Por Paloma Rodrigues, publicado em 18/06/2013 - pasmem - NA CARTA CAPITAL!
“Palavrões são perfeitos para manifestações e protestos”,
diz pesquisadora em estudo
Em “Holy Shit, a brief history of swearing”, Melissa Mohr
destrincha as origens de palavrões, palavras obscenas e xingamentos, e a
maneira como foram vistos pelas sociedades
Em protestos e manifestações, como os que tomam ruas de
diversas cidades do País nas últimas semanas, não raro são ouvidos gritos que
envolvem palavrões. Os xingamentos compõem os cenários das intervenções e,
segundo a pesquisadora da Universidade de Stanford Melissa Mohr, têm
justificativa.
“Os palavrões transmitem emoções melhor do que quaisquer outras palavras, por isso eu diria que eles são perfeitos para manifestações e protestos”, diz Melissa Mohr. As conclusões sobre as origens dos xingamentos e a maneira como eram vistos dentro das sociedades ao longo da história foram publicados em seu recente livro Holy Sh*t, a brief history of swearing.
“Os palavrões transmitem emoções melhor do que quaisquer outras palavras, por isso eu diria que eles são perfeitos para manifestações e protestos”, diz Melissa Mohr. As conclusões sobre as origens dos xingamentos e a maneira como eram vistos dentro das sociedades ao longo da história foram publicados em seu recente livro Holy Sh*t, a brief history of swearing.
Segundo Melissa, esse tipo de palavra “faz com que as
pessoas compreendam quão forte é seu sentimento sobre algo, o quanto aquilo
significa para elas”. Além disso, estudos têm mostrado que os xingamentos fazem
as pessoas se sentirem unidas, como parte de um grupo. “São formas de expressão
que ajudam os manifestantes a se sentirem unidos contra o que estão protestando”,
diz ela.
Dentro das sociedades contemporâneas, a autora observa que
os palavrões representam uma força muito significativa, capaz de influenciar
favoravelmente o rendimento de quem realiza tarefas xingando, se comparado com
quem realiza tarefas pronunciando outras palavras. “Isso é uma coisa que eu não
fazia ideia antes de começar a estudar”, conta. “Você é capaz de permanecer com
sua mão em água gelada por mais tempo se estiver xingando do que se estiver
pronunciando palavras neutras, por exemplo”.
Segundo Melissa, a nossa resposta aos palavrões e
xingamentos vai além das palavras. “Ouvir e falar palavrões ou obscenidades
leva ao aumento dos batimentos cardíacos e faz as mãos suarem”, exemplifica.
Poder cultural
A razão por Melissa se debruçar sobre o tema, ela conta em
entrevista a CartaCapital, explica-se pelo poder cultural que as palavras
representam nas diferentes sociedades. “Em toda cultura existem palavras que
mudam o estado de espírito das pessoas quando são pronunciadas, que as deixam
chateadas. São como tabus”.
Segundo a pesquisadora, um divisor de águas na história da
interpretação das palavras foi o cristianismo, difundido durante a Idade Média.
“Nos tornamos mais religiosos, e as palavras ganharam significados e pesos
diferentes”, afirma ao explicar que a maneira como as pessoas viam Deus também
mudou, bem como a relação que as pessoas desenvolviam com ele. “Especialmente
em lugares que viveram revoluções protestantes, a maneira como as pessoas
enxergavam Deus mudou bastante.”
As pessoas, observa a autora, tratavam sua relação com Deus
de maneira muito rígida, e os juramentos invocando os santos nomes tinham uma
importância literal para elas. Essa relação, ela explica, perdeu um pouco de
força com a ascensão das relações mercantis, quando os juramentos feitos para
parceiros comerciais se tornam prioritários e os juramentos feitos a Deus
passaram a vir em segundo plano.
Por outro lado, os modelos que estabelecemos para o que é
socialmente reprovável vieram dos romanos, como os termos sexuais que ainda
usamos em nossa linguagem corrente. Palavras que são consideradas realmente
impactantes e vistas com certa proibição dentro de diversas culturas, como as
que descrevem partes do corpo, por exemplo. No inglês, Melissa destacou
palavras que ganharam essa característica de xingamento ou de cunho obsceno,
como “fuck”, “cunt”, “cock” e “piss”.
Os romanos também lidavam com o corpo como nós, a partir do
seu caráter sexual e com uma ideia de obscenidade. Para eles, palavras como
vagina (cunnus) e clitóris (landica) eram vistos com proibição. “Eu diria que
os romanos nos deram o modelo que temos hoje para o obsceno, o pervertido e o proibido”.
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