Discriminação pode levar à prisão, mas agressores são liberados da reclusão pela Justiça rapidamente
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado hoje, foi instituído oficialmente em 2011. Desde então, é feriado em apenas 18,8% do território brasileiro, o que, para ativistas, demonstra o quanto a questão ainda é secundária no Brasil. No Distrito Federal, estatísticas alertam que o problema persiste. E pior: a punição ainda é branda.
Desde a criação, no ano passado, o Disque Racismo já recebeu mais de 15 mil ligações, das quais 207 são por racismo e injúria racial. Segundo a Polícia Civil, em 2013 houve 430 denúncias por injúria racial e outras quatro por racismo. Neste ano, em apenas dois meses foram 62 ocorrências por injúria e outras três por racismo, uma média de 1,3 ocorrências diárias por injúria.
No DF, Brasília foi a campeã de ocorrências por injúria no ano passado, com 74 casos. E neste ano, Ceilândia tomou a frente, com 12. O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, do Ministério Público do DF, por sua vez, foi provocado 60 vezes no ano passado e outras 12 neste ano.
Apesar das ocorrências policiais, Viridiano Custódio, secretário de Promoção a Igualdade Racial (Sepir-DF), é categórico ao afirmar que desconhece um caso em que uma pessoa acusada de racismo tenha permanecido presa. “Embora seja um crime inafiançável e passível de pena de um a três anos de reclusão, não conheço uma pessoa que tenha cumprido a sentença em regime fechado”, destaca.
Flagrante
No começo do ano, uma australiana ofendeu funcionárias e uma cliente de um salão de beleza da 115 Sul. Ela chegou a ser detida, mas não permaneceu presa. O inquérito policial foi finalizado e encaminhado ao Judiciário, onde tramita.
Uma das manicures se mostrou decepcionada com o rumo que o caso tomou. “Até então eu nunca havia sido vítima de preconceito racial. Ela alegou em juízo estar acostumada a fazer isso em seu país. Isso acontece porque a nossa lei é falha. Acredito que leis e, principalmente, penas mais rígidas ajudariam a inibir a ação de pessoas racistas”, desabafou.
Fé no “castigo divino”
Em agosto, o JBr. também mostrou o caso de um flanelinha, vítima de
injúria racial. Ao tentar alertar uma motorista que retirava cones,
colocados pelo Detran no estacionamento da Quadra 6 do Setor Comercial
Sul, Hyeldo Igor Alves, 28 anos, foi chamado de macaco pela condutora
do veículo. Após ter sido alertada por testemunhas de que poderia ser
processada, a mulher fugiu.
Igor trabalha no local há cinco anos de forma regular. “Nós, que
trabalhamos na rua, estamos constantemente sujeitos a isso. Mas não vou
me martirizar, acho que o castigo maior é o divino”, disse.
Para tentar acabar com este tipo de conduta, diversas iniciativas
têm sido criadas, com cunho educativo. Na manhã de ontem, um grupo de
estudantes do Centro de Ensino 2 de Ceilândia fez uma ação contra o
racismo na Universidade de Brasília (UnB). O movimento “Lápis cor da
pele. Qual pele?” foi organizado para combater o racismo dentro e fora
da escola e elevar a autoestima dos alunos.
No projeto, os estudantes desenvolveram redações, fizeram uma
árvore genealógica para conhecer a história de seus antepassados e
pesquisaram a trajetória de personalidades negras. Segundo os
professores, o passeio pela UnB visa permitir que os alunos conheçam a
universidade e se sintam capazes de estudar ali, em breve.
Preconceito até na sala de aula
Eliel de Aquino, professor de Matemática do Centro de Ensino 2 de
Ceilândia, diz já ter sido vítima de racismo e injúria racial diversas
vezes, até na universidade. “Quando era estudante, pedi para sair mais
cedo da aula porque tinha outra atividade, na própria universidade.
Assim que saí da sala, o professor ficou indignado e disse aos alunos
que tinha ‘um bocado de negrinhos abusados como eu em sua fazenda’”,
lembra.
Ao ser apresentado para as famílias das namoradas, também sofria
discriminação. “Muitos pais diziam para as filhas ‘mas ele é negro, como
você pode querer namorá-lo?’, como se ser negro fosse uma doença
transmissível”, conta.
No shopping, ao fazer uma compra, Eliel já foi vítima de racismo.
“Entrei em uma loja de marca, e, quando já estava no caixa, seguranças
se aproximaram. Não sei se alguém os acionou ou se eles resolveram
verificar se estava tudo certo por conta própria, só sei que chegaram de
maneira truculenta. Quando perceberam que estavam equivocados, tentaram
disfarçar”.
No exterior
Fora do Brasil, a situação não é diferente. Recentemente, um caso
de racismo na Coreia chocou o mundo. Ao participar de seleção para dar
aulas em uma universidade, o professor Sean Jones recebeu, por mensagem
de texto, uma resposta dizendo “Desculpe, Sean, mas eles querem um
professor branco”. A mesma mensagem foi enviada a outro professor
negro. (Colaborou Leonardo Resende)
saibamais
Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, ocorre até sexta-feira o
evento Cara e Cultura Negra, a partir das 19 horas, no Panteão da
Pátria, Praça dos Três Poderes. Além de apresentações da Orquestra de
Berimbaus Afinados e do Grupo Batukenjé, quem comparecer poderá conferir
a exposição fotográfica Áfricas Invisíveis, do fotógrafo Sérgio
Ranalli; palestras com os temas “Comissão da Verdade: sobre a Escravidão
no Brasil”, “Memorial da Cultural Afro-Brasileira” e “Fundo
Antirracismo”, entre outras atrações. A entrada é franca.
O colégio Ciman também promoverá uma Hora Cívica da Consciência
Negra. O momento será marcado por danças e interpretações representadas
pelas turmas do Ensino Fundamental 2 (6º e 9º ano). Além dos estudantes e
os professores, a escola receberá familiares dos alunos.
No Centro de Ensino Médio 2 de Ceilândia, durante todo o mês estão sendo desenvolvidas aulas, palestras, oficinas, salas temáticas, desfile e peça teatral. O projeto da escola busca
combater o racismo e elevar a autoestima de estudantes negros e pardos.
Todos os estudantes, professores e equipe da direção estão envolvidos
com as atividades.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Comentario
anonimo
O preconceito contra negros africanos é UNIVERSAL,até os indianos do sul da Índia que são mais escuros de pele do que os próprios africanos negros os desprezam.Alguma razão há de haver e eu acredito que tenha mais a ver com o comportamento dos africanos negros do que com a cor da pele.
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