A exemplo do que ocorreu em Mato Grosso,
o diretor regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em
Santa Catarina, Paulo de Andrade, também enviou cartas aos funcionários
da estatal pedindo votos para a presidente Dilma Rousseff e outros
candidatos do PT na reta final da campanha do primeiro turno.
Um
panfleto colorido intitulado “Carta aos Ecetistas Eleições 2014” começou
a chegar aos endereços residenciais de funcionários dos Correios na
quinta-feira, dia 2 de outubro, apenas um dia depois de serem postados,
como mostra o registro do selo do envelope de uma das correspondências, à
qual O GLOBO teve acesso.
A carta pede votos para Dilma e para petistas derrotados ao governo
de Santa Catarina, Claudio Vignatti, e a senador, Milton Mendes. Também
são citados a candidata a deputada estadual Ana Paula (PT) e o deputado
federal Décio Lima (PT), candidato à reeleição, que venceram.
“Os ecetistas sabem que para continuarmos avançando em novas
conquistas, precisamos reafirmar nosso compromisso com o modelo de
governo Dilma 13, Vignatti 13, Milton 130, Décio Lima 1313 dep.federal e
Ana Paula 13313 dep.estadual”, diz o texto, que atribui supostas
melhorias nas condições de trabalho e benefícios ao PT. No pé da página,
uma legenda informa que o material foi doado a Décio Lima por Paulo de
Andrade, que é diretor regional dos Correios em Santa Catarina desde
2013. Como manda a lei eleitoral, o material tem o número do CNPJ de
Lima e informa tiragem de 2.500 exemplares.
FOTOS DE OUTROS DIRIGENTES
O verso do panfleto é ilustrado com a foto de 14 pessoas ao lado de
frases de apoio ao deputado petista, embora sem os nomes dos autores.
Funcionários da regional catarinense dos Correios ouvidos pelo GLOBO
reconheceram no panfleto o rosto do diretor e de pelo menos outros dez
ocupantes de cargos de confiança da diretoria regional. Eles atribuem a
Décio Lima a indicação de Andrade para o posto. Na frase que aparece ao
lado da foto do diretor, ele lembra o passado de Décio Lima como
advogado do sindicato dos funcionários dos Correios.
A partir de representação do PSDB, o procurador da República
Frederick Lustosa de Mello deu ontem prazo de 30 dias para que a
presidente Dilma Rousseff apresente explicações sobre denúncias de uso
político dos Correios em favor de sua campanha de reeleição.
Em Minas, a
denúncia de que os Correios teriam privilegiado a entrega de panfletos
de Dilma foi acompanhada pela divulgação de um vídeo em que o deputado
estadual Durval Ângelo (PT-MG) atribui a subida da presidente nas
pesquisas a um “dedo forte dos petistas dos Correios”.
Na semana
passada, o sindicato dos funcionários dos Correios de Mato Grosso também
protocolou um pedido de investigação no Tribunal Regional Eleitoral
sobre o envio de cartas aos funcionários nas agências pelo diretor
regional Nilton do Nascimento pedindo votos para Dilma.
No
caso de Santa Catarina, a correspondência foi envida para a casa dos
empregados, o que levantou a suspeita de uso do cadastro da estatal. —
Todo mundo sabe que eles fazem campanha para o PT, mas não poderiam
usar na carta o nome da empresa. O que mais me espanta é como tiveram
acesso aos endereços. Ou usaram a estrutura dos recursos humanos ou do
fundo de pensão, o Postalis, que também é aparelhado — disse um
funcionário que recebeu a carta na sexta-feira e pediu para não ser
identificado.
Ao GLOBO, Paulo de Andrade negou ser afilhado político de Décio Lima,
mas confirmou o envio das cartas. Ele explicou que elas foram
produzidas pelo grupo de funcionários petistas da estatal do qual
participa, e que apareceu como doador na condição de “cidadão”. Filiado
ao PT, ele afirmou que só tem feito campanha fora do horário de
expediente. Negou o uso do cadastro dos Correios para endereçar as
cartas, mas não soube precisar de onde veio a lista de endereços.
— Outros integrantes do grupo cuidaram disso. Pode ter vindo das
associações ou do sindicato, que fazem eventos em que funcionários se
cadastram. Não usamos o cadastro dos Correios, tanto que não mandamos
para todos os funcionários, que são 4 mil em Santa Catarina — disse
Andrade.
Procurado, Décio Lima não respondeu. Em nota, a direção dos Correios
informou que não identificou qualquer irregularidade nos episódios de
Mato Grosso e Santa Catarina, já que as malas diretas foram pagas com
recursos particulares e enviadas pelos diretores “na condição de
cidadão”. A estatal afirmou que a nomeação de dirigentes nos Correios
segue critérios técnicos e não políticos e reafirmou que não há uso
eleitoral da estrutura da estatal.
Maria Inês Capelli, presidente da Associação dos Profissionais dos
Correios (Adcap), diz que há casos parecidos em vários estados, fruto do
aparelhamento. Segundo ela, das 27 regionais, 18 têm diretores filiados
ao PT. A maioria é ex-sindicalista. — Não é apenas usar a estrutura, mas o cargo para se dirigir aos
funcionários para pedir voto. Para os mais simples, como os carteiros,
ou os 50 mil que têm cargos comissionados, é um peso forte. Isso é abuso
de poder — disse.(O Globo)
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