O petista em visita a São Paulo na última terça (10): promessa de oposição dura aos adversários, mas só a partir de maio
O ex-governador Agnelo Queiroz foi
entrevistado neste final de semana pela jornalista Lilian Tahan da
revista Veja Brasília. Um brilhante trabalho. O ex-governador fez
diversas acusações ao atual governo, além de afirmar que não deixou
rombo algum nos caixas do Governo do Distrito Federal (GDF). Agnelo
promete fazer oposição cerrada ao governador Rodrigo Rollemberg.
Leia parte da entrevista
Leia parte da entrevista
O
atual governo afirma que sua administração deixou um rombo nas contas
públicas de 4 bilhões de reais. O senhor foi irresponsável?
Essa
é a primeira grande mentira de Rollemberg. Deixei 1 bilhão de reais em
caixa quando saí. O governo dele disse que só tinha 67 000 reais na
conta. Os dados oficiais provam que isso é mentira. O GDF tem 55 contas,
entre o BRB, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Eles mostraram só o
que interessava. Quando a Justiça, recentemente, obrigou o GDF a pagar
os servidores sem fatiar salários e o governador cumpriu a medida, ficou
claro que se tratava de uma farsa, que a verba estava em caixa. Ou eles
fizeram o dinheiro brotar?
O
senhor também não convenceu o Tribunal de Contas nem o Ministério
Público sobre a sanidade das finanças de seu governo. Trata-se de um
complô?
O
governo de Rollemberg se vale de táticas nazistas na tentativa de me
destruir. Repete uma mentira mil vezes para ver se ela vira verdade.
Alega que eu deixei dívidas a partir de cálculos sobre compromissos
futuros do governo. Isso é um absurdo contábil, mas alguns setores
sérios da sociedade chegaram a acreditar. Dos mais de 100 000
servidores, 9 000 faziam aniversário em dezembro e deveriam receber o
13º salário no mês subsequente, em 5 de janeiro. É um dos casos em que
não se pode falar em atraso. No ano passado, tivemos dificuldade de
fechamento de contas, como no resto do Brasil. A diferença é que perdi a
eleição e houve uma descontinuidade. Para Rollemberg, a campanha não
acabou. Ele não desceu do palanque. Rollemberg, não. O governador Hélio
Doyle, porque quem governa é o Hélio. Ele também organiza as mentiras e
as passa para a população. Brasília vive uma crise fabricada.
O senhor é réu em duas ações que bloquearam seus bens e contas. Acha que terá condições de provar sua inocência?
Em
uma dessas ações, o MP alegou que a inauguração do Centro
Administrativo foi um capricho, por ter sido realizada no final do
governo. Mas eu estava em pleno exercício do meu mandato popular e
soberano. E todos os pressupostos estavam em dia. Se eu não emitisse o
habite-se, aí, sim, teria de responder. Cumpri minha obrigação.
Entreguei um prédio fundamental para melhorar a rotina da população.
Mas entregou de maneira precária, sem móveis, por exemplo.
E
no Mané Garrincha? Há móveis e computadores? Transformar o estádio em
centro administrativo tendo um espaço apropriado para o funcionamento da
burocracia é um disparate. Um governo que entra não pode destruir tudo o
que seu antecessor fez para alimentar um revanchismo ignorante.
O
senhor investiu tempo e verba pública para trazer a Universíade e a
Fórmula Indy a Brasília. O atual governo o acusa de não ter deixado
dinheiro para a realização dos projetos. Quem vai pagar essa conta?
Cancelar
essas parcerias depois do esforço gigantesco que fizemos para colocar
Brasília no calendário internacional é um crime contra a cidade. Os
eventos movimentam hotéis, táxis, lojas, toda a cadeia produtiva do
turismo, geram emprego e renda. Só a Fórmula Indy deixaria 100 milhões
de reais na cidade. Sem falar que a atitude irresponsável do
cancelamento compromete a imagem do DF. Brasília vai levar décadas para
recuperar a confiança internacional, além de ter de arcar com uma
indenização milionária. Esse governo é mesquinho, tem uma visão pequena
da capital do país. Achar que todo o esforço de cooperação internacional
era para justificar viagens ao exterior mostra uma compreensão miúda da
gestão pública.
Poucos
meses após ter deixado o governo, o senhor já responde a nove ações de
improbidade, a maior parte delas por nepotismo. Faltou atenção à lei que
proíbe o emprego de parentes no governo?
Fui
eu que fiz essa lei. Temos hoje uma legislação de transparência que é
invejável. Mas é que um governador assina muitas nomeações e, nessas
situações, foram parentes em áreas diferentes do governo. Assim que
tomei conhecimento, pelo próprio MP, mandei demitir um dos familiares.
Mas, convenhamos, estamos falando de meia dúzia de casos em um universo
de mais de 100 000 servidores. Dê uma olhada no governo Rollemberg. O
presidente da Caesb e o diretor do DER são irmãos, os Ludovice.
O
senhor passou quatro anos à frente do governo, seis meses como
interventor da saúde. Hoje se sentiria seguro em indicar tratamento em
um hospital público do DF para algum parente seu?
Não só tenho coragem como fui atendido no HRT (Hospital Regional de Taguatinga) quando machuquei a perna em um acidente de moto.
O senhor tinha a prerrogativa do cargo. Dramático é para a dona Maria e o seu Francisco, não?
No
meu governo, melhoramos o atendimento nas emergências, criei a sala
vermelha. O Hospital de Base é referência no atendimento dos casos mais
graves. Investimos 5,6 bilhões de reais nessa área, o maior aporte entre
todos os estados. Recuperei a emergência do HRT, do HRP (Planaltina),
fiz seis UPAs, nove clínicas da família, coloquei o Hospital da Criança
para funcionar. Contratei 14 000 profissionais de saúde e melhorei o
salário dos servidores, não só os da saúde. Todos os aumentos foram
calculados com base na média de arrecadação do DF. Dei conta de pagar de
2011 a 2014. Por que agora esse governo diz que não pode honrar os
compromissos? Porque tem prioridades diferentes e manipulou quanto pôde
para tirar um direito adquirido pelos funcionários. E o mais triste é
que políticos que sentaram comigo para negociar esse aumento hoje fazem o
jogo do contra.
De quem o senhor está falando?
Cristovam Buarque, por exemplo.
Os
amigos o tratam carinhosamente por Magrão, dizem que tem abraço de
urso. Os adversários o chamam de Agnulo e dizem que no GDF o senhor
esteve mais para bicho-preguiça. Como se autoavalia?
Os
adversários estão no papel deles, desde que assumi tentam me
desconstruir. Quem me conhece sabe do meu ritmo. Trabalho até dezoito
horas por dia se for preciso. Mas esse é o tipo de pergunta que só as
comparações vão responder. Quero ver no final do governo quem fez mais
UPAs, escolas, asfalto.
O
senhor diz que seus inimigos políticos tentam destruí-lo, mas foram os
eleitores que não o levaram nem ao segundo turno, patamar que até dona
Weslian alcançou em 2010. Não lhe faltou carisma?
Fui
vítima de um aspecto conjuntural, de ataques permanentes ao meu
governo. Não consegui mostrar tudo o que fiz. Na campanha, os
adversários tiveram a cara de pau de negar obras físicas que construí,
que estão aí para quem quiser ver. Além disso, enfrentei grupos
poderosos, cartéis, e isso gera muitos inimigos. Paguei com o preço da
popularidade.
Se não for impedido pela Justiça, pretende voltar à política?
Meu
objetivo hoje é fazer a minha defesa, mostrar as realizações do meu
governo. Não estou pensando em candidatura coisíssima nenhuma. Só não
vou aceitar que uma carreira respeitada seja alvo de ataques rasteiros.
O
senhor já pilotou o avião chamado Brasília, mas, em janeiro, foi visto
indo para Miami espremido na classe econômica. O poder deixou saudade?
Em
absoluto. Nunca me contaminei por posições. Tenho vida simples, tive no
mandato inteiro e vou continuar assim. A melhor maneira de conhecer uma
pessoa é dar poder a ela. Veja o Rollemberg. Acusou-me de ter feito uma
reforma desnecessária em Águas Claras, disse que não usaria o espaço e
agora está despachando de lá. Segundo eu soube, até elogiou as
acomodações. Mas falar uma coisa e fazer outra parece que tem se tornado
a marca dele. Prometeu fazer a eleição de administrador e não fez.
Disse que iria radicalizar na transparência e acabou com a secretaria.
Prometeu cortar comissionados e aumentou o salário desses cargos.
Comprometeu-se a liberar a senha do Siggo e, até agora, nada. E foi
pedir conselhos a Roriz. Isso não tem cabimento para um político que se
diz mais alinhado à esquerda.
Como tem sido sua rotina em Miami?
Não
tenho uma rotina muito fixa. Mas, basicamente, vou de bicicleta à
escola de inglês, que fica a uns 6 quilômetros de casa, e passo o dia
lá. Não voltei a correr porque ainda preciso de fisioterapia para o
joelho. Ele não está 100%. Como não temos secretária lá, dividimos as
tarefas. Às vezes eu cozinho, às vezes é a Ilza (ex-primeira-dama). É
uma vida nada fora dos padrões.
Quando retorna a Brasília?
No
fim de abril. A ideia era aproveitar minha licença-prêmio como médico
para ficar afastado por pelo menos 100 dias, deixar o governador à
vontade, sem ficar emitindo opiniões. Acabei revendo essa decisão para
reagir ao massacre que ele tem feito à minha imagem. Portanto, em breve
voltarei às minhas atividades como cidadão, para me defender contra
essas injustiças, sobretudo perante os órgãos competentes. Tenho
confiança na lucidez do Judiciário. Agora, fico revoltado quando vejo o
presidente de um Tribunal de Contas (Renato Rainha) fazendo
pré-julgamento, falando pelos conselheiros, usando o cargo como palanque
eleitoral.
Por
que esta entrevista está sendo feita em São Paulo? O senhor está
constrangido de aparecer em Brasília? Tem medo de ser agredido?
Em
absoluto. Eu tinha questões pessoais para resolver aqui, só isso. Sei
que vai levar um tempo, mas as pessoas um dia ainda vão reconhecer tudo o
que fiz por Brasília.
Fonte: Informações Veja Brasília
Comentario
Lembram-se desta foto? Ela resume o que foi o Governo Agnulo!
Anonimo
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