quinta-feira, 19 de junho de 2014

A mudança que 74% estão procurando



A mudança que os 74% estão procurando

by fernaslm


"74% dos eleitores brasileiros querem mudanças profundas", constatou o DataFolha.
Está aumentando! Na última rodada eram 70%. Esse é o "candidato" que mais cresce nas pesquisas mas nenhum dos competidores com número nas nossas urnas eletrônicas conseguiu associar-se a ele. O número desses "não representados" cresce, aliás, exatamente porque nenhum dos candidatos da oposição propõe mudanças no sistema. Só propõem mudar quem vai operar o mesmo sistema nos próximos quatro anos.
Aécio chega, até, a ancorar o seu discurso na introdução da meritocracia na equação de governo mas justifica-se, para tanto, com os mesmíssimos argumentos que Lula e cia. invocam para recusa-la: a sua augusta; a sua magnânima vontade.
Não serve!
Isso não pode mais ser uma escolha do governante de plantão. Ha que se tornar impossível recusa-la; viver fora dela; manter um emprego público sem ela. A meritocracia já é o maior dever de todo brasileiro que se esfalfa de trabalhar aqui fora por um lugarzinho ao sol. Está na hora dela se tornar também o seu mais sagrado direito.
Assim como mais que o salário ou mesmo o prêmio da remuneração variável é a perspectiva de perder o emprego que faz todo mundo trabalhar duro no Brasil Real tentando fazer mais que o vizinho; assim como a perspectiva do castigo é a única coisa que de fato detém o crime e, vice-versa, a impunidade o fator que mais o incentiva, o recall é a semente da meritocracia na política e no serviço público. E meritocracia não é outra coisa senão sinônimo de fim da impunidade.
Com que mudança mais profunda poderiam sonhar os 74% de brasileiros desanimados de seu país e "não representados" pelos candidatos que estão aí, do que a de planta-la definitivamente nos universos da política e do serviço público brasileiros?

Mas o que é esse tal de recall? Porque o voto distrital puro é o pré-requisito para que ele possa ser implantado? Porque qualquer eleitor, do menos ao mais escolarizado, é capaz de entender a lógica dessa ferramenta e o poder fulminante que ela tem?
Essas são as respostas que eu ofereço na série de artigos cujos links volto a indicar aos leitores e sugerir aos candidatos no final desta introdução: porque armar a mão de cada eleitor com o pode de retomar a qualquer hora o mandato concedido a quem não corresponder às suas expectativas inverte a relação de forças entre o Estado e o cidadão que hoje impera no Brasil; são eles que passarão a depender de nós e não mais o contrário. Passa a ser nossa a iniciativa de propor reformas e deles a obrigação de executa-las, sob pena de perder o mandato.
Porque, então, a imprensa nunca falou nisso?
Apenas e tão somente porque a nenhum político interessa falar nisso pela razão óbvia de que ele prefere continuar para todo o sempre refestelado na impunidade e sem nenhum "patrão" cobrando o seu trabalho, e a imprensa brasileira de hoje limita-se a aderir ou a se colocar "contra" o que os seus "políticos de referência" propõem ou deixam de propor. Deixa a eles a iniciativa da pauta política nacional em vez de confronta-los com as alternativas que o mundo testou e aprovou e obriga-los a se posicionar diante delas.
A imprensa que, em outros tempos, comandou ou, pelo menos, foi o arauto das grandes guinadas da nossa trajetória política, transformou-se, hoje, em mera caixa de ressonância do que dizem as suas fontes viciadas e abriu mão do papel propositivo que está legitimada para ter, elemento constitutivo que é de toda e qualquer democracia. É isso que justifica o apelido de "Quarto Poder" -- mais independente que os outros três por estar livre das injunções das eleições e das nomeações -- que ela tem nas democracias.

Enquanto a referência do debate político brasileiro nesta era da globalização não sair das fronteiras do Brasil não haverá avanço nenhum. Seguiremos oscilando entre o despotismo puro e simples e o despotismo esclarecido em que temos vivido desde sempre.
É impossível aprender democracia em português, simplesmente porque nenhuma das sociedades que falam essa língua jamais experimentou uma. E não é só de exercício da democracia que se trata. Até o ato de pensar, de estudar e de pesquisar "inquisitivamente" nos é negado pelo vício do modo jesuíta de raciocinar "defensivamente" a que estamos todos sujeitos desde antes de nascer. Nós não interrogamos os fatos em busca da verdade, preferimos lutar contra eles para enquadrá-los às nossas mentiras.
A função, por excelência, do jornalismo brasileiro nestes tempos de progressiva exclusão do país da competição global deveria ser, portanto, contribuir para inserir o Brasil no mundo moderno que é aquele que está lá fora. Oferecer-lhe parâmetros.
O divisor de águas da modernidade está no grau de inserção da representação política das sociedades no sistema meritocrático a que elas já estão inexoravelmente submetidas pela globalização da economia. Quanto maior a dissintonia entre esses dois universos mais lenta será a capacidade de se reformar para reagir a um mundo em permanente mudança e mais alto será o imposto burocrático a ser pago por essa sociedade na forma de exclusão dos mercados globais por falta de condições de competir com os mais ágeis.
O voto distrital com recall põe esses dois lados dançando para a mesma música, submetidos ao mesmo tipo de pressão. Com o mandato dos políticos passando a depender a cada momento da renovação do voto de confiança do seu eleitor, assim como o emprego desse eleitor depende a cada momento da renovação do seu contrato com o seu empregador, tudo se afina: todos passam a correr na mesma direção e na mesma velocidade, uns jogando a favor dos outros.

O que eu volto a oferecer a seguir são as razões da minha profunda convicção no poder fulminante desse instrumento. Siga a série pelos links abaixo e, se concordar comigo, ajude a espalhar essa idéia:
1
2
3
4
5
6
7
fernaslm |

Nenhum comentário: