quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Argentina sofrerá as mudanças, ganhe quem ganhar no Brasil

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Dante Sica, economista argentino*


Sejam quais forem os resultados que as eleições possam lançar hoje e de quem governar o Brasil nos próximos quatro anos, haverá mudanças na política e na economia do país.
Buenos Aires, 05 de outubro de 2014

O que cabe perguntar é como esse novo cenário afetará a Argentina, especialmente devido aos desafios que a conjuntura local propõe. E aparecem dois canais principais de impacto: a política interna e a estratégia de relacionamento. No primeiro caso, existe um alto consenso de que a política econômica terá que mudar significativamente.

É porque o desempenho econômico do Brasil vem sendo pobre, afetado por níveis de confiança empresarial e do consumidor em mínimos desde a crise global de 2009, e por taxas de inflação elevadas. E se algum dos opositores for o vencedor é provável que os tempos do ajuste macroeconômico se acelerem. Isso representará um novo desafio para uma economia argentina imersa em seus próprios desequilíbrios e que certamente deverá lidar também com um menor preço da soja.

Assim, o mais provável é que no ano que vem a Argentina enfrente – como em 2014 - uma demanda pouco dinâmica do Brasil, cuja economia se expandiria apenas 1,0%. Isso significará que nossas exportações industriais continuarão sem ser impulsionadas pelo mercado brasileiro. Enquanto isso, e dependendo do sucesso da implementação da guinada na política econômica no ano que vem, as perspectivas para o vizinho poderiam ser um pouco mais favoráveis a partir de 2016.

Por outro lado, também é fundamental perguntar o que se pode esperar em matéria de relacionamento externo. Se Dilma mantiver a presidência, não deveriam ser esperadas mudanças tão significativas.

Contudo, qualquer um dos opositores procuraria reduzir o “custo Brasil” através de uma integração ampla que envolvesse o lado comercial, produtivo, tecnológico e educativo, e facilitasse a chegada de investimentos que hoje estão se dirigindo a outros mercados. De qualquer maneira, ganhe quem ganhar, a recomposição da relação bilateral terá que aguardar até 2016, quando um novo governo argentino assumir.

Para a Argentina deve ficar claro que as eleições do Brasil não incidirão no estrutural, no que está por trás dos vaivens e dissabores conjunturais atuais. E é porque faz vários anos que a Argentina vem perdendo relevância econômica, comercial e até política para o Brasil, o que após o barulho das disputas eleitorais em ambos os países pode começar a se manifestar em uma forma mais independente de tomar as decisões na região.



* Diretor de abeceb.com e ex-secretário de Indústria e Mineração

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