Investigações ultrapassam divisas, para evitar chegada de drogas
carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) vem intensificando os trabalhos de repressão ao tráfico de drogas nos últimos anos. O diretor da corporação, Jorge Luiz Xavier, considera o saldo de operações positivo, e revela uma das dificuldades no combate ao crime: a atuação interestadual das quadrilhas. “Dessa forma, temos que atuar antes que a droga chegue ao DF, por isso as inúmeras operações em Goiás, Mato Grosso e Paraná”, explica.
Outro ponto relevante, aponta Xavier, é que até 2004 a Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE) “apreendia pouco e perdia muita droga”. “Como exemplo, temos um caso em que desapareceram cerca de 40 kg de cocaína. Hoje vivemos uma situação contrária. A Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) é referência nacional e internacional em investigação, com apreensões recordes e índice de condenação acima de 90%", diz.
Logística
Segundo o chefe da Cord, Rodrigo Bonach, as investigações são estendidas até outros estados para entender a logística do tráfico desde sua origem. “Procuramos saber quem são os fornecedores, como essa droga é transportada e quem está recebendo no DF”, explica.
Só neste ano, a Cord foi responsável pela apreensão de cinco toneladas e 300 kg de maconha. “São três toneladas a mais em relação a 2013 no que diz respeito à maconha”, afirma Bonach. Além disso, a coordenação foi responsável pela detenção de mais de 200kg de cocaína e derivados.
“Isso é resultado do nosso foco em combater organizações criminosas especializadas em tráfico interestadual”, ressalta o delegado, que lembra ainda que Brasília é destino e rota da venda de entorpecentes.
Por isso, outros dois importantes aliados são a Polícia Rodoviária Federal e a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos de Goiás (Denarc). As BRs 060 e 020 são canais fortes de remessa de drogas. “Goiás e DF são entrepostos nacionais de drogas. A gente tem um problema sério com a questão geográfica”, ressalta.
Prevenção, tratamento e repressão
Trabalham na Cord 72 pessoas, entre investigadores, delegados,
agentes administrativos e escrivães, número que deve aumentar nos
próximos anos. “A repressão poderia ser mais eficiente se esse corpo
fosse mais robusto. Mas, ainda assim, tem feito muito bem o seu serviço.
À medida que especializamos mais policiais, a tendência é de um
incremento de prisões e apreensões”, destaca Rodrigo Bonach.
Para o chefe da Cord, a polícia combate a consequência, quando tudo
mais já deu errado. Por isso, é preciso investir em prevenção. “Uma
questão fundamental é a relação diplomática com países produtores. Os
representantes brasileiros precisam ter uma posição rigorosa e dizer
‘olha, estamos padecendo de um problema social e criminal grave por
conta do tráfico’. Acho que falta isso”, diz.
Outro investimento necessário, ressalta Bonach, é no tratamento dos
usuários. “Até pouco tempo atrás, o DF estava na lanterna da quantidade
de centros de atenção psicossocial. Agora deu uma melhorada, mas
ainda não está suficientemente aparelhado. Se você trata o consumo,
diminui a demanda. Quando a demanda diminuir, a oferta tende a cair. E
esse tipo de ação não depende da polícia. Nós ficamos no meio desse
sanduíche. Quando dá errado na fronteira e na prevenção, isso deságua em
nossas mãos. Aí, fazemos a repressão, que é nossa obrigação”, conclui.
Caminho traçado
Para combater o tráfico dentro do DF, a Cord traçou uma espécie
de rota, com as regiões em que as drogas circulam em maior volume.
“Tradicionalmente, isso acontece mais em Ceilândia, Gama, em
Samambaia, em Planaltina e no Entorno”, explica. No caso das cidades
vizinhas, lembra o delegado, boa parte serve de depósito. “O tráfico
na região central é mais pulverizado. São traficantes médios e pequenos
que distribuem as drogas de maneira mais difusa, ou para traficantes
varejistas, que repassam aos consumidores”, detalha o delegado Rodrigo
Bonach.
Hoje, o principal produtor da maconha, conta Bonach, é o
Paraguai, país vizinho do Brasil. “No Nordeste há o chamado Polígono da
Maconha. Mas a qualidade da droga é inferior à do Paraguai, que passou
a distribuir a droga lá”, diz o delegado. Já a cocaína e derivados
são distribuídos principalmente pela Bolívia, Peru e Colômbia, sendo o
primeiro o principal produtor.
“A Bolívia tem fronteira seca gigantesca com o Brasil.
Traficantes de lá remetem as drogas por meio do Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Rondônia e Acre. A Colômbia envia, principalmente, aos
Estados Unidos. Por isso, os traficantes daqui preferem buscar a cocaína
na Bolívia e do DF remetê-las aos grandes centros”, diz. Já as drogas
sintéticas (LSD E ecstasy) vêm da Europa e chegam de navio ou avião.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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