A crise instalada no governo se deve a uma "operação tartaruga" executada há dois meses por uma parte da Polícia Militar que pede reajustes salariais e garantia de benefícios.
O governador Agnelo Queiroz (PT), no entanto, rejeitou qualquer negociação com as associações que representam estes policiais e disse que irá discutir a questão apenas com o comando da PM.
De 1º a 29 de janeiro, houve 63 assassinatos, aumento de 28% sobre o mesmo período do ano passado. E os casos de violência, tradicionalmente concentrados nas cidades-satélites mais carentes, se multiplicam nas áreas mais nobres de Brasília.
A medida é uma das respostas que o governo pretende dar ao movimento, que tem estimulado agentes a reduzirem o ritmo de atendimento à população para forçar o governo a conceder um aumento de salário.
"Estaremos a partir de agora com o expediente prorrogado e com todos os oficiais e praças nas ruas afim de intensificar a atividade policial nas ruas para garantir a paz e a tranquilidade e restabelecer a segurança na nossa cidade.
Oficial é mais um PM. Ele estará pronto para atender as ocorrências e para fazer a fiscalização e o controle. Todos os coronéis da PM trabalharão na rua", informou o comandante da Polícia Militar, Anderson Carlos de Castro Moura.
Oficialmente, o comando da Polícia Militar nega a paralisação dos serviços e afirma que continua trabalhando normalmente no patrulhamento das ruas. No entanto, questionado sobre se a PM reconhecia a "operação tartaruga", Moura disse que o movimento já era monitorado desde dezembro.
Mas admitiu que o endurecimento das medidas para combater a operação só foram tomadas depois que outdoors e cartazes foram espalhados pela cidade anunciando as reivindicações da categoria.
De acordo com ele, todos os oficiais e praças da corporação irão atuar no atendimento à população. Ele afirmou ainda que a polícia está investigando cinco policiais, oficiais e praças, que estariam coordenando a operação, mas não informou seus nomes.
Após a conclusão das investigações, que pode levar até 60 dias, se os policiais forem considerados culpados eles podem sofrer penas que vão de advertência até a demissão. A corregedoria e o setor de inteligência da PM estão monitorando as redes sociais para identificar outros policiais que aderiram ao movimento.
Moura e os comandantes de todos os batalhões, chefes e diretores da Polícia Militar do DF participaram de uma reunião no fim da manhã com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que falou com a imprensa mas não respondeu a nenhum questionamento. De acordo com Agnelo, o governo não irá mais tolerar a "operação tartaruga" e prometeu tomar todas as medidas necessárias para acabar com a onda de violência.
"Não vou admitir, em hipótese alguma, que meia dúzia de pessoas, inclusive com atitudes covardes, possam desmoralizar a PM do DF e possam colocar em risco a vida de um cidadão de bem, a vida do nosso povo. Isso é inadmissível", disse o governador.
Agnelo garantiu que não irá negociar questões salariais com as associações dos PMs que estão apoiando o movimento por considerar que elas estão agindo com interesses políticos. "A vida é mais importante que a política. Por isso, a nossa PM, que tem comando, tem a obrigação de garantir a segurança pública no DF. A Polícia Militar tem comando, não tem sindicato. E todas as discussões sobre as reivindicações e necessidades serão tratadas com o nosso comandante geral da PM. [...] Não é admissível que se faça da polícia a luta política", disse.
Os manifestantes querem reajuste de 66,8%, reestruturação de carreira e reposição de perdas. Os PMs do DF recebem o segundo maior salário para a categoria no país, atrás apenas do Paraná.
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, enquanto no Rio Grande do Sul o salário bruto de um soldado é de R$ 1.375,71, no Distrito Federal o valor chega a R$ 4.122,05, uma diferença de 200%. No Paraná, o salário é de R$ 4.838,98.
O governador ressaltou ainda que a população do DF não deve confundir a "operação tartaruga" com uma iniciativa de toda a corporação, mas sim, de um "pequeno grupo" da polícia. "A população do DF não pode confundir toda uma instituição com gestos abomináveis de alguns pouquíssimos covardes que comemoraram a morte de pessoas inocentes", disse.
O Secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, acompanhou o pronunciamento de Agnelo, mas saiu sem falar com a imprensa.
Ontem, em duas horas, dois episódios de violência ocorreram à luz do dia na Asa Sul, bairro nobre e central da capital. Um homem foi baleado por um policial à paisana em frente a um supermercado e outro foi esfaqueado por um morador de rua. Ambos foram levados a hospitais.
Na noite de anteontem, um rapaz de 29 anos morreu quando chegava em casa em Águas Claras, cidade-satélite de classe média. Foi atingido por um tiro na nuca, após estacionar seu carro e ser abordado por dois homens.
Segundo o jornal "Correio Braziliense", uma rede de fast-food estuda cancelar o funcionamento noturno devido à sequência de roubos.
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