Ricardo Melo
Folha
Transformado em porta-voz oficioso do governo Dilma, o ministro Joaquim Levy está com tudo e está prosa. Sua mais recente novidade é destruir o seguro-desemprego. Ok, depois surgem os desmentidos habituais, como manda o figurino. Mas o mal já foi feito.
Diz-se nos corredores do poder que a presidente Dilma repousa no silêncio desde a posse para fazer com que o ônus do ataque aos direitos dos trabalhadores recaia sobre a troica brasileira – Levy, Barbosa e Tombini. Alô, Planalto, temos uma péssima notícia. Conhecendo Dilma, o PT e o ministério saco de gatos montado pela presidente, mesmo o sujeito mais desavisado percebe que nenhuma das medidas anunciadas deixa de contar com o aval presidencial. Algumas como balões de ensaio, outras nem tanto.
A afonia política da presidente tem seu custo. Pode-se até tentar entender o seu timing: a verdadeira eleição no “presidencialismo de coalizão” vai ocorrer em 1° de fevereiro, com a escolha do presidente da Câmara. Ganhando Eduardo Cunha (do “aliado” PMDB!), a fatura sairá bem mais cara. Nada que o dinheiro público não possa comprar, principalmente em se tratando de quem se trata. Mas a dor de cabeça certamente será maior.
Problema: os cálculos dos políticos oficiais raramente coincidem com o cronograma do cidadão. Estamos em janeiro, mês de férias para estudantes e para muitos trabalhadores. Normalmente um período de calmaria. Mesmo assim, movimentos como o passe livre conseguem mobilizar milhares de pessoas contra o aumento de tarifas. Greves se espalham, o espectro das demissões nas empresas envolvidas no esquema Lava Jato não para de crescer, e as consequências da falta d’água e de energia apavoram a população de metrópoles inteiras.
HAJA PACIÊNCIA
Diante do quadro cuja gravidade salta aos olhos, nada se ouve de positivo do pessoal de Brasília. Ao contrário: as promessas são de um presente de dificuldades, para, quem sabe, um futuro melhor daqui a dois, três anos. Haja paciência.
Vale a pena? Na semana que passou, a ONG Oxfam divulgou um relatório mostrando que o ganho da fatia 1% mais rica da população do planeta avança sem parar e deve ultrapassar 50% do total em 2016. Ou seja, 1% sozinho vai possuir mais da metade do que os 99% restantes. Boa parte disso é resultado de especulação financeira e de heranças e bens que passam de pai para filhos graças à sobrenomecracia.
Não é preciso ser nenhum Piketty para concluir: reduzir tamanha desigualdade e espoliação desenfreada são providências básicas. Menos no Brasil. Fala-se muito da carga tributária “excessiva” no país, mas pouco de quem paga a fatura. Quando a lente se aproxima, o assunto revela sua verdadeira dimensão.
Estudo da professora Lena Lavinas, citado em artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo na revista “Carta Capital” nº 832 evidencia: os que ganham até dois salários mínimos entregam ao governo 53,9% da renda, considerando-se todos os impostos.
Já os que recebem acima de 30 salários mínimos contribuem com apenas 29% de sua renda. Qual nosso bruxo das finanças, esses últimos certamente terão água em abundância nas piscinas, energia elétrica à farta e escaparão das agruras despejadas sobre o cidadão comum.
Eis o centro do problema. Sem atacá-lo, nenhum governo estará à altura dos votos que recebeu. As eleições na Grécia que o digam.
PERGUNTA SEM RESPOSTA
Por que Andrade Gutierrez e Odebrecht até agora estão a salvo das garras do “justiceiro” Moro – assim como os verdadeiros proprietários das empreiteiras acusadas de corrupção?
Folha
Transformado em porta-voz oficioso do governo Dilma, o ministro Joaquim Levy está com tudo e está prosa. Sua mais recente novidade é destruir o seguro-desemprego. Ok, depois surgem os desmentidos habituais, como manda o figurino. Mas o mal já foi feito.
Diz-se nos corredores do poder que a presidente Dilma repousa no silêncio desde a posse para fazer com que o ônus do ataque aos direitos dos trabalhadores recaia sobre a troica brasileira – Levy, Barbosa e Tombini. Alô, Planalto, temos uma péssima notícia. Conhecendo Dilma, o PT e o ministério saco de gatos montado pela presidente, mesmo o sujeito mais desavisado percebe que nenhuma das medidas anunciadas deixa de contar com o aval presidencial. Algumas como balões de ensaio, outras nem tanto.
A afonia política da presidente tem seu custo. Pode-se até tentar entender o seu timing: a verdadeira eleição no “presidencialismo de coalizão” vai ocorrer em 1° de fevereiro, com a escolha do presidente da Câmara. Ganhando Eduardo Cunha (do “aliado” PMDB!), a fatura sairá bem mais cara. Nada que o dinheiro público não possa comprar, principalmente em se tratando de quem se trata. Mas a dor de cabeça certamente será maior.
Problema: os cálculos dos políticos oficiais raramente coincidem com o cronograma do cidadão. Estamos em janeiro, mês de férias para estudantes e para muitos trabalhadores. Normalmente um período de calmaria. Mesmo assim, movimentos como o passe livre conseguem mobilizar milhares de pessoas contra o aumento de tarifas. Greves se espalham, o espectro das demissões nas empresas envolvidas no esquema Lava Jato não para de crescer, e as consequências da falta d’água e de energia apavoram a população de metrópoles inteiras.
HAJA PACIÊNCIA
Diante do quadro cuja gravidade salta aos olhos, nada se ouve de positivo do pessoal de Brasília. Ao contrário: as promessas são de um presente de dificuldades, para, quem sabe, um futuro melhor daqui a dois, três anos. Haja paciência.
Vale a pena? Na semana que passou, a ONG Oxfam divulgou um relatório mostrando que o ganho da fatia 1% mais rica da população do planeta avança sem parar e deve ultrapassar 50% do total em 2016. Ou seja, 1% sozinho vai possuir mais da metade do que os 99% restantes. Boa parte disso é resultado de especulação financeira e de heranças e bens que passam de pai para filhos graças à sobrenomecracia.
Não é preciso ser nenhum Piketty para concluir: reduzir tamanha desigualdade e espoliação desenfreada são providências básicas. Menos no Brasil. Fala-se muito da carga tributária “excessiva” no país, mas pouco de quem paga a fatura. Quando a lente se aproxima, o assunto revela sua verdadeira dimensão.
Estudo da professora Lena Lavinas, citado em artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo na revista “Carta Capital” nº 832 evidencia: os que ganham até dois salários mínimos entregam ao governo 53,9% da renda, considerando-se todos os impostos.
Já os que recebem acima de 30 salários mínimos contribuem com apenas 29% de sua renda. Qual nosso bruxo das finanças, esses últimos certamente terão água em abundância nas piscinas, energia elétrica à farta e escaparão das agruras despejadas sobre o cidadão comum.
Eis o centro do problema. Sem atacá-lo, nenhum governo estará à altura dos votos que recebeu. As eleições na Grécia que o digam.
PERGUNTA SEM RESPOSTA
Por que Andrade Gutierrez e Odebrecht até agora estão a salvo das garras do “justiceiro” Moro – assim como os verdadeiros proprietários das empreiteiras acusadas de corrupção?
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