Abaixo, a boa coluna semanal de Rosângela Bittar, editora do jornal Valor Econômico, em Brasília, intitulada " Com o que Dilma deve se preocupar"
"As
pesquisas de todos os institutos, tanto os que trabalham para
candidatos e partidos quanto os que atuam para o mercado e órgãos de
comunicação, convergiram mais cedo este ano. No fim de fevereiro todos
eles fizeram uma rodada que apontou o que geralmente apontam às vésperas
da votação.
Chegaram a um consenso quanto à situação de Dilma Rousseff
(PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), os principais
candidatos ao pleito presidencial já lançados, com pequenas nuances
entre um instituto e outro quanto aos índices de intenção de voto de
cada um.
Esse
dado, contudo, não é o mais importante agora, notadamente para a
presidente Dilma, candidata à reeleição. A intenção de voto é relevante
para atrair financiamento de campanha, alianças, consolidar a base
política, conquistar tempo de propaganda na TV, impressionar uns e
outros, dar discurso.
Mas
a informação fundamental das pesquisas para os especialistas, agora, do
ponto de vista estratégico da campanha, são os índices de avaliação da
administração da presidente candidata à reeleição, seu desempenho no
cargo. É isso o que vale para que, inclusive, consiga reverter algumas
tendências negativas. Tempo há, de sobra.Propaganda, sozinha, não
resolve os ralos dos votos
Até
junho, época das convenções e arrancada da campanha, qualquer candidato
à reeleição precisa se preocupar com a avaliação que o eleitorado faz
de sua gestão. Obsessivamente. Cobrar respostas de seus ministros ou
secretários, municiar o marqueteiro, que vai tratar de manipular "as
realizações", reais ou fictícias, na propaganda, para que o eleitor seja
conquistado para a ideia da continuidade daquela maravilha e não da
interrupção, da mudança, ou da descontinuidade, como se define no jargão
dos especialistas.
Nenhuma
das pesquisas divulgadas em fevereiro mostrou felicidade do eleitor com
o governo Dilma. Comprovou-se, nas manifestações de junho do ano
passado, quando ainda foi, para alguns, surpreendente a reação da
sociedade, saturada da baixa qualidade dos serviços públicos, o que
ainda está em evidência hoje: uma insatisfação generalizada com o
desempenho em todas as áreas do governo, da Educação à Saúde, da
Segurança à Economia.
Nem
os programas formulados para servirem ao marketing político de Dilma e
Alexandre Padilha, dois supercandidatos inventados por Lula, o rei Midas
eleitoral, estão sobrevivendo.
O Mais Médicos, por exemplo, sofreu
reformulação radical na última sexta-feira, pois mostrava que o tiro,
longe de certeiro, estava mesmo saindo pela culatra.
Por pura arrogância
do governo que, desde o início, alertado para os furos no programa,
resistiu a alterar sua configuração, deixando que ficasse parecendo o
que acabou sendo de verdade, um projeto de ajuda financeira a Cuba.
Não
se sabe se foi mera coincidência a alteração essencial do programa, no
sentido de melhorar o salário pago aos médicos, reduzindo um pouco o
repasse a Cuba, para evitar deserções que arruinariam a campanha
eleitoral, com a visita que a presidente Dilma, primeiro, e o
ex-presidente Lula, depois, fizeram à ilha, para encontros amigáveis com
Raul Castro.
O fato é que ele aceitou perder um pedacinho da benesse
que tinha do Brasil em nome do sucesso de seus padrinhos do governo
brasileiro.
E
assim são todos os outros programas de áreas escolhidos para serem
utilizados no portfólio eleitoral. Na Educação, outro exemplo, que era
para ser a área por excelência do marketing da campanha de reeleição, os
números da performance brasileira no primeiro grau, no ensino médio, no
ensino técnico, no Pisa, em qualquer avaliação que se consulte, dão
marcha à ré.
Na segurança nem se fala, e na Saúde, se tirar o Mais
Médicos fora, mesmo mal ajambrado, não sobra absolutamente nada.
Alexandre Padilha terá que centrar seu discurso no ataque aos
adversários, não tem o que mostrar.
A
avaliação do desempenho de Dilma no governo está perto do limite que os
analistas dizem ser o mínimo para que um governante consiga se
reeleger: 40% para quem está no cargo. Dilma, portanto, precisa se
convencer que urge uma alavancada na avaliação positiva.
Além
de melhorar a avaliação do governo, a presidente candidata à reeleição
precisa urgentemente determinar aos marqueteiros que trabalhem para
reduzir o percentual do eleitorado que quer "mais mudança", invertendo a
posição com quem quer "mais continuidade".
Uma
necessidade está diretamente relacionada à outra. Se conseguir melhorar
a avaliação, tenderá a ver melhorados os índices dos que querem mais
continuidade. Aí é dar um passo largo para o abraço.
O
placar, hoje, arredondando-se os índices, é de 60 (mais mudança), a 40
(mais continuidade). Um grave alerta, parecido com o que o governo
Fernando Henrique Cardoso tinha em 2002, exatamente quando foi
interrompida a administração do PSDB. Nos casos de sucesso da reeleição,
seja de governador seja de presidente, o índice dos que queriam
continuar sempre ultrapassou bastante o quantitativo da mudança.
São
duas questões de fundo, necessidades prementes na campanha da
reeleição, e as duas têm a ver uma com a outra: Dilma tem que melhorar
sua avaliação da gestão porque, melhorando, ela vai conseguir mexer na
relação entre o desejo de mais continuidade e o desejo de mais mudança.
Os
marqueteiros da campanha, especialmente o experiente João Santana, o
chefe da propaganda de Dilma, sabem que a intenção de voto agora é
secundária.
Até
porque conhecem bem as tecnicalidades e sabem que estão comparando
alhos com bugalhos, pelo desnível do conhecimento de cada candidato.
Temos
no quadro eleitoral uma candidata, Dilma, com 90% de conhecimento; um
candidato, Aécio, com 42%; e um terceiro, Eduardo, com 23%. É impossível
comparar intenção de voto.
Quando, em fevereiro de 2010, Dilma perdia longe nas intenções de voto para José Serra, ela tinha só 50% de conhecimento."
05 de março de 2014
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