sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Odebrecht menospreza Lula, o governo e agride até a inteligência




Marcelo Odebrecht tratava Lula como um serviçal


Pedro do Coutto
Colocando no computador da empresa de que é presidente os e-mails que enviou, principalmente de 2007 a 2009, ao então presidente Lula, Marcelo Odebrecht manifestou concreta e diretamente seu menosprezo pelo chefe do Executivo, pelo governo, além de frontalmente agredir a própria inteligência brasileira. Esta é a primeira conclusão lógica revelada nas edições de O Globo, Folha de São Paulo e de O Estado de São Paulo, os três maiores jornais do país.


As reportagens focalizando a apreensão dos documentos na sede da Odebrecht pela Polícia Federal são respectivamente assinadas por Renato Onofre, Tiago Herdy e Cleide Carvalho, em O Globo; por Graciliano Rocha e Felipe Batchtoldt, Folha de São Paulo; e por Mateus Coutinho, Ricardo Brandt e Fausto Macedo, no Estadão. Tornam-se peças primorosas do jornalismo e vão se incorporar, sem dúvida, à história moderna do país. Porque a história também é o presente, como definiu Arnold Toynbee.


Incrível a que ponto atingiu a degradação da atividade política. Como é possível que um dirigente da maior empreiteira do país se arvore em transmitir instruções ao presidente da República. Quase inacreditável que um presidente da República aceite esse tipo de correspondência e siga as instruções nela contidos. E que, além de aceitar as mensagens impróprias, dê curso às recomendações. Um delírio duplo, da embriaguez do sucesso.


LIMITES DA ÉTICA
A tradução do comportamento de Lula e Marcelo Odebrecht só pode ser encontrada traçando-se esse caminho, interpretando-se as raízes que motivara tal ruptura, pelo menos, dos limites da ética humana. E não só da ética, mas da sensibilidade da inteligência. Marcelo Odebrecht abusou do direito de errar.


Lula também. Ambos desabaram, com reflexos morais diretos junto à opinião pública, junto à população. Revelam-se muito abaixo das respectivas responsabilidades e dos postos que ocupam ou ocuparam. Dizer, como fez o Instituto Lula, que a ação do ex-presidente foi patriótica, soa ridículo. Um político que disputou sete eleições presidenciais, vencendo quatro delas, sem dúvida um líder popular, possa desempenhar as funções de um caixeiro viajante, como na peça de Arthur Miller, é cometer um ato de desprezo a si próprio. Um ex-presidente da República não está capacitado, de forma alguma, para exercer tal papel. É preciso para tal tarefa, psicologicamente, sentir-se inferior ao dirigente dos negócios da Odebrecht, desenvolver para si mesmo um complexo de inferioridade.


REBAIXAMENTO
Freud explica, pode-se dizer. Mas não justifica o rebaixamento. Pois Lula, na verdade, participou de seu próprio rebaixamento, inclusive na ótica e no pensamento da Odebrecht. Esta, no fundo, não dava importância humana a Lula, pois se o considerasse importante não agiria da forma como agiu.


O Globo publicou uma comunicação de Marcelo Odebrecht à equipe palaciana, segundo mandato de Lula, solicitando e recomendando providencias para derrubar o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, que ocupava o cargo. Hubner não permaneceu no posto.


Todos esses fatos são (ou foram) encontrados nos arquivos eletrônicos da empreiteira. Vejam só: no dia seguinte àquele no qual os advogados de Marcelo Odebrecht pediram a Sérgio Moro uma nova distribuição de seu processo, e o magistrado negou, explodiu contra ele uma bomba que ele próprio, inclusive por incompetência política, armou nos arsenais eletrônicos da empresa. Uma bomba contra ele mesmo.

Nenhum comentário: