07/01/2015 19h49
Escolas e blocos terão de 'se virar' com verba própria e parceiros privados.
Rombo de R$ 3,5 bilhões apurado pelo governo teria motivado decisão.
Fantasias de carnaval em linha de montagem no barracão da Aruc, no Distrito Federal (Foto: TV Globo/Reprodução)
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A decisão foi tomada pelo próprio governador, Rodrigo Rollemberg, após
uma conversa com secretários que compõem o grupo "Governança DF", criado
para avaliar as contas públicas da capital. Em coletiva durante a tarde,
a equipe econômica do GDF divulgou um rombo previsto de R$ 3,6 bilhões
para o fim de janeiro, baseado no déficit de R$ 3,1 bilhões que foi
entregue pela gestão anterior.- Sem repasse do GDF, escolas de samba propõem carnaval em abril
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Mais cedo, o secretário de Turismo, Jaime Recena, afirmou que os demais eventos previstos na agenda, como o aniversário de Brasília em 21 de abril, estão sendo avaliados e também podem sofrer cortes ou cancelamentos. Segundo ele, as decisões políticas para contornar o déficit podem implicar em "cortar na própria carne".
"Não é possível garantir nada, é o terceiro dia útil de governo. Eu estaria sendo irresponsável se batesse o martelo para falar destes outros eventos. Nós cancelamos a Universiade, mas ela exigia um investimento de R$ 2 bilhões, impensável. Os outros eventos são menores, ainda vamos definir o que será feito", afirmou Recena ao G1, durante a tarde.
Sem garantia dos recursos, as escolas de samba do Distrito Federal chegaram a propor a mudança do período dos desfiles para abril, mas a proposta não teve consenso entre os organizadores.
Blocos
Em 2014, além das escolas e blocos tradicionais, o GDF também repassou investimentos para os blocos "independentes" de rua, que ganharam espaço nos últimos anos na cidade. Policiais e agentes do Detran atuaram para garantir o isolamento de vias e a segurança dos foliões, e equipes do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) fizeram escala especial para recolher o lixo deixado pelos blocos.
Segundo Jaime Recena, o apoio a estes grupos também foi cancelado, frente à falta de dinheiro em caixa, mas a segurança está garantida nos blocos que conseguirem se organizar. Para a publicitária Rosely Youssef, organizadora do bloco "Babydoll de Nylon", o abandono do GDF pode comprometer o crescimento registrado pela festa popular nos últimos anos.
"O Babydoll e os outros independentes trabalhamos com recursos próprios ou ajuda do governo. Não temos grandes patrocínios, mas crescemos muito e isso requer uma estrutura maior de segurança, posto médico, isolamento", afirma. Em 2014, o bloco reuniu entre 10 mil e 15 mil foliões em um circuito na Praça do Cruzeiro, próximo ao Memorial JK no Eixo Monumental.
Rosely diz que a organização busca um "plano B" com financiamento privado, mas as empresas estariam reticentes em investir na festa. "Foi um ano muito conturbado para os empresários. Eles estão receosos, segurando verbas, não há muito dinheiro disponível para patrocínio", explica. "Os brasilienses passaram a ver o carnaval da cidade como uma opção. Não pensam mais em viajar, em fugir da cidade na época. Sem o apoio do governo, a gente corre o risco de retroceder nesse sentido".
Organizador do Suvaco da Asa, bloco de pré-carnaval no Cruzeiro, o biólogo Wagner Lucena diz contar com os foliões e com amigos para contribuir de "forma direta ou indireta" e garantir a festa. "Não há plano B, as parcerias privadas sempre foram nosso plano A. O maior apoio do GDF foi com a estrutura física permanente, com pessoal. É um apoio que vai além do financeiro", afirma.
Escolas
Em julho de 2014, o governador Agnelo Queiroz aprovou o projeto para o Carnaval de 2015, com repasses previstos de R$ 6,35 milhões para escolas de samba e blocos. A primeira parcela deveria ter sido entregue em outubro, mas três meses depois, nenhum dinheiro tinha sido depositado.
O presidente do bloco de enredo de Águas Claras, Fabiano Leitão, afirma que a mão de obra para a confecção dos adereços foi "importada" do Rio de Janeiro. "Só na Gigantes da Colina, a gente já gastou por volta de R$ 120 mil."
No barracão da Aruc, que abriga o trabalho de sete das 21 escolas da capital, a confecção de fantasias e alegorias começou em agosto. "A gente acorda todo dia 8h, vem pro barracão, às 3 da madrugada vai embora. O espetáculo não pode parar", afirma o carnavalesco Fábio Santos.
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