Carlos Chagas
Publicado: 5 de novembro de 2014 às 0:00 - Atualizado às 0:25
A presidenteDilma Rousseff
defronta-se com um mistério dentro de um enigma, e não se trata de saber
como dar início à reforma política, nem como recuperar a economia ou,
muito menos, fazer chover nas regiões assoladas pela seca. Sequer onde
buscar seu novo ministro da Fazenda.
O mais importante para a chefe do governo é encontrar
mecanismos para impedir a eleição de Eduardo Cunha presidente da
Câmara, no biênio 2015-16. Porque o parlamentar fluminense, seu
desafeto, tem a vitória nas mãos. Mais da metade da bancada do PMDB o
apoia, junto com as oposições e montes de integrantes de partidos
menores que integram a base parlamentar oficial mas mostram seu
descontentamento diante da postura autocrática do palácio do Planalto.
Bem que a presidente já cuida de arregimentar suas
forças, a partir da unidade do PT. Está cobrando da parte do PMDB que
ainda segue as diretrizes do vice Michel Temer um voto de fidelidade,
junto com partidos supostamente a ela ligados, como PP, PR, PDT e
penduricalhos.
O problema é que graças à sua postura distante e alheia
aos partidos, apesar de haver distribuído ministérios de mentirinha ao
longo dos últimos quatro anos, Dilma despertou reações.
Ganhou a
reeleição por muito pouco e tem consciência de só poder contar com o PT e
a metade menor do PMDB. Além do mais, carece de um candidato natural
para enfrentar o dissidente peemedebista.
Escolhendo um companheiro,
mesmo o fiel Arlindo Chinaglia, custará a emplacá-lo junto às demais
bancadas. Optando por alguém do PMDB, arrisca-se a enfrentar maior
reação do partido que resiste a ser fracionado. A um candidato dos
partidos menores, como Miro Teixeira, talvez falte lastro para
sensibilizar a maioria da Câmara.
Em suma, se precisar engolir Eduardo Cunha, a
presidente passará apertada para lidar com o Congresso, apesar de manter
maioria no Senado. Poderão, a partir do ano que vem, entrar em pauta
projetos contrários aos interesses do governo, em especial os que
aumentarem despesas.
Bem como dormir nas gavetas da Câmara as propostas
necessárias ao desenvolvimento do segundo mandato. Dessa vez, não haverá
como apelar diretamente para a população, não dá para insistir em
plebiscitos ou mesmo referendos. As coisas do Legislativo resolvem-se no
Legislativo. Nem o Lula teria condições de vir em socorro da sucessora.
Houve um presidente que resolveu enfrentar a suposta
maioria parlamentar e venceu, Castello Branco lançou Bilac Pinto, da
UDN, contra o dono da cadeira, Raniéri Mazzilli. Também, além do Ato
Institucional que cassava mandatos, tinha os tanques a seu dispor…
SEM SAÍDA
Dionísio I, tirano de Siracusa, julgava-se um poeta
excepcional e não havia quem o desmentisse, em sua corte. Convidou um
poeta de verdade, Filóxeno, para ouvir seus versos e ouviu dele que nada
valiam.
O infeliz foi condenado a trabalhos forçados nas pedreiras da
Sicília, mas Dionísio arrependeu-se, mandou soltá-lo e ainda lhe
ofereceu um banquete. Apresentou novos versos e, sequioso, indagou a
opinião do homenageado. Filóxeno dirigiu-se aos guardas que cuidavam do
tirano gritando: “Levem-me de volta para as pedreiras!…”
A história se conta a propósito das tentativas da presidente Dilma de dialogar com o Congresso.
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