Ora, inflação elevada corrói o salário do trabalhador e ainda cria zona de incertezas à frente dos empresários. Estes recuam nos investimentos, e, assim, criam menos empregos. A inflação perturba o sistema produtivo e, por isso, impede a economia de crescer a taxas mais elevadas, como acontece no Brasil. Do que resulta, também, menos empregos. Já se assistiu a este filme no país, mas a memória nacional é curta.
O governo também ajuda os pessimistas com a inflação ao não conter a expansão dos gastos em custeio, combustível da elevação de preços, outra marca do governo Dilma: no primeiro trimestre, a arrecadação subiu 10,6%, e as despesas, 15%.
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