quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Para uma mulher solteira, a mágoa de não ter filhos não é aceita. A mágoa atingiu-me aos trinta e poucos anos sem qualquer aviso.
Segundo tudo o que parecia, a minha vida era fantástica, ou muito
próxima de o ser. Tinha um bom emprego em Nova York, bons amigos, e
alguns encontros românticos. Mas também houve momentos, dias e noites
de solidão, em que eu chorava. Eu soluçava. Eu deitava-me na cama
durante horas e horas, com lágrimas a correrem sobre a minha almofada.
Eu estava de luto mas nem sabia.
Havendo experimentado o mesmo sentimento há já alguns anos, hoje sei
que a mágoa devia-se ao facto de não ter filhos; ou, dito de forma mais pungente,
devia-se à perda do bebé que nunca tive nos meus braços. Por aquela
altura da minha vida, eu esperava já estar casada e ser mãe de
pelo menos duas crianças. Mas eu estava muito longe disso: ainda estava
solteira.
Cruzar-me uma nova mãe (e o seu filho) enquanto passeava pela Broadway
mexia com o meu útero. E só o facto de ver uma mulher inchada,
grávida de ou 8 meses, fazia com que a minha pequena estatura se
sentisse invisível e pequena. A tristeza que eu sentia durante a altura
do meu período era mais profunda que hormonal. Eu estava a chorar a
perda de mais uma chance de ter a vida familiar que sempre havia
sonhado ter.
E eu sofria sozinha.
Sofrimento por não ter sido capaz de ter filhos é aceitável para casais
que estão a atravessar por um momento de infertilidade biológica.
Sofrimento por não ter filhos por se ser uma mulher solteira que se
encontra na casa dos trinta ou quarenta não é aceito. Em vez disso, é
assumido que nós não entendíamos que a nossa fertilidade tem um tempo
de vida limitado e que nós fomos descuidadas com a possibilidade.
Somos chamadas de "mulheres carreiristas" como se tivéssemos acabado a
faculdade, queimado os nossos sutiãs, e tivéssemos começado a nossa
carreira profissional como forma de exibir algum tipo de músculo
feminista. Ou, é assumido que não estávamos a "tentar o suficiente", ou
fomos "demasiado esquisitas". A moda mais recente é assumir que nós não
queremos filhos porque não congelamos os nosso ovos, porque não
adoptamos, ou porque não tivemos um filho quando éramos mulheres
solteiras.
Este tipo de mágoa, mágoa que não é aceita ou que é silenciosa, é
referida como uma mágoa desprivilegiada. É o tipo de mágoa que nós
sentimos não ter permissão para sentir porque a perda não é clara e nem
é entendida. Nós não perdemos um irmão, um esposo ou um parente. Mas as
perdas que os outros não entendem podem ser tão poderosas como as
perdas que são socialmente aceitas.
Deixem-me ser bem clara: quando já passamos os 35 anos, estamos de
coração partido por causa do homem que esperávamos que fosse "o tal", já
não temos um bom encontro romântico há um bom tempo, ou vemos as nossas
amigas mais próximas grávidas com o segundo ou o terceiro filho, é
duro. É desarmante. E por vezes, é insustentável.
Eu sempre gostei de estar perto de bebés; nunca me fartava dos meus
sobrinhos e sobrinhas recém-nascidos. Não tendo filhos meus, sentia
como se o mundo, e de forma bem brusca, estava a avançar e eu estava a
ficar para trás.
Passar a ter 40 anos ajudou. A antecipação de passar a ter
37....38....39, e continuar solteira, estava a criar mais ansiedade que
qualquer outra coisa na minha vida. Mal atingi os 40, apercebi-me que
apesar dos meus sonhos (e apesar do meu profundo desejo biológico e
emocional de ser mãe), eu ainda estava feliz pelas outras coisas da
minha vida. Ser uma tia era (e muito provavelmente sempre será) a minha
maior alegria. Dar início ao meu próprio negócio, tornar-me autora e
realizar o meu potencial profissional tem sido extremamente
recompensador.
Hoje tenho 42 anos, e avancei calmamente com a minha vida. Tornar-me
mãe por esta altura seria uma surpresa bastante feliz. Claro, ainda
tenho os meus momentos. A paz de espírito conquistada com tanto esforço
pode ser interrompida por uma inesperada embalagem enviada por uma
agência de Relações Públicas a enviar-me roupa de bebé para promoção.
(....) Ou quando as pessoas assumem que eu nunca quis filhos porque não tenho
nenhum. Ou quando ficam surpreendidos quando digo que quero.
Ou, pior
ainda, quando presumem que estou mais feliz por não ter filhos ou mais
afortunada por não ter que me "preocupar com filhos". Algumas pessoas
chegam até a chamar-me de "sem-filhos" - termo cunhado por aqueles que
escolheram não ter filhos e não têm o desejo de ter filhos - só porque
eu "escolhi" esperar pelo amor.
Não só tenho que lidar com a minha infertilidade circunstancial, como
tenho que defender o meu desejo de me casar com alguém por quem me
encontro apaixonada antes de conceber. Tenho que defender o porquê de
não ser mãe quando isso era o que eu mais queria.
A mágoa de nunca me ter tornado mãe é uma que eu nunca vou superar, ao
contrário da mágoa que senti há 23 anos atrás quando perdi a minha mãe.
Mas tal como esse tipo de mãgoa, ela já não é constante ou activa. Sim,
eu ainda tenho a esperança de vir a conhecer o homem que venha a ter o
desejo de ter uma filho comigo, e que está preparado para atravessar
comigo os tratamentos que eu posso vir a precisar para que isso
aconteça. Ou que esteja pronto para sofrer comigo se por acaso isso não
funcionar.
Mas, de forma geral, eu prossigo, buscando o amor. Felizmente, não há
limite temporal biológico para esse sonho. De forma cuidada, eu nutro a
esperança de ainda vir a ter a chance de ter o meu bebé nos meus braços
- e que eu ainda seja atraente para os homens que querem ter filhos.
Sei que não estou sozinha; faço parte das 18% de mulheres Americanas
com idades compreendidas entre os 40 e 44 que não têm filhos. A Pew
Research relata que metade das mulheres deste grupo escolheu
esse destino - escolheram não ter filhos. Mas o resto de nós - cerca de
1 milhão de mulheres Americanas com idades compreendidas entre os 40 e
os 44 e sem filhos - sofre com a infertilidade biológica ou
circunstancial.
A forma como escolhemos seguir com a vida apesar desta mágoa é o foco
do nosso e "viveram felizes para sempre". E, se posso dizer, tenho
planos de fazer com que o meu "feliz" seja mesmo para sempre. E se tudo
correr bem, não estarei sozinha.
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