sábado, 10 de maio de 2014

Rios da Amazônia e água doce do mundo estão sob ameaça, dizem pesquisadores




Leonardo Siqueira
Do UOL, em São Paulo


  • Lalo de Almeida/ Folhapress
    Vista aérea dos pedrais da Volta Grande do Xingu, trecho do rio que sera impactado pela construção da hidrelétrica de Belo Monte Vista aérea dos pedrais da Volta Grande do Xingu, trecho do rio que sera impactado pela construção da hidrelétrica de Belo Monte



O desmatamento, a poluição, a agricultura e a construção de hidrelétricas como a de Belo Monte, no Pará, estão ameaçando os rios da Amazônia, que formam a maior bacia de água doce do mundo. A afirmação é do pesquisador da universidade americana Virginia Tech, Leandro Castello. "A degradação dos rios vai afetar as populações locais, e isso tem sido observado em outros lugares do mundo. Está acontecendo no rio Mekong, no Vietnam, e no rio Ganges, em Bangladesh. E será o futuro da Amazônia, caso nada seja feito", diz.


Na visão do cientista, não há uma estrutura ou política de manejo adequada às bacias hidrográficas da região. "A previsão é infeliz e esse quadro só tende a piorar. O Brasil tem sido pioneiro em questões terrestres e de preservação das florestas, mas em relação aos rios da Amazônia, nada está sendo feito", diz.


"Os corpos de água doce do mundo estão em profundo risco. Então, é claro que a Amazônia não fica fora, pois também acaba sendo contemplada com um enorme conjunto de problemas que afeta a bacia hidrográfica", diz a pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Maria Teresa Fernandez Piedade.





Imagens da Amazônia




A Amazônia tem 4.196.943 milhões de quilômetros quadrados e a maior bacia hidrográfica do mundo, que cobre 6 milhões de quilômetros quadrados com seus 1.100 afluentes, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. O maior bioma do Brasil é fundamental para o equilíbrio ambiental e climático do planeta e a conservação dos recursos hídricos Miguel von Behr/Arpa


Os sistemas de água doce são os mais degradados do mundo. E muitos deles já não são como antigamente graças à ação do homem.  Na Amazônia, por exemplo, a pesca excessiva levou algumas espécies à extinção. O tamanho dos peixes também diminuiu ao longo dos anos.



Segundo a cientista do Inpa, estudos realizados pela entidade apontam que, das últimas décadas para cá, as cheias e as secas estão cada vez mais intensas e severas naquela região. "Isso indica que as mudanças climáticas já podem estar se fazendo sentir nestes sistemas", sugere Maria.


Para Castello e Maria, os problemas da Amazônia não estão restritos à região norte do país. "Se os rios secam, o transporte de grãos como a soja, que é exportada, pode ser comprometido, impactando a economia nacional. A seca nos rios também afeta a produção de energia elétrica em represas como Belo Monte. Se essas represas param, o Sul e o Sudeste podem enfrentar apagões", lembra Castello.


Já os efeitos do desmatamento em larga escala, seja para o extrativismo madeireiro ou para propósitos agrícolas, pode mudar o balanço hídrico do território, que é ligado ao de outras regiões, lembra a pesquisadora do Inpa. Maria Victoria Ramos Ballester, do Centro de Energia Nuclear (Cena) da USP, campus Piracicaba, lembra a importância da Amazônia para outros países.

"A Amazônia tem um papel importante na redistribuição da umidade, não só no Brasil, mas na América Latina. Trata-se de um sistema de circulação regional", destaca.





Veja registros do desmatamento na Amazônia nos últimos anos



abr.2014 - O Ibama, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Batalhão de Policiamento Ambiental (Bpam), realizou operação na Terra Indígena Rio Manicoré, localizada no município de Manicoré, sul do Estado do Amazonas. Durante a ação, foram apreendidos aproximadamente 85 m³ de madeira em toras e foram aplicadas multas de R$ 30 mil. A madeira, em sua maior parte, angelim-pedra, estava sendo transportada na balsa Navezon B29, que também foi apreendida Ditec/Ibama

 

Floresta Amazônica pode virar cerrado


Outro estudo, que envolve cientistas brasileiros e americanos, aponta numa direção semelhante. A pesquisa irá analisar três eventos extremos que ocorreram na Amazônia na última década a fim de prever o impacto das mudanças climáticas e do desmatamento no ecossistema da região. A investigação receberá um milhão e meio dólares da Nasa, a agência espacial americana. Participam do estudo pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), e das federais de Alagoas (Ufal) e Rio Grande do Norte (UFRN).


A previsão do estudo em relação à ocorrência de eventos extremos é negativa. "Acreditamos que as mudanças climáticas irão, no futuro, contribuir para enchentes e secas cada vez mais severas e frequentes", afirma Michael Cohe, um dos cientistas envolvidos no projeto. Em outras palavras, secas como as de 2005 e 2010, e a enchente de 2009, que ocorreram na Amazônia, poderão se tornar cada vez mais comuns. Para Maria, este e outros trabalhos revelam "a preocupação com a manutenção da integridade desta imensa bacia hidrográfica".


Outro ponto que preocupa os cientistas é a construção de represas e hidrelétricas. "Isso só vai piorar os efeitos das mudanças climáticas e do desmatamento", aponta Castello, que lidera a investigação feita em parceria com pesquisadores brasileiros. Segundo ele, o desmatamento em larga escala faz com que chova menos e a região fique seca. "Isso pode fazer com que a floresta da Amazônia se transforme em uma floresta de cerrado", prevê.





Cheia em rios da bacia amazônica alaga bairros de Manaus



4.jun.2013 - Ruas do centro de Manaus, próximas ao porto da cidade, já estão debaixo d"água, devido à cheia do Rio Negro. O nível do rio chegou na última segunda-feira (3) a 29,28 metros e já é o oitavo maior da história, podendo atingir a cota de 29,71 metros até o final deste mês, conforme foi anunciado pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Se isso acontecer, será a terceira maior enchente já registrada, ficando atrás apenas das cheias de 2012, a maior já documentada, com 29,97, e a de 2009, com 29,77 metros Leia mais Antônio Lima / A Crítica

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