quarta-feira, 5 de novembro de 2014

PSDB tenta fugir do rótulo conservador, mas vira referência para voto da direita


Por Anderson Passos - iG São Paulo | - Atualizada às

Lideranças tucanas afastam tese da defesa do impeachment e se mostram contrários a intervenção militar no País

Cativos do voto anti-PT no segundo turno presidencial deste ano, o PSDB saiu do processo eleitoral levando a simpatia da turma mais à direita, defensora, por exemplo, do impeachment da presidente Dilma Rousseff ou da intervenção militar, tese propagada em ato que reuniu duas mil pessoas na Avenida Paulista no último final de semana em São Paulo. Passadas menos de três semanas da eleição, os próprios tucanos se apressam para se afastar do rótulo conservador.
Valter Campanato/ABr
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“Respeito a democracia. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Fui o candidato da liberdade, da democracia”, reagiu o candidato derrotado na sucessão presidencial Aécio Neves ao ser recebido por correligionários e militantes no Senado Federal nesta terça-feira (4).

Aécio enfatizou que o papel do PSDB será o de fazer uma oposição sem tréguas, mas com disposição para o diálogo em projetos de interesse do País. "Se querem dialogar que apresentem propostas que interessem aos brasileiros. No mais, vamos cobrar eficiência, transparência dos gastos públicos e vamos cobrar que as denúncias de corrupção sejam apuradas", sinalizou Aécio.

No dia anterior, Xico Graziano, liderança próxima do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi a uma rede social combater a tese do impeachment e da volta dos militares propagada nas ruas de São Paulo e foi chamado de “petralha”, entre outros insultos.

“De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu!”, exclamou o tucano.

Graziano voltou a postar sobre o assunto nesta quarta-feira (5) se dirigindo aos truculentos que lhe atacaram. “A truculência dessa cambada fascista que me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade para esconder seu autoritarismo.


Nesse sentido, se aproximam daqueles esquerdóides idiotas que querem ‘botar fogo’ no país. Ambos esses grupos, extremistas pela esquerda ou pela direita, são intolerantes e autoritários. Desprezam o regime democrático, ignoram as instituições republicanas. Querem impor, na marra, suas convicções. Eu lhes digo: não passarão.”

Ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira (SP) diz que seu partido não concorda com o rompimento das garantias constitucionais ou qualquer retrocesso.
Fernando Zamora/Futura Press
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Sobre a manifestação na Avenida Paulista, ele comentou não saber “se esse movimento é de esquerda ou de direita” para, a seguir, tecer comentários sugerindo que o eleitor foi privado de informações que poderiam dar a vitória a Aécio na corrida presidencial. “A sociedade brasileira não concorda com o roubo, a corrupção, a perda das garantias sociais. Nós estamos desde às 20h15 do último domingo (26 de outubro) fazendo oposição, mobilizando a imprensa e a sociedade civil. Estamos sendo porta-vozes da condução equivocada do País. Terminada a eleição, passaram a ser conhecidos pela população o déficit na balança comercial brasileira, os graves problemas na economia. O povo é sábio desde que tenha todas as informações.”

Questionado se seu partido migrou do centro para a direita, Duarte Nogueira rejeita a tese. “Acho que é muito cedo para discutir. Mas o PSDB sabidamente é um partido de centro-esquerda, o que está longe dessa abordagem conservadora. O PSDB defende um parlamentarismo plural. Todo extremo tende a ser autoritário. Essa opinião [da migração tucana à direita] é mais uma forçação de barra do PT em relação a nós”, resume.

Direita abraça o PSDB
O cientista político do Insper Carlos Melo tem sua tese em relação a uma provável guinada à direita dos tucanos. "Não acho que o PSDB migrou para a direita. A direita é que abraçou o PSDB. Não o contrário", afirma.

O estudioso aponta que o partido adotou um discurso mais conservador na disputa presidencial de 2006, quando o atual governador paulista Geraldo Alckmin era o candidato do partido na disputa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Houve um debate no segundo turno em que o Alckmin atacou com muita energia o Lula. Essa adoção de um discurso antipetista acabou acontecendo em 2010 com o Serra e também teve reflexos na campanha do Aécio em 2014, quando ele cunhou a expressão 'mar de lama' em um debate. Se o avô dele [Tancredo Neves] ouvisse isso, sacudiria no túmulo", diz.

Para Melo, o PSDB ocupou um espaço da direita antes preenchido pelo malufismo. "Quando o antigo PDS se desmembrou, o malufismo levou consigo a postura ideológica, enquanto o DEM acabou se mostrando extremamente pragmático. Era uma direita ideológica de mentira que, por anos sucessivos, só se manteve porque estava presente na máquina estatal", lembra.

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