quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Entrevista com Alírio Neto: Governo terá de reverter avaliação

Secretário diz que Agnelo faz boa gestão, mas que o Buriti não conseguiu fórmula de se comunicar com população do DF
 
Daniel Cardozo
daniel.cardozo@jornaldebrasilia.com.br


Há três anos como secretário de Justiça, Alírio Neto (PEN), acredita que o governo pode reverter a avaliação desfavorável e conseguirá mostrar trabalho até as eleições. 

“Considero que o governador fez uma boa gestão, mas tivemos um problema de comunicação que foi muito sério. Não conseguimos achar a forma de nos comunicar com a população. 

Não sei como é, não é a minha área. É um governo que está fazendo tantas obras na cidade, que está fazendo um programa de enfrentamento às drogas e também está tocando um projeto como o Provítima”, disse. Deputado distrital licenciado, Alírio se prepara para viabilizar sua candidatura a federal, ao mesmo tempo que espera as definições nacionais do partido, para saber quais serão os rumos a serem seguidos.

Quais sua análise desses três anos na Secretaria de Justiça?

Nesses três anos tivemos a oportunidade de implementar algumas coisas que iniciamos na gestão anterior, que foi rápida, oito meses, no governo anterior, mas pudemos plantar a semente. 

São coisas muito importantes, que não tivemos chance de divulgar, por conta das tantas crises políticas. Criamos o primeiro programa de atendimento à vítima do Brasil, o Provítima. 

Minha especialização é em vitimologia. Sempre achei muito estranho, como delegado de polícia, o atendimento que as vítimas de violência tinham da nossa sociedade. 

Sempre que se ouve falar de direitos humanos, é dos direitos do preso, do acusado, e aquilo me constrangia muito, porque eu via o autor, o acusado recebendo assistência jurídica e psicológica, enquanto a vítima e a família ficavam abandonadas pela sociedade. E eu passei a estudar isso. 

Quando eu passei a ser secretário, eu implantei a minha monografia lá. São cinco unidades. Ocorreu um crime violento, registra-se na delegacia e existe uma ligação direta com o Provítima. Em até 72 horas depois do registro da ocorrência, vamos até a casa da vítima, em uma equipe com assistente social, advogado e psicólogo. 

Eles não vão gerar nenhum direito novo para a vítima e, sim, buscar dar assistência com o que Estado tem a oferecer para ela. Por exemplo, se foi acidente de trânsito com vítima fatal, ela tem vários seguros e direitos que muitas vezes as pessoas não buscam, como o DPVAT, que é usado por só 30% da população. 

Com a sua experiência na área, como o senhor avalia o momento da segurança pública do DF?

É um momento delicado. Temos um processo delicado de transição no Brasil. Saímos de um regime autoritário, onde as polícias tinham muita força. O delegado podia expedir mandado de prisão, a Polícia Militar podia fazer prisões sem nenhum tipo de mandado. Hoje há um processo democrático a que nós precisamos nos acostumar e isso provoca um certo choque, tanto no mundo policial tanto na sociedade. 

Acredito que vivemos no DF uma antecipação de todos os problemas que atingirão no Brasil, por bem e por mal. Poucos países no mundo têm o policiamento como nós temos. Precisamos sentar e discutir. Será que temos que reestruturar tudo? Os Códigos Penal e de Processo Penal têm que ser revistos? 

A gente vive em um país onde as pessoas esperam que se cumpra a lei, mas na verdade se fosse tudo resolvido por lei, não tínhamos problema nenhum, porque nós temos lei para tudo. É necessário falar sobre a unificação das polícias, onde está o limite de capacidade e competência de cada órgão.

O senhor falou sobre o problema de maneira geral. E sobre a crise enfrentada nas últimas semanas, com operação tartaruga e onda de violência?

Isso é exatamente por falta de posição do Estado, como eu disse. Queremos continuar com a polícia arcaica, mais voltada para proteger o Estado do que o cidadão? Essa é a grande discussão. Hoje o Estado está se consumindo por si mesmo. E a segurança pública também. Isso passa pela reestruturação da polícia e de todo o sistema penal. 

Não tem sentido — volto a insistir, porque o maior patrimônio que nós temos é a vida — que de cada 100 homicídios, só um seja solucionado. Alguém tem que chegar e fazer uma grande discussão sobre isso.

Há mesmo uma politização das polícias e ela tem peso nessa crise?

Na minha opinião, é um pano de fundo para a crise. Interessa a algumas pessoas, segmentos, elites manter essa estrutura como está. Não tem politização. Quem não está no mundo e vai sugerir que eles façam operação tartaruga? Isso tudo vem das próprias associações, que começaram tudo. Mas isso vem de demandas. 

A gente tem um nível de insatisfação do policial muito grande, não só salarial, mas pela questão do serviço. Hoje a pessoa vai detida e, posso te garantir, sai antes do policial da delegacia e ainda sai rindo. A situação é tão complicada, porque a pessoa registra ocorrência, está satisfeita porque foi vitimado e acaba insatisfeito com o sistema penal. Foi vitimada porque o policiamento preventivo não funcionou, vai entrar agora em um processo penal para tentar recuperar o patrimônio e vai sair sem o patrimônio de volta. 

Todo o sistema está equivocado. Eu não vejo a politização interferir. Ao contrário, se a gente tivesse uma discussão aberta com os praças, com os delegados, o Ministério Público e o sistema judiciário, seria muito melhor.

Com a sua experiência no combate às drogas, o senhor é favorável a essas experiências de descriminalização ao redor do mundo?

Eu não tenho nenhuma dificuldade com relação à liberação e proibição. Não sou uma pessoa radical, que acha que a gente resolve as coisas com decreto e lei. Se proibir o uso de drogas resolvesse, nós não teríamos esse problema. 

Até porque a droga que mais mata no Brasil é liberada, que é o álcool. Então não acho que liberar ou proibir será a solução. Isso passa pela educação e cultura da sociedade, sobre o risco de se envolver com as drogas. 

Existem inúmeras pesquisas que mostram que a principal motivação para as pessoas buscarem o uso de drogas é falta de diálogo, fuga dos problemas e falta de conhecimento. O álcool é uma droga liberada e você vê inúmeros moradores de rua que estão nessa situação por conta do álcool.

Quais as perspectivas para as eleições?

Tenho a disposição de ser candidato a deputado federal. Isso é uma questão pessoal, até por conta das bandeiras que eu defendo. Por exemplo, pela vitimologia eu não consigo fazer nada como deputado distrital. Já na área federal há uma série de coisas que eu posso apresentar que venham a ajudar nessa grande reforma da questão da vítima. 

E o enfrentamento às drogas é uma questão federal. Eu quero muito participar desse debate a nível nacional, além de fornecer um pouco do conhecimento que eu tenho em 15 anos de debate desses assuntos. 

O senhor pretende continuar na base do governo? Como o senhor avalia esse cenário político, de volta de Roriz e Arruda?

Acho que quanto mais opções, melhor. Não me cabe julgar as pessoas, eu não tenho esse poder. Eu me relaciono muito bem com todos. Converso até hoje com o governador Arruda, liguei para ele para desejar feliz aniversário, gosto dele e acho uma pessoa extremamente inteligente. Eu converso também com o Agnelo desde antes de ele ser deputado, conheço de movimentos sindicais, da CUT e outros movimentos. 

Conheço o governador Joaquim Roriz, tenho uma boa relação. Tenho divergências com ele, assim como tenho com Arruda e Agnelo. Conheço Toninho do PSOL, Rodrigo Rollemberg, Reguffe. Tenho divergências com alguns, apoio alguns em certas posições, como tudo na vida. Entendo que a política mudou muito. 

Não dá para ter aquela oposição sistemática, só por ser oposição. O Brasil precisa evoluir nessa questão. A redemocratização nos atrasou um pouco nisso. Temos que evoluir. Não dá para ficar torcendo contra, só porque não ganhou a eleição.  Com relação às coligações, é muito cedo. 

Temos toda uma conjuntura nacional que acaba influenciando o Distrito Federal. Temos que esperar as definições nacionais para fazer as locais. Minha posição, ao ter diálogo com vários segmentos, me propicia essa situação de tranquilidade para esperar a decisão nacional. Não tenho condições de influenciar o PEN nacionalmente, entrei no partido agora. 

Sou ouvido, sou presidente local, sou segundo secretário do partido nacionalmente, mas não tenho controle político. É muito cedo para antecipar as coligações que podem ser fechadas até junho, até porque tem candidato aí pode não ser candidato, por questão jurídica, de saúde. 

O senhor acha que está tarde para definir coligações?

Essa obscuridade está relacionada à grande crise política que tivemos em Brasília nos últimos tempos,  crise que prejudicou muito a cidade, principalmente na questão administrativa e burocrática. Perdemos muitos quadros. Eu calculo até que essa crise demore uns 10 anos para ser diluída, aí incluindo gente que resolveu se afastar da vida pública, por ter se desgastado. 

Isso trouxe prejuízo. Vemos licitações que deveriam sair rapidamente que demoram. Projetos que precisam ser feitos e a gente acaba perdendo o orçamento ou verba da União, por falta de técnicos que possam fazer isso. Temos até mesmo pessoas que têm condições de serem candidatos a governador, mas não querem, como o senador Cristovam Buarque ou Paulo Octávio, que, dizem, será candidato a deputado distrital, mas que teria condições de ser governador. 

No caso do Reguffe, especificamente, passa pela questão pessoal. A gente conversa com ele e ouve que não sabe se continua com isso, porque tem uma posição muito firme.

A avaliação positiva do governo é de apenas 9%. Ainda dá tempo de melhorar até a eleição? O senhor teme que isso influencie a sua candidatura, por fazer parte da base do governo?

 Minha imagem tem que estar afeta ao meu trabalho e não ao trabalho dos outros. Construí minha carreira, independente do atual governo. Quando eu falo de enfrentamento às drogas, eu faço isso há mais de 15 anos. Sobre o Provítima, também há muito tempo. O problema que nós temos no GDF é uma comunicação que não foi boa e  dificuldades burocráticas com os quadros que nós perdemos, que atrasou muitas obras. 

Mas temos muitas obras hoje no DF . Algumas pessoas equivocadamente pensavam, imagino eu, que obra ganha eleição. Eu tenho uma posição divergente disso, porque acho que se ganha eleição construindo uma imagem positiva, desde o primeiro momento até o último, com políticas públicas completas, não só com obras. 

Na política, a obra tem um detalhe: é muito boa depois de pronta, por algum período, mas cai no esquecimento porque nós temos a tendência a nos acostumar com o que passamos e querermos mais. A obra, do período da licitação até que fique pronta, causa muito transtorno, como qualquer obra em casa. E isso causa um desgaste muito grande para o governo. Eu vejo, por exemplo a obra do Expresso—DF: deu um desgaste muito grande para uma parcela  da população. 

Depois de pronta, ela terá também seu efeito positivo, estará pronta em um período-chave. Pode ser que coincida que seja no período e isso venha a dar uma melhora substancial na imagem do governo. Eu considero que o governador fez uma boa gestão, mas tivemos um problema de comunicação que foi muito sério. 

Além do mais, já tivemos situação de candidaturas que começaram com 2% e ganharam a eleição. A eleição é sempre uma caixinha de surpresas, como diz o futebol. O Cristovam começou com 2% e ganhou, assim como nosso vizinho, Marconi Perillo. Não acho que a imagem do governo não possa ser restabelecida até a eleição.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

 
 
1 Comentário
 

CANA .40
 
Diga-me com quem tu andas, que direi quem tu és. Deixa de papo furado, Alírio! VOCÊ deveria colocar a mão na consciência e ver o que esse "desgoverno" tem feito de ruim ou não feito nada de bom. Esse "desgovernador" não ganha eleição nem para síndico. Será escorraçado de Brasília. É só pagar para ver!


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