A marca da esquerda caviar é o contraste
entre discurso e prática, ou seja, aquilo que chamamos de hipocrisia.
Impermeáveis aos fatos, seus ícones preservam suas ideologias, pois
delas precisam como o viciado precisa do ópio. Focam apenas na retórica,
nas palavras, na beleza dos discursos, nas intenções propaladas.
São os igualitários, os justiceiros do
mundo, que falam em nome dos pobres e oprimidos, ainda que sejam do
andar de cima, da maldita “elite”. Uma “vibe” e tanto que isso produz em
seus cérebros, liberando doses cavalares de serotonina. Diga, espelho
meu, existe alguém mais abnegado do que eu?
E é assim que ditaduras assassinas como a
cubana conseguem ficar imunes ao escrutínio da realidade. Prevalece a
versão, o mito, a narrativa. Nenhuma criança dorme na rua. A medicina é
um sucesso. A educação é maravilhosa. Não há desigualdade. As conquistas
sociais justificam a opressão, se é que ela existe mesmo. E por aí vai…
Claro, basta uma leitura mais imparcial
ou isenta para saber que é tudo mentira. Mas os “intelectuais” sacam
logo sua arma da cartola: mídia golpista e vendida, lacaios do império
estadunidense, elites mentirosas. Leu na Veja? Tinha que ser! Se quiser
se informar de verdade, tem que ler a Caros Amigos…
Ou, claro, visitar a ilha de Fidel. O que
cada vez mais gente tem feito, pois sentem no ar as mudanças
inevitáveis que poderão destruir o museu a céu aberto, uma nação toda
parada no tempo há meio século. Mas quem vai lá com um mínimo de
honestidade intelectual, e não fica restrito aos belos locais de
turismo, só pode sair com uma conclusão: socialismo é sinônimo de
inferno!
Foi o caso de Cora Rónai, que escreveu seu diário de Havana. E também o caso do escritor e produtor de cinema José Paulo Lanyi, que publicou um artigo
hoje na Folha revelando sua experiência em Cuba. O que mais chamou sua
atenção foi o “apartheid” existente no país, claramente dividido entre
os privilegiados pela ditadura e o resto, que vive na penúria total. Ele
conclui:
O
contraste entre o que se pode ter e o que se vê nas mãos dos
estrangeiros e da minoria habilitada gera grande insatisfação popular.
Muitos
falam mal do governo e dizem que, enquanto a massa se sacrifica, Fidel
Castro, integrantes de seu regime, artistas e esportistas famosos vivem
em mansões em uma região rica a oeste de Havana.
Voltamos
para o Brasil com uma imagem que sintetiza o sentimento desse povo. Em
Varadero, um brasileiro deu o seu mergulho, pegou a toalha na cadeira e
rumou para um hotel da rede Meliá. Ostentava, no braço bronzeado, uma
tatuagem de Che Guevara.
Ou seja, um típico membro da esquerda
caviar! Um sujeito que deve se sentir o máximo, uma alma nobre que paira
acima dos reles mortais gananciosos e egoístas, tudo porque diz defender o socialismo e gravou na pele a imagem do guerrilheiro assassino eternizada por Korda.
Não basta mais nada. Não precisa viver de
acordo com o que prega. Pode continuar desfrutando do que só o
capitalismo pode oferecer, e daquilo que os cubanos dariam uma mão para
ter. Desde que diga que adora o socialismo e mostre sua tatuagem do Che.
Pronto! Um sujeito sensível, engajado,
preocupado com os pobres. Agora pode pedir mais uma rodada de camarão
com vinho branco em paz, enquanto os cubanos permanecem presos no
inferno e sob um claro “apartheid” que separa o povo da nomenklatura. Somos todos iguais, mas uns mais iguais que os outros…
Rodrigo Constantino
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