sábado, 12 de julho de 2014

Um dia na vida de um anarquista independente



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja

Hoje me levantei mais tarde do que o habitual. Desde que deixei de tomar porres tenho dormido melhor.

Acordei decidido a solucionar um tema para não ficar pensando em sexo todas as manhãs. Estou em dúvida se irei masturbar-me pensando em Rosa de Luxemburgo ou em Alexandra Kollontai. Finalmente me decido por esta última.

Outra vez chegarei tarde à Faculdade. Meu primeiro contratempo ocorre quando vejo que minha mãe não lavou a camiseta que tem o logotipo dos anarquistas independentes. Assim, eu tenho que vestir a anticapitalista. No fundo do armário vejo meu tênis Nike de outras épocas, que agora renego.

Atravesso o jardim da casa, saúdo minha vizinha e saio com o carro da mamãe. Chego à Faculdade e vou direto ao bar preparar a assembleia da tarde. No bar me reúno com o Coletivo de Anarquistas Independentes (ou seja, com os autênticos anarquistas). Nós só somos dois (e esse meu companheiro está cada vez mais direitista e acabarei por expulsá-lo do Coletivo), porém estamos de posse da Verdade.

Outro dia um novo companheiro se aproximou de nós, porém como não o conhecíamos, logo deduzimos que fosse um infiltrado e não o aceitamos no Coletivo.

O restante do dia passa rápido. Após cinco horas de Assembleia para decidir a Ordem do Dia deixamos a reunião para outro dia.

À tardinha, fomos até a saída dos operários de uma fábrica, distribuir panfletos. Estou emocionado, pois é a primeira vez que vejo de perto os operários de que tanto falo.

A maioria vem falando de futebol e de mulheres. Somente um parou para falar conosco. E logo descobrimos que é um delegado sindical. Depois de acusá-lo de burocrata sindical e reformista, fomos embora.

Esse foi o meu dia.


Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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