Em caso de catástrofe global, sementes brasileiras poderão vir a salvar a agricultura mundial.
Embrapa envia feijão brasileiro para banco mundial de sementes na Noruega
17/02/2014 17h12
Brasília
Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil
Edição: Davi Oliveira
Uma catástrofe natural gigantesca
acontece, com vulcões em erupção, terremotos, maremotos, uma hecatombe
digna de filme com superprodução em que os sobreviventes serão
responsáveis por reestabelecer a vida no planeta. Nesse caso, o filme
não acaba quando o sol aparece, as águas retrocedem ou as bolas de fogo
param de cair do céu. O final feliz ocorre quando os sobreviventes
alcançam o Banco Global de Sementes de Svalbard, na Noruega, que agora
também será abastecido com o feijão brasileiro.
Amostras de feijão brasileiro fazem parte de banco mundial de sementes Marcello Casal Jr./Agência Brasil A Embrapa Arroz e Feijão, unidade da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Goiânia, fez a seleção -
chamada coleção nuclear - das amostras de diversas variedades de feijão
que deve chegar hoje (17) a Oslo, capital da Noruega. A amostra segue,
então, para o pequeno arquipélago de Svalbard, uma região remota próxima
ao Polo Norte.
Lá, em um túnel de 125 metros, dentro de uma montanha,
há três câmaras de segurança máxima, aberta apenas quatro vezes ao ano,
onde estão armazenadas, a -20 graus Celsius, amostras de sementes de
alimentos do mundo todo. Em caso catástrofe, vai sair de lá o recomeço
da agricultura mundial.
O termo coleção nuclear é utilizado para definir um grupo limitado de
amostras que representam grande parte da variabilidade genética das
espécies.
“Como é uma coleção nuclear com diversidade bem grande, vai
ter feijão-preto, vai ter carioca, feijão-vermelho, com manchinhas,
feijão do tipo trepador, do tipo que vira uma pequena árvore, aquele
mais adaptado à colheita comercial.
A ideia é ser o mais variado
possível”, explicou a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, Marília Burle.
A coleção brasileira de feijão, com 514 amostras, é a segunda remessa
enviada a Svalbard. Em setembro de 2012, a Embrapa já havia mandado ao
banco nórdico 264 amostras de milhos e 541 de arroz.
Segundo Marília,
outras espécies devem ser depositadas no banco, mas ainda não há
previsão para que isso ocorra. “Nem todos os bancos de germoplasma
[unidades de conservação de material genético das plantas] têm uma
coleção nuclear pronta.
Para esses três produtos importantes na
agricultura brasileira, nós tínhamos a coleção estabelecida, e isso, em
nível mundial, é reconhecido como o filé de uma coleção, pois representa
ao máximo a diversidade genética da coleção maior”.
A pesquisadora explica que o governo da Noruega é financiador do
banco de Savalbard e também faz um grande esforço para manter a cidade
com moradores o ano todo, já é um lugar muito frio e passa três meses
totalmente no escuro.
Além do próprio governo, o outro financiador é o
Global Crop Diversity Trust, uma ONG internacional que vem financiando
muitas ações de recursos genéticos e que realiza estudos do Brasil, segundo
Marília.
O banco internacional tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de
amostras de sementes e sua localização também leva em conta a hipótese
de catástrofe mundial. Segundo a pesquisadora, todos os bancos genéticos
espalhados pelo mundo são dependentes de energia elétrica e passiveis
de acidentes.
“A ideia de Svalbard é que, vá que tenhamos uma catástrofe
em que falte energia elétrica no mundo todo, uma coisa mais fora do
controle ou até mesmo guerras. Pensou-se, então, em construir um banco
mundial em um local mais próximo ao Polo Norte possível, que estaria
refrigerado naturalmente”.
Marília conta que o banco também foi construído de forma a resistir
também a impactos vindos do céu e a bombas. “O material lá duraria mais
do que em um banco aqui, com um verão quente. A ideia é de um backup mesmo, pensando em uma catástrofe em nível mundial”.
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