O bloco dos solitários antichavistas e o descompasso na AL
Sem folia na coluna no fim de carnaval no Brasil, quarta-feira de cinzas, exatamente um ano da morte de Hugo Chávez.Eu abro alas aqui para o artigo comovente, porém desolador, de Enrique Krause, um dos mais influentes intelectuais públicos do México, publicado no indispensável jornal espanhol El País.
Seu assunto é a solidão dos estudantes e manifestantes na Venezuela, abandonados por uma América Latina que se nega a renegar o seu fascínio com a Cuba castrista, sustentáculo do regime chavista.
Krause escreve que a maioria dos estudantes venezuelanos não têm memória de outro regime, a não ser o chavista, e não querem envelhecer com ele. Eles têm o apoio dos seus pais, professores e metade da população que em 2013 votou contra Nicolás Maduro, mas estão quase sozinhos na América Latina.
Krause diz ser surpreeendente o apoio nas redes sociais latino-americanas à cantilena chavista de que os manifestantes são “fascistas”, “reacionários” e aliados do “imperialismo americano”.
Embora a revolução cubana tenha perdido sua aura mítica, a cultura política latino-americana ainda é muita atrasada para cultivar a democracia representativa e o liberalismo.
Por este motivo, a chantagem ideológica de Cuba e Venezuela ainda funciona. Os ídolos políticos são redentores como Eva Perón, Che Guevara, Fidel Castro e Hugo Chávez. Krause cita Octavio Paz: amplos setores da esquerda latino-americana, mesmo com a queda do Muro de Berlim, negam-se a criticar o totalitarismo cubano. Com seu anacronismo, não vão criticar a revolução bolivariana.
Krause escreve que dirigentes como Dilma Rousseff dão respaldo à Cuba também por motivos cínicos, com as oportunidades econômicas na ilha que devem se abrir em Cuba com a morte dos irmãos Castro.
Estes dirigentes não vão adotar posturas idealistas, colocando em risco a estabilidade da ilha comunista. Esta lógica, para o escritor mexicano, explica o objetivo de Dilma Rousseff de manter intacta a aliança com Cuba e Venezuela.
Krause arremata que esta é uma lógica alheia aos estudantes venezuelanos, na vanguarda da luta pela democracia. Mas, a América Latina -seus governos, suas instituições, seus parlamentos, seus intelectuais e seus estudantes, é ingrata com a Venezuela.
O país que em grande medida libertou a região há 200 anos hoje luta sozinho por sua liberdade.
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