quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Quadrilha petista agiu nos Correios em todo Brasil.


A exemplo do que ocorreu em Mato Grosso, o diretor regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em Santa Catarina, Paulo de Andrade, também enviou cartas aos funcionários da estatal pedindo votos para a presidente Dilma Rousseff e outros candidatos do PT na reta final da campanha do primeiro turno. 
Um panfleto colorido intitulado “Carta aos Ecetistas Eleições 2014” começou a chegar aos endereços residenciais de funcionários dos Correios na quinta-feira, dia 2 de outubro, apenas um dia depois de serem postados, como mostra o registro do selo do envelope de uma das correspondências, à qual O GLOBO teve acesso.
A carta pede votos para Dilma e para petistas derrotados ao governo de Santa Catarina, Claudio Vignatti, e a senador, Milton Mendes. Também são citados a candidata a deputada estadual Ana Paula (PT) e o deputado federal Décio Lima (PT), candidato à reeleição, que venceram.
“Os ecetistas sabem que para continuarmos avançando em novas conquistas, precisamos reafirmar nosso compromisso com o modelo de governo Dilma 13, Vignatti 13, Milton 130, Décio Lima 1313 dep.federal e Ana Paula 13313 dep.estadual”, diz o texto, que atribui supostas melhorias nas condições de trabalho e benefícios ao PT. No pé da página, uma legenda informa que o material foi doado a Décio Lima por Paulo de Andrade, que é diretor regional dos Correios em Santa Catarina desde 2013. Como manda a lei eleitoral, o material tem o número do CNPJ de Lima e informa tiragem de 2.500 exemplares.
FOTOS DE OUTROS DIRIGENTES
O verso do panfleto é ilustrado com a foto de 14 pessoas ao lado de frases de apoio ao deputado petista, embora sem os nomes dos autores. Funcionários da regional catarinense dos Correios ouvidos pelo GLOBO reconheceram no panfleto o rosto do diretor e de pelo menos outros dez ocupantes de cargos de confiança da diretoria regional. Eles atribuem a Décio Lima a indicação de Andrade para o posto. Na frase que aparece ao lado da foto do diretor, ele lembra o passado de Décio Lima como advogado do sindicato dos funcionários dos Correios.
A partir de representação do PSDB, o procurador da República Frederick Lustosa de Mello deu ontem prazo de 30 dias para que a presidente Dilma Rousseff apresente explicações sobre denúncias de uso político dos Correios em favor de sua campanha de reeleição. 
Em Minas, a denúncia de que os Correios teriam privilegiado a entrega de panfletos de Dilma foi acompanhada pela divulgação de um vídeo em que o deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG) atribui a subida da presidente nas pesquisas a um “dedo forte dos petistas dos Correios”. 
Na semana passada, o sindicato dos funcionários dos Correios de Mato Grosso também protocolou um pedido de investigação no Tribunal Regional Eleitoral sobre o envio de cartas aos funcionários nas agências pelo diretor regional Nilton do Nascimento pedindo votos para Dilma.
No caso de Santa Catarina, a correspondência foi envida para a casa dos empregados, o que levantou a suspeita de uso do cadastro da estatal. — Todo mundo sabe que eles fazem campanha para o PT, mas não poderiam usar na carta o nome da empresa. O que mais me espanta é como tiveram acesso aos endereços. Ou usaram a estrutura dos recursos humanos ou do fundo de pensão, o Postalis, que também é aparelhado — disse um funcionário que recebeu a carta na sexta-feira e pediu para não ser identificado.
Ao GLOBO, Paulo de Andrade negou ser afilhado político de Décio Lima, mas confirmou o envio das cartas. Ele explicou que elas foram produzidas pelo grupo de funcionários petistas da estatal do qual participa, e que apareceu como doador na condição de “cidadão”. Filiado ao PT, ele afirmou que só tem feito campanha fora do horário de expediente. Negou o uso do cadastro dos Correios para endereçar as cartas, mas não soube precisar de onde veio a lista de endereços.
— Outros integrantes do grupo cuidaram disso. Pode ter vindo das associações ou do sindicato, que fazem eventos em que funcionários se cadastram. Não usamos o cadastro dos Correios, tanto que não mandamos para todos os funcionários, que são 4 mil em Santa Catarina — disse Andrade.
Procurado, Décio Lima não respondeu. Em nota, a direção dos Correios informou que não identificou qualquer irregularidade nos episódios de Mato Grosso e Santa Catarina, já que as malas diretas foram pagas com recursos particulares e enviadas pelos diretores “na condição de cidadão”. A estatal afirmou que a nomeação de dirigentes nos Correios segue critérios técnicos e não políticos e reafirmou que não há uso eleitoral da estrutura da estatal.
Maria Inês Capelli, presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), diz que há casos parecidos em vários estados, fruto do aparelhamento. Segundo ela, das 27 regionais, 18 têm diretores filiados ao PT. A maioria é ex-sindicalista. — Não é apenas usar a estrutura, mas o cargo para se dirigir aos funcionários para pedir voto. Para os mais simples, como os carteiros, ou os 50 mil que têm cargos comissionados, é um peso forte. Isso é abuso de poder — disse.(O Globo)
 
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