Embora não seja parte no processo de
forma direta (membro de alguma associação representativa ou mesmo
policial militar) resolvi fazer aqui um desabafo na qualidade de
interessado indireto, como cidadão brasileiro, na decisão judicial que
ora determina o fim da quase pejorativa Operação Tartaruga.
Cidadão esse que, no exato momento, assiste impotente e perplexo mais
um pai de família e colega de profissão policial vítima de latrocínio
com um tiro no olho na cidade de Goiânia-GO. NÃO SOU POLICIAL MILITAR e
tentarei, na medida do possível, ser sucinto, pois que, nos tempos
atuais, seja mesmo ciente de que o texto deva sim se adaptar ao leitor.
...
Caso contrário correrá o risco de sequer ser lido!
Pois bem. Determina, de forma direta, a decisão do TJDFT, em caráter
liminar, o término imediato da Operação Tartaruga. Um esclarecimento
urge: o que é Operação Tartaruga?
Greve, abandono de serviço,
descumprimento de escalas dos policiais militares? Vos digo: Não! Nada
disso. Ainda fosse. Seria mais fácil. Estariam no âmbito da ilegalidade e
a reversão seria relativamente simples, bastando para isso se utilizar
da força normativa-jurídica que é assegurada a todos os detentores da
função jurisdicional. É muito mais grave do que isso. A Operação
Tartaruga não é a doença em si, ela é um sintoma.
Ela não é a causa, mas a consequência. Trata-se do reflexo de enorme
desmotivação que assola todas as polícias no Brasil. Sim, desmotivação
quando se descobre, com o passar dos anos, que a profissão que escolheu
por vocação é desrespeitada socialmente. Tratada com descaso. Como
subemprego até mesmo pelo seu próprio empregador. Assim o que ela
oferecerá será mesmo sempre subserviços, quer seja ela oficializada com a
proclamação oficial de “Operações Tartarugas” ou não. Talvez o que deva
ser repensado seja o respeito dispensado à classe policial na
Republiqueta Brasil.
E já adianto desde já a todos os leitores: NÃO EXISTE DECISÃO JUDICIAL
NO MUNDO QUE TENHA FORÇA COGENTE PARA DETERMINAR QUE UM POLICIAL SE
MOTIVE! E o trabalho policial, o trabalho policial mesmo, na sua
atividade fim, que talvez poucos conheçam, exercido parte das vezes nos
momentos em que a sociedade quase em sua totalidade esteja gozando de
seu justo sono, é essencialmente motivacional. Por óbvio o aumento
assustador da criminalidade não é responsabilidade tão somente da
polícia. Crime é um fenômeno social. Complexo e mutável!
Mas quando sua principal ferramenta de controle tem sido relegada a
segundo plano durante anos por parte de um Poder Público omisso e
corrupto e avalizado por uma sociedade alienada e complacente, mantendo
suas mesmas estruturas e regulamentos do início do século passado, não
se pode esperar nada além disso que todos assistem impassíveis: caos
social!
A todos os que, desconhecedores do problema, se resumem a proferir
covardes e simplistas frases como “se acha que ganha pouco procure outro
emprego” ou “já sabia o que iria ganhar quando resolveu ser policial”
uma verdade é imperiosa: resumir problemas graves é sempre a chave das
portas da injustiça!
Embora como afirmado acima não seja policial militar vou confessar “um
segredo” a vocês. Eu já fui um deles. Com orgulho inclusive! Me esmerava
buscando a excelência e eficiência no meu trabalho. Não me esforçarei
em convencer os que não trabalharam comigo e não precisarei relembrar os
que trabalharam. Mas sabe quando decidi sair? Quando descobri que, para
pintar o quartel que eu trabalhava ou mesmo conter infiltrações eu
teria que vender folgas para policiais arcarem com gastos do seu bolso
ou mesmo fazer acordos “implícitos” pedindo doação ao comércio para
latas de tinta.
Ou ainda fazer bingos entre os policiais e familiares com prêmios
doados pelo comércio para arrecadar recursos e comprar pneus novos
voltando as viaturas para onde elas devem estar sempre: nas ruas. Outras
coisas aberrantes pelas quais os policiais militares oram lutam pra
mudar poderiam ser citadas, mas me furtarei em escrever nesse momento.
Mas a verdade é que esse jogo cansa, manter esse sistema cansa! O ideal
é esvaecido quando se observa que você é responsável por manter o
sistema!
De mais a mais, a sociedade tá cansada de ouvir mentiras.
MENTIRAS QUE AFRONTAM MINHA INTELIGÊNCIA! A sua inteligência! Mentiras
como as que a tragédia presidiária maranhense tem como causa o “Estado
tá mais rico!” Que as forças federais estão à disposição dos Estados.
Chega de fazer da segurança pública uma plataforma eleitoral senhores
governantes. São mais de 50 mil pessoas morrendo anualmente (esse ano
ultrapassará!) vítima da violência direta.
O Brasil precisa ser passado a limpo senhores (as) leitores, ou o
Estado Democrático de Direito se concretizará na maior mentira
constitucional da história da República em muito breve.
Todos os meus sentimentos à senhora Ana Cleide, mãe do jovem Leonardo
mais uma vítima da violência na cidade de Águas Claras-DF. Que não seja
em vão! Que a tragédia seja os vinte centavos da segurança pública
impedindo outras tantas mães de sofrer o que ora sofre. Esse verdadeira
tragédia social que vivemos. Mas não me parece estar o Poder Público
empenhado em resolver de fato toda essa pandemia.
Rogo a Deus para, ainda em vida, assistir a mesma coragem do Poder
Judiciário ao determinar o fim da “Operação Tartaruga” proferindo
decisões determinando o Poder Executivo em nada mais fazer do que
efetivar o texto constitucional na implementação das políticas públicas
que lhe são afetas.
Então segui o conselho dos incautos: fui pra outra instituição. Mas
será mesmo esse o caminho? Socialmente útil? Todos os que estiverem
insatisfeitos devem procurar outra profissão? Ou será que devemos nos
empenhar em garantir o direito de lutar aos principais atores desse
teatro para que a instituição que os mesmos pertença melhore e forneça
melhores serviços públicos, mesmo que não lhes sejam garantidos direitos
constitucionalmente assegurados a todos os trabalhadores responsáveis
por serviços públicos? Não responderei. Deixarei tal mister para você
leitor deixando, por derradeiro um conselho final à senhora sociedade.
Já passou da hora de escolher qual polícia se quer. Se uma polícia
eficiente ou complacente com esse Estado em suas responsabilidades
constitucionais.
Seja qual for sua escolha lute por ela! A defesa da PEC 51 talvez seja
um bom começo, a NÃO ELEIÇÃO DE TODOS OS ATUAIS GOVERNANTES um bom meio e
a concretização de um Estado Social um excelente fim! A escolha é sua!
Murilo de Oliveira, cidadão brasileiro e felizmente não preciso de me
utilizar de anonimato para exercer um direito constitucionalmente
assegurado da livre manifestação de pensamentos, diferentemente dos
nobres homens policiais militares que encontraram na “Operação
Tartaruga” uma forma de serem ouvidos sem serem presos disciplinarmente
na manutenção de privilégios!
Estão nada mais fazendo do que gritando: O ATUAL MODELO DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL ESTÁ ABSOLUTAMENTE FALIDO! )
Fonte: Facebook / Blog do Poliglota - 03/02/2014 - - 01:01:58
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