Com capital de 11 milhões de votos na última eleição para o
Senado, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi escolhido candidato a
vice-presidente na chapa do mineiro Aécio Neves após dar mostras de que pode
aproximar aliados do ex-governador José Serra e reunir prefeitos e militantes
no maior colégio eleitoral do Brasil – 32 milhões de votos.
Ex-guerrilheiro nos
anos da ditadura militar, época em que adotava o codinome Mateus, Aloysio
afirma que a presidente Dilma Rousseff “dilapidou o capital político imenso que
tinha”, mas ainda assim prevê uma “campanha dura” contra o PT. O tucano afirma
que a petista “raspou o fundo do tacho da fisiologia”, loteando o governo a
aliados para conseguir maior tempo de propaganda eleitoral na televisão.
"Houve um festival escancarado de fisiologismo patrocinado pela presidente
Dilma”, afirma.
A entrevista abaixo foi publicada no site da revista VEJA.
As pesquisas mostram que os eleitores querem mudança, mas
não a associam a nenhum candidato. Por que o senador Aécio Neves seria essa
mudança?
Fernando Henrique cumpriu uma etapa muito importante da construção do
Brasil moderno com o combate e a derrota da hiperinflação e com a estabilidade
da moeda. Lula preservou os fundamentos da estabilidade que recebeu e colocou o
tema da igualdade e de combate à miséria absoluta no centro da agenda política.
A presidente Dilma, que tinha tudo pra dar um passo adiante, não deu.
Nem na
infraestrutura, nem na reforma da administração, na mudança dos costumes
políticos. É uma gestão errática na economia, que chega a colocar em risco uma
das maiores conquistas do brasileiro, que é o controle da inflação.
O senador
Aécio representa uma perspectiva de mudança com essa pasmaceira e com essa
mediocridade porque tem talento político, capacidade administrativa amplamente
demonstrada à frente do governo de Minas Gerais e tem uma sustentação política
muito forte para enfrentar esses problemas.
Qual sua principal contribuição como vice de Aécio?
A
experiência política acumulada ao longo do tempo me propiciou uma rede de
relações muito ampla no PSDB e nos demais partidos que integram nossa
coligação. Posso ajudar o coordenador geral da campanha na articulação
política, ocupar papel na comunicação da campanha e com o Congresso.
Vou
continuar na liderança do partido e a tribuna parlamentar poderá ser usada para
defender a campanha quando considerar importante. Em São Paulo, minha principal
função será ativar, estimular e engajar uma rede muito ampla de agentes
políticos espalhados pelo Estado, pela região metropolitana, pelo interior.
PT e PSDB polarizam as eleições presidenciais há anos. Há o
risco de o eleitor sentir que o país anda em círculos?
Não. Quando decide seu
voto, a motivação partidária não é predominante. O eleitor escolhe o candidato.
O eleitor quer saber o que ele vai ganhar, o que vai ter de bom e de novo com o
candidato que escolhe.
Eu não vejo o que a presidente Dilma pode propor de bom
e de novo, sobretudo tendo em vista o retrospecto do governo dela. Que coelho
ela vai tirar da sua cartola? Dilma desperdiçou uma oportunidade e dilapidou o
capital político imenso que ela tinha.
A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira mostra que
a presidente tem mais pontos em todos grupos etários, na maioria das regiões,
entre eleitores com diferentes graus de escolaridade. O clima da Copa do Mundo,
de congraçamento e de união, está presente no noticiário, na publicidade, até em
anúncio de sabonete. É um clima muito propício e isso ajuda a melhorar o humor
do eleitor.
Ao mesmo tempo, a oposição também tem crescido e a diferença entre
Dilma e Aécio na projeção do segundo turno vai diminuindo. Isso quer dizer que
a campanha não será um passeio ou um caminho coberto de pétalas de rosas.
Pelo
contrário, vai ser uma campanha dura, difícil e o PT tem muitos ativos a favor
deles, especialmente a máquina pública, e não hesitará em fazer o diabo para
ganhar as eleições.
O PSDB negociou com vários partidos em busca de alianças e
tempo de TV. Hoje os partidos de oposição no Brasil são satélites do PSDB? Não,
são parceiros. O Democratas e o Solidariedade tiveram papel fundamental nessa
tessitura de alianças em todos os Estados e vão dar sustentação política muito
forte à candidatura do Aécio.
Na hora em que as infantarias entrarem em campo,
serão milhares de candidatos a deputado estadual, deputado federal e prefeitos
que vão se mobilizar. Isso vale muito mais que o tempo de TV.
A aliança do PSDB
é sólida, ao contrário da Dilma, que raspou o fundo do tacho da fisiologia,
entregando tudo que era possível entregar e até o impossível, o que não se
deveria entregar.
No caso do Ministério dos Transportes, pela primeira vez um
ministro é demitido porque é muito bom, é sério, é correto, porque não atende
os interesses do partido. Houve um festival escancarado de fisiologismo
patrocinado pela presidente Dilma.
O PSDB fez aliança com o PSB em São Paulo, com PMDB no
Nordeste, mas ambos partidos serão rivais na disputa nacional.
Isso mostra a
força da realidade local nas eleições e revela um fenômeno, que já foi
constatado no plano nacional, que é a desagregação do bloco político de
sustentação do atual governo. Há sinais muito evidentes dessa desagregação: a
saída do PSB com uma candidatura de oposição, o PTB, que era governista,
decidindo apoiar a candidatura de Aécio. Os políticos sentem o cheiro do vento,
têm sensibilidade e sabem para onde está indo o movimento profundo da opinião
pública.
Nessas eleições, a internet terá um papel importante para a
difusão de propostas, mas também vai possibilitar a proliferação de boatos.
Como lidar com isso?
Essa boataria suja circula em um ambiente fechado. Quem
frequenta esses blogs notoriamente mercenários do PT já tende a dar curso a
esse tipo de coisa. As redes sociais serão mais importantes para a difusão de
propostas e para esclarecer dúvidas. A xingação se esgota em um circuito
fechado e não creio que vá muito além disso.
Qual o principal problema do governo Dilma?
A economia é o
principal fator de desgaste do governo, com a volta da inflação sobretudo nos
gêneros de consumo popular. Há também o crescimento baixo, que redunda em uma
menor perspectiva de empregos de boa qualidade, em endividamento das pessoas. Isso
o povo sente e é resultado de uma gestão muito ruim da economia. Mas também
existem esqueletos aí prontos para estourar, como o descontrole das contas
públicas e o aumento das despesas correntes.
O senhor é contrário à criminalização do aborto e do usuário
de drogas e a favor da rediscussão da maioridade penal. Esses temas são
recorrentes nas campanhas políticas. Como acredita que se dará esse debate
nestas eleições?
Não temos uma unidade política em relação a muitos desses
temas. Em muitos países, questões como essas foram decididas por plebiscito
porque são temas que dividem verticalmente o sistema político.
É uma questão
mais de valores fundamentais do que um tema de cunho partidário e não creio que
isso deva ser objeto de campanha. Em relação a drogas, o que deve ser discutido
é a maneira de tratar o usuário e a forma mais eficiente de se combater o
tráfico.
O importante é como diminuir a demanda por drogas a partir de
campanhas educativas, de mostrar que droga é uma droga e como tratar a pessoa que
é vítima dessa doença.
No caso do aborto, respeito as objeções morais,
religiosas e até constitucionais, mas há um fato humano que precisa ser levado
em conta. A mulher que decide interromper a gravidez já passa por um sofrimento
muito grande e acho que seria cruel, desumano e ineficaz submetê-la a mais um
castigo, o castigo da lei penal. O Aécio tem uma posição diferente da minha.
Esses temas são mesmo uma questão pessoal.
No ano passado, o senhor disse que o cargo de
vice-presidente é obsoleto. O que mudou?
A minha vocação fundamental em matéria
de atividade política é uma vocação parlamentar, mas considero que essa
candidatura é um desdobramento de toda a minha trajetória política nesses mais
de trinta anos. Em todo caso, acho que a questão do vice precisa ser revista.
Há outras opções para substituição, mas enquanto o cargo continua quero
exercê-lo na plenitude, com dignidade e ajudando o presidente na medida das
minhas forças e das minhas capacidades.
O senhor teve o nome citado no caso que apura formação de
cartel e corrupção no metrô e em trens de São Paulo. Acha que esse assunto será
explorado na campanha pelos adversários?
Não existe investigação em relação a
mim. Houve uma citação [do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, delator
do esquema]. Esse tema do metrô e dos trens está sendo investigado por
iniciativa do governo de São Paulo. Existem pessoas com denúncia e com contas
bloqueadas. As providências de investigação estão sendo tomadas. Se explorar em
programa de TV é coisa do jogo sujo, porque não tem o que explorar. Assim como
não tem que se explorar o mensalão, que já foi julgado. A Justiça foi feita e
os condenados já estão cumprindo pena. Os efeitos desse episódio já se
produziram, e o PT já não pode ter a pretensão de ser monopolista da ética e da
virtude.
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