Nessas
primeiras semanas, a participação coadjuvante do Brasil no desenho do
eixo China-América Latina, a pouca atenção que o país conferiu à marcha
de Paris contra o terror e o anúncio da ausência da chefe de Estado no
Fórum de Davos 2015 prenunciam uma diplomacia do “mais do mesmo”.
Costuma-se dizer que a formulação da política externa cabe ao Palácio do Planalto; ao Itamaraty, sua execução. O problema é que não há na atual chefe de Estado qualquer predileção ou talento para o palco internacional, seja na condição de roteirista, diretor ou ator.
Daí a importância do novo chanceler, que terá de chamar a si a responsabilidade de “proteger” a política externa dos efeitos depreciadores do desinteresse ou da inépcia de Dilma. É tarefa nada fácil.
APESAR DE DILMA…
Muito do sucesso do Itamaraty nestes próximos quatro anos residirá na implementação da diplomacia não “com” a presidente, mas “apesar” dela.
Mesmo assim, é preciso entender que o ocaso da política externa não se origina exclusivamente da incompatibilidade Dilma-mundo.
Não resulta, tampouco, de disputas interministeriais por espaço características do jogo político em qualquer capital. Não é, ainda, tão-somente fruto de panorama fiscal que constrange o orçamento diplomático.
O principal fator a explicar o enfraquecimento do Itamaraty é a série de erros estratégicos que o Brasil vem cometendo. E esse conjunto de equívocos remonta a Lula 1.0.
Compõe-se sobretudo do foco ideológico nas relações Sul-Sul. A fatura chega agora na forma de uma pálida projeção do Brasil no cenário internacional.
No desejado caminho de volta do Brasil a um maior destaque no exterior, há muitos obstáculos conjunturais. Commodities minerais em que desfrutamos de vantagens comparativas experimentam inferno astral. Mas há também bom número de armadilhas adiante. Vão aqui dois exemplos.
E OS BRICS?
Inicia-se em abril a presidência russa dos Brics. Acossada por sanções do Ocidente e pauperizada pelo baixo preço do petróleo, Moscou pode imprimir caráter “confrontacionista” ao grupo. É tudo que os Brics não precisam num ano que tem de ser marcado pela inauguração pragmática do Novo Banco de Desenvolvimento.
Em nossa vizinhança, ao passo que no mundo real a Argentina pretere o Brasil à China como parceiro privilegiado de negócios, Axel Kiciloff, ministro da Economia de Cristina Kirchner e candidatíssimo à Casa Rosada, entoa canto de amor ao Planalto petista.
Sugere que as agruras internacionais da Petrobras derivam do apetite de fundos como o Aurelius, um dos “abutres” da dívida argentina, que agora lançaria “ataque simultâneo” para desestabilizar as maiores economias do Cone Sul.
Se o Brasil deseja uma nova política externa, terá de desviar com sabedoria de agendas que nada contribuem ao interesse nacional.
26 de janeiro de 2015
Costuma-se dizer que a formulação da política externa cabe ao Palácio do Planalto; ao Itamaraty, sua execução. O problema é que não há na atual chefe de Estado qualquer predileção ou talento para o palco internacional, seja na condição de roteirista, diretor ou ator.
Daí a importância do novo chanceler, que terá de chamar a si a responsabilidade de “proteger” a política externa dos efeitos depreciadores do desinteresse ou da inépcia de Dilma. É tarefa nada fácil.
APESAR DE DILMA…
Muito do sucesso do Itamaraty nestes próximos quatro anos residirá na implementação da diplomacia não “com” a presidente, mas “apesar” dela.
Mesmo assim, é preciso entender que o ocaso da política externa não se origina exclusivamente da incompatibilidade Dilma-mundo.
Não resulta, tampouco, de disputas interministeriais por espaço características do jogo político em qualquer capital. Não é, ainda, tão-somente fruto de panorama fiscal que constrange o orçamento diplomático.
O principal fator a explicar o enfraquecimento do Itamaraty é a série de erros estratégicos que o Brasil vem cometendo. E esse conjunto de equívocos remonta a Lula 1.0.
Compõe-se sobretudo do foco ideológico nas relações Sul-Sul. A fatura chega agora na forma de uma pálida projeção do Brasil no cenário internacional.
No desejado caminho de volta do Brasil a um maior destaque no exterior, há muitos obstáculos conjunturais. Commodities minerais em que desfrutamos de vantagens comparativas experimentam inferno astral. Mas há também bom número de armadilhas adiante. Vão aqui dois exemplos.
E OS BRICS?
Inicia-se em abril a presidência russa dos Brics. Acossada por sanções do Ocidente e pauperizada pelo baixo preço do petróleo, Moscou pode imprimir caráter “confrontacionista” ao grupo. É tudo que os Brics não precisam num ano que tem de ser marcado pela inauguração pragmática do Novo Banco de Desenvolvimento.
Em nossa vizinhança, ao passo que no mundo real a Argentina pretere o Brasil à China como parceiro privilegiado de negócios, Axel Kiciloff, ministro da Economia de Cristina Kirchner e candidatíssimo à Casa Rosada, entoa canto de amor ao Planalto petista.
Sugere que as agruras internacionais da Petrobras derivam do apetite de fundos como o Aurelius, um dos “abutres” da dívida argentina, que agora lançaria “ataque simultâneo” para desestabilizar as maiores economias do Cone Sul.
Se o Brasil deseja uma nova política externa, terá de desviar com sabedoria de agendas que nada contribuem ao interesse nacional.
26 de janeiro de 2015
Marcos Troyjo
Folha
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