Rafael Motta
Do UOL, em Santos (SP)
Do UOL, em Santos (SP)
- Luis Cleber/Estadão Conteúdo
- Movimento de banhistas na praia do Boqueirão, em Santos, litoral sul de São Paulo
"Peguei bicho geográfico duas vezes jogando futebol próximo ao emissário submarino", diz o sindicalista Marcos Sérgio Duarte, 58, em referência à estrutura que encobre uma tubulação que lança esgoto no oceano, na praia do José Menino, em Santos (72 km de São Paulo).
Essas são doenças a que banhistas estão sujeitos ao frequentar praias poluídas ou impróprias para banho. A contaminação vem da sujeira que é "varrida" de ruas e praias pela chuva em direção ao mar, de ligações de esgoto clandestinas e de favelas, onde não há coleta nem tratamento de esgoto.
"O aumento da população no litoral também é um fator que pesa", menciona a bióloga do Setor de Águas Litorâneas da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Karla Cristiane Pinto. De acordo com a estatal, o número de moradores das 16 cidades do litoral cresceu 9,72% entre 2003 e 2012. Na temporada de verão, a população total desses municípios aumenta em torno de 1,3 milhão de pessoas, que se somam aos 2 milhões de habitantes fixos.
De modo geral, segundo a edição de 2012 do "Relatório de Qualidade das Praias Litorâneas", elaborado pela Cetesb, e dados preliminares de 2013, o número de praias próprias para banho o ano inteiro cai a cada ano em todo o litoral.
Por regiões, o litoral norte (Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba) teve piora mais acentuada, com queda de 54% para 22% de praias próprias ao banho o ano todo, de 2012 para 2013; no litoral sul (Iguape e Ilha Comprida; a companhia não avalia a balneabilidade em Cananeia), de 67% para 60%.
Na Baixada Santista (de Bertioga a Peruíbe), o total de praias adequadas a banhistas durante o ano inteiro também oscilou negativamente: de 7% para 4% de 2012 para 2013. Em 2003, para comparação, era de 27% – no litoral norte, ficou em 54% e, no litoral sul, 100%.
Saneamento básico, sozinho, não resolve
O governo estadual tenta amenizar o problema ampliando a rede de saneamento básico. Em 2013, conforme a Sabesp, o atendimento da população do litoral por sistemas de coleta de esgotos era, em média, de 78% na Baixada Santista, 65% no litoral norte e 62% no Vale do Ribeira (ao sul do Estado). Todo o material recolhido é tratado, segundo a empresa. Mesmo assim, seu destino é o oceano.O superintendente da Sabesp na Baixada Santista, João Cesar Queiroz Prado, afirma que, "por desconhecimento, há clientes que ligam a tubulação da rede de esgoto na de água da chuva. É uma questão de cultura e conscientização da população".
Em parte por causa dessas ligações, resíduos de vasos sanitários, pias e tanques são lançados nas galerias pluviais, que desaguam nas praias e comprometem a balneabilidade. Por causa dessas ligações irregulares, quando chove mais, sobe o volume de lixo e esgoto misturado à água.
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Córrego
que se forma com água pluvial e deságua no mar na praia das Astúrias,
no Guarujá, que estava imprópria para o banho no dia 23 de dezembro,
quando o UOL esteve por lá conversando com banhistas. Rafael Motta/UOL
Além disso, apenas em Santos vivem cerca de 120 mil cães e gatos – em média, um para cada três habitantes. As fezes desses animais têm três vezes mais coliformes do que os dejetos humanos. Esses bichos produzem 15 toneladas de fezes por dia na Cidade, diz a Sabesp.
Sabesp e prefeituras dizem tomar providências
O superintendente da Sabesp na Baixada Santista, João Cesar Queiroz Prado, afirma que até 2020 a região terá 95% de coleta e tratamento de esgoto. Atualmente, ele calcula que 100 mil dos 500 mil domicílios da Baixada (números aproximados) ainda não estão ligados a essa rede.
Para estimular moradores mais pobres a regularizar o serviço, a empresa lançou o programa Se Liga na Rede. Famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 2.172) podem solicitar o serviço, totalmente custeado pelo governo estadual (80%) e pela Sabesp (20%).
Desde outubro do ano passado, 833 residências foram ligadas adequadamente à rede de esgoto. Em dois anos, espera-se chegar a 7.700, após R$ 17,4 milhões em investimentos – algo como R$ 2,2 mil por moradia. O serviço pode ser solicitado pelo telefone 0800-0550-195.
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Para
o estudante Renan Tognoli, 23, de Araras (SP), levar o cooler para a
areia não é muito prático, mas compensa. "Sai bem mais em conta trazer
do que consumir nos quiosques. Tem lugar onde uma porção de lula custa
R$ 50", ele afirma.
Uma dica que ele dá: existem quiosques que aceitam
que os clientes levem seus isopores com as bebidas e paguem apenas pela
comida. Na farofa do grupo do qual o estudante faz parte há salgadinhos,
refrigerantes de dois litros, água e cerveja. "De vez em quando a gente
vai até o apartamento e faz uma caipirinha, é bem pertinho" Leia mais Junior Lago/UOL
Além do investimento de "mais de R$ 1 milhão do orçamento municipal" em saneamento, Colucci diz que recentemente foi criada uma estação de pré-condicionamento (tratamento prévio) de esgotos em Itaquanduba – a pior praia para banho na cidade.
Em Santos, o engenheiro Márcio Gonçalves Paulo, chefe da Seção de Controle Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, todas as terças-feiras, às 15h, ministra palestras gratuitas no laboratório ambiental, instalado no Posto 3 (praia do Gonzaga). Há 12 vagas por semana, e interessados devem agendar presença, pelo telefone (13) 3289-3674.
O secretário de Meio Ambiente de Guarujá, Elio Lopes dos Santos, afirma que a cidade mantém convênio com a Sabesp para a pesquisa de ligações clandestinas de esgoto. "Mas, se continuar a se jogar a carga orgânica no oceano, teremos problema [de balneabilidade] eternamente".
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