Tem certas coisas que só falamos baixinho
por aí, com alguma vergonha. Uma delas é que o PMDB vai, pelo incrível
que pareça, salvar nossa democracia e impedir que o Brasil seja a
próxima Venezuela. Já disse isso várias vezes em palestras e até em
artigos, mas se perguntarem, eu nego!
Brincadeiras à parte, o PMDB se tornou um
partido do “centrão”, mais fisiológico do que qualquer coisa. Um saco
de gatos. Tem de tudo lá. Mas justamente por isso, não lhe interessa
virarmos uma Argentina ou Venezuela, o que mataria a galinha dos ovos de
ouro.
O PT sonha com a hegemonia, com a
instauração do partido único. Quer ser como o PRI mexicano no mínimo, ou
de preferência como os chavistas da Venezuela. O problema é que sua
bancada não dá conta do recado, e ainda saiu reduzida nessas eleições,
com a perda de 18 deputados.
A solução encontrada no passado foi
comprar todos que estavam à venda (e no Brasil tem muita gente à venda).
O mensalão foi isso, o Petrolão também. Com a crise econômica que vem
aí, vai faltar verba. Além disso, os escândalos ainda terão
desdobramentos, há as delações premiadas, e todos estão com mais receio
de punições.
Ou seja, a vida promete não ser nada
fácil para o PT nos próximos anos. Os anseios autoritários encontrarão
barreiras firmes à frente. A começar pela presidência da Câmara, que
deverá ir para Eduardo Cunha, desafeto do partido e tido como
“conservador” para os padrões nacionais.
Em entrevista ao El País,
Cunha disse que o PMDB não fez um “acordo eterno” com o PT, e que a
Câmara não quer o partido na presidência agora, pois sua agenda é muito
ideológica:
P: Você fala sobre essa questão ideológica do PT. A que se refere?
R: Aos
conselhos populares, à regulação de mídia… Pautas que são ideológicas.
Estando na presidência, o poder de colocá-las em discussão será maior.
P: Mas a gente vê que o Congresso está mais conservador. Não há um cenário de mais resistência a pautas mais progressistas?
R: Sem
dúvida, mas não porque o Congresso está mais conservador. Mas porque o
Congresso está mais bem representado do que é a sociedade. A sociedade é
conservadora. O Congresso representa a sociedade. Hoje ele está mais
próximo da sociedade do que esteve antes.
É exatamente por esse motivo que veremos
cada vez mais colunista e “formador de opinião” espalhando por aí que o
PMDB é o grande mal do país, e que precisamos superar esse entrave
parlamentar para que as reformas progressistas possam deslanchar.
A “democracia direta” é o sonho chavista
do PT, para poder manipular os “movimentos sociais” e desviar dos
obstáculos da democracia representativa. Negociar dá trabalho,
contemporizar idem, fechar acordos com base em programas muito mais. O
PT detesta tudo isso. Ele detesta, no fundo, a democracia, usada apenas
como “farsa” para a chegada ao poder.
O PMDB tem sido um aliado importante do
PT, mas está cada vez mais rachado. Até mesmo Sarney votou em Aécio
Neves, e depois que isso veio à tona num vídeo, justificou-se que foi
pela gratidão ao seu avô Tancredo. Afinal, graças ao mineiro ele chegou à
presidência em 1985.
O partido, naquela época, contava com
figuras como Ulysses Guimarães, o D. Quixote da nossa democracia, aquele
que fez da luta pela redemocratização sua cruzada na vida. Muitos
condenavam o antigo MDB na ocasião, por ser “oposição” ao regime
militar, o que daria um verniz de legitimidade aos militares. Ulysses
rechaçava com veemência a alternativa da luta clandestina, pois só
acreditava em solução pelas vias legais, de dentro do sistema.
Assumindo que hoje estamos numa espécie
de regime autoritário e opressor, até golpista, só que do PT, então o
PMDB poderá ser o fiel da balança novamente, aquele que lutará de dentro
do sistema para preservar nossas instituições democráticas. Com todos
os seus defeitos, ainda é a principal arma que temos contra o
bolivarianismo, que deverá ser derrotado pelas vias legais,
fortalecendo-se o Congresso, e não o contrário.
Que o PMDB honre o legado democrático de Ulysses Guimarães!
Rodrigo Constantino
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