sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Crianças deixadas em carros: reflexo de sociedade que se move no automático

Criança de 2 anos é encontrada morta dentro de carro na Rua Vinte e três de Maio, em São Bernardo do Campo 

Foto Revista VEJA


Nesta semana, duas meninas morreram ao serem deixadas pelos pais dentro de veículos. Especialistas dizem que fatos não são causados por negligência



O velório de Clarisse, 1 ano e 11 meses, que morreu ao ser esquecida no carro pela mãe, foi repleto de emoção no fim da tarde de ontem no Cemitério da Paz, em Belo Horizonte. Em estado de choque, a técnica em eletrônica Renata Barbosa, 36 anos, ainda não teve condições de prestar depoimento. Em São Paulo, uma menina de 2 anos e 4 meses morreu da mesma maneira depois de passar horas dentro do veículo do pai. 


Nas duas situações, os pais deveriam deixar as garotas na escola e seguiriam para o trabalho. Entretanto, isso não aconteceu. Eles trabalharam normalmente e quando saíram para buscar as filhas se deram conta do ocorrido. Para especialistas, essas tragédias não são causadas por negligência ou abandono. Elas são reflexo de uma sociedade que se move no modo automático.


“Estamos em um ritmo de vida acelerado com excesso de informação. Fazemos mil coisas ao mesmo tempo agindo feito robôs, sem perceber o que estamos realmente fazendo”, analisa a professora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas Ana Elisa Fontes Villas. Para a especialista em psicanálise Sônia Flores, a mente pode nos trair diante de pressões. “Os pais foram enganados por motivos do inconsciente. Não é um mecanismo racional.”



Saiba mais

O fato de ficar trancada dentro de um veículo é extremamente perigoso para crianças pequenas, porque elas ainda não têm a capacidade de equilibrar a temperatura interna do corpo com a externa, como acontece em adultos. Ela elimina água no suor muito mais rápido e a desidratação provoca uma parada cardíaca. De acordo com a coordenadora da ONG Criança Segura, Gabriela Freitas, a situação é considerada um acidente, pois acontece de forma não intencional.

 

Rotina
Para a psicóloga Ana Elisa, no ritmo atribulado da vida moderna, não há possibilidade de sair da rotina. No caso de Minas Gerais, por exemplo, o pai era quem levava a filha para a escola, mas, na última quarta-feira, foi a mãe. “Geralmente, o pai que deixava a criança no período da manhã e buscava. E a mãe quebrou essa rotina, pelo fato de o marido estar trabalhando. Ela esqueceu a criança dentro do veículo e foi trabalhar, levar a vida normal”, explica o sargento da Polícia Militar, Alexandre Martins.



O corpo de Clarisse foi velado, na manhã de ontem em uma capela da Região do Barreiro. Durante a cerimônia, os parentes e amigos da família estavam muito abalados e não quiserem prestar depoimentos sobre o caso. Renata não pôde ser ouvida por estar em estado de choque. A data para o depoimento ainda não foi definida pela Polícia Civil.



Em São Bernardo do Campo (SP), o servidor público Rodrigo Machado pegou a filha Marina na casa da avó e, em vez de levá-la para a escola, foi direto para o trabalho. Ao chegar na creche no fim do dia para buscar a menina, foi informado pelas funcionárias que Marina não tinha ido à escola. Só neste momento que ele viu a menina dentro do carro, já sem vida. O pai ficou completamente abalado e passou a noite na delegacia prestando depoimento com a mãe da criança, que estava inconsolável. Os dois não quiseram falar com a imprensa.



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