Político tradicional e recordista de mandatos do DF, o doutor Jofran, como é conhecido entre seus pares, jamais teve seu nome envolvido em escândalos
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Bem-humorado, é o próprio Jofran Frejat (PR) que abre a porta de sua casa, no Lago Sul. Ele aponta um placa, em inglês, logo no portão, que diz “Aposentado. Sem endereço, sem relógio, sem chefe, sem telefone, sem dinheiro”. “Não tem funcionado”, brinca. Aos 77 anos, diz que foi convencido a ser candidato a vice-governador do DF na chapa de José Roberto Arruda (PR). “Sou um soldado do partido”, diz. Médico, deputado federal por cinco mandatos e secretário de Saúde do DF por quatro vezes, ele cita sua experiência na área e conclui: a saúde chegou ao fundo do poço. Parece não se importar em ter seu nome escolhido somente após a desistência da deputada distrital Liliane Roriz (PRTB), e do impedimento do partido da também distrital Eliana Pedrosa (PPS).
Escolhido um dia antes do registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele faz até piada com o ocorrido: “Foi por exclusão”. Político tradicional e recordista de mandatos do DF, o doutor Jofran, como é conhecido entre seus pares, jamais teve seu nome envolvido em escândalos e diz que, depois de ter sido convencido a tentar mais um cargo eletivo, teve de vencer a pressão da família. Mas “o compromisso” falou mais alto e ele não só aceitou figurar novamente como vice-governador em uma chapa — ele foi vice de Joaquim e de Weslian Roriz, nas eleições de 2010 — já foi para as ruas, para tentar vencer uma disputa que ele acredita que será “difícil”. A entrevista a seguir faz parte de uma série do Jornal de Brasília, que já ouviu outras figuras políticas do cenário local, como os candidatos a governador Rodrigo Rollemberg (PSB), Agnelo Queiroz (PT) e Toninho (PSOL).
Na condição de vice na chapa de Arruda, o senhor está pronto para ser governador do Distrito Federal?
Que pergunta difícil! Eu não jogo com esse tipo de colocação. O Arruda é o candidato majoritário.
Mas o senhor é o vice.
Depois de muita insistência, eu acabei cedendo ao apelo para ser candidato a vice-governador. Arruda teve algumas dificuldades. Primeiro, foi a Liliane, que desistiu. Depois, tentaram colocar a Eliana Pedrosa, mas houve aquela questão partidária (o TSE tornou inválida a convenção do PPS-DF, que indicou Eliana como candidata a vice na chapa) e não deu certo. E eu sou do mesmo partido que o Arruda. Eu, como soldado do partido, não me sinto bem em me negar a ajudar o partido a fazer o governador. Em segundo lugar, me foi acenado com uma coisa que, para mim, é tentadora, difícil de resistir: a criação da Universidade Temática Estadual. Depois, tive de vencer a pressão familiar.
Pressão familiar?
Disseram: “Chega. Você já foi cinco vezes deputado federal, quatro vezes secretário de saúde, secretário-geral do Ministério da Previdência, já foi ministro interino da Previdência, já foi deputado constituinte, é um dos que lutaram pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Você vai fazer mais o quê?”
O compromisso com a saúde levou o senhor a tomar a decisão?
O compromisso com Brasília me levou a tomar essa decisão. Eu acho que, quem não tem compromisso com a nossa cidade, não deve fazer política. Se quer ficar rico, vai ser banqueiro. Eu sou médico. Quando você faz medicina, você tem o compromisso de cuidar das pessoas. E é isso que eu venho fazendo a vida toda. Eu quero continuar cuidando de Brasília, como eu fiz anteriormente, corretamente, descentemente, com programas bem definidos. Brasília é uma cidade em que, há alguns anos, ninguém se preocupava em ter plano de saúde. Agora, todo mundo está correndo atrás de um. Recentemente, vi um episódio que me chocou. Foi quando eu falei para mim mesmo: “Será que eu tenho o direito de não fazer nada?” Houve, há pouco tempo, um movimento de reivindicação, com ameaça de greve de técnicos de enfermagem e um dos pontos de reivindicação era plano de saúde. Eu não acreditei: é o fundo do poço, é o caos. Para mim, corresponde à mesma coisa de o cozinheiro e os garçons de um restaurante pedirem tíquete de alimentação para comerem em outro lugar. Se esse pessoal não encontra condições de atendimento para eles mesmos, para quem é que se está fazendo o atendimento? Isso me ajudou muito a vencer minha resistência pessoal. O que me moveu a tomar a decisão foi saber que tudo o que eu fiz, enquanto fui secretário de saúde, vem sendo descontruído aos poucos.
O senhor pretende assumir a Secretaria de Saúde, se eleito?
Eu já fui secretário de saúde quatro vezes. Todas as vezes que o negócio descambava, diziam: “Chama o Frejat”. Agora, não pretendo assumir a Secretaria de Saúde, mas pretendo dar orientações, dizer o que eu acho que deve ser feito. Assumir a secretaria não vai resolver o problema da saúde. O que precisamos é de estabelecer um ritmo. Brasília cresceu uma barbaridade. Recanto das Emas não tem hospital, Riacho Fundo não tem hospital, São Sebastião não tem hospital. E assim vai...
Na eleição de 2010, quando o senhor foi vice na chapa dos Roriz, o senhor também resistiu em assumir. Por que resolveu permanecer no cargo, mesmo depois que Roriz ficou inelegível?
Quando o Roriz me convidou, ele disse que eu iria tomar conta da parte social e eu me animei. Ainda não tinha essa resistência toda (em relação ao nome dele). Aí houve o episódio que impediu o Roriz de ser candidato. Até que, em certa altura, quando a coisa já estava declinando, o Roriz disse que eu poderia me candidatar a deputado federal, e eu disse pra ele: “Governador, o senhor me conhece muito bem. Eu não sou rato. Rato que pula do barco quando o navio começa a afundar. Eu vou até o fim, ganhando ou perdendo. E fui”. Mas esse episódio passou.
O que muda nessa campanha, em relação à de 2010?
Não vejo muitas mudanças em relação às necessidades de Brasília. O que importa é o compromisso que eu tenho com a cidade. Brasília me deu tudo. Cheguei aqui médico recém formado, trabalhei no Hospital de Base, no Gama, fiz concurso para médico legista, fui pra Inglaterra me especializar, voltei para cá e me tornei um profissional respeitado. E, de lá para cá, houve uma precarização do serviço público de saúde.
O senhor tem um bom trânsito em todas as camadas sociais. É conhecido pela simplicidade, simpatia. Isso vai ajudar na campanha?
Você não muda o seu caráter. Você é o que você é. Isso é biblíco. Eu sou isso. Eu comecei de baixo. Saí lá do interior do Piauí e fui para o Rio de Janeiro. Comecei como office boy, servia café, levava memorandos, trabalhei em portaria. Depois, estudei, e fiz faculdade de medicina. Enchia a boca para falar que estudava na melhor escola de medicina do país. Aí, meu irmão, que morava em Brasília, me chamou para vir pra cá, em 1963. Em meu primeiro emprego aqui, trabalhei em Planaltina. No primeiro dia, cheguei com o jaleco vermelho, de poeira, porque eu fui de ônibus e não tinha asfalto naquela época, de Sobradinho até lá. Depois, aprendi que tinha de levar a roupa branca guardada dentro de uma sacola, chegar lá, tomar um banho e colocar a roupa para poder parecer um médico. Gerei um amor por essa cidade. E eu não mudei. Sou a mesma pessoa. Abraço todo mundo, converso com todo mundo, sem fazer política. Até por que eu resisti o que pude em fazer política na minha vida. Eu não queria. Foram me buscar, insistiram, e eu dizia “não quero, não quero”. Me chamaram para ser secretário de saúde e eu também não queria. Mas a gente não estabelece os passos completamente. As coisas vão sendo levadas, levadas... como agora.
Como agora?
É. Como agora, que me levaram para a candidatura a vice, depois da resistência da Liliane e do problema com a Eliana Pedrosa, que o partido não deixou. Mas eu sou do PR, sou soldado.
O senhor também tem bom trânsito entre os servidores, desde quando foi diretor do Insituto Médico Legal (IML).
É por que eu cuidei deles. Eu sou médico. É o meu compromisso, com as pessoas. Não sei fazer outra coisa. Eu entendo de cuidar de gente e é o que eu vou fazer: cuidar de gente.
Qual a principal bandeira de campanha?
O plano de governo já foi feito (embora ainda não tenha sido divulgado), mas o que me move realmente é a criação de novos hospitais, policlínicas, com diversas especialidades médicas, e a Universidade Temática Estadual. Este projeto era antigo, mas não caminhou e ficou apenas na escola de medicina e, depois, na de enfermagem. Agora, com a nossa experiência nas áreas de saúde e educacional, podemos ajudar o Distrito Federal a ter uma universidade estadual. Quando criei a faculdade (que se tornou a Escola Superior de Ciências da Saúde), o projeto foi muito criticado. Chamavam de a “Escolinha do Professor Frejat” e, quando se tornou uma das quatro principais do Brasil, virou a “Escola de Medicina do GDF”. Diziam que “era uma loucura do Frejat”. Mas, o Frejat, com as loucuras dele, vai fazendo.
Para o senhor, o maior problema de Brasília hoje é a saúde?
Um dos maiores problemas. A mobilidade urbana é outro e a segurança pública é outro problema gravíssimo em Brasília. Aqui, nós estamos presos para os bandidos ficarem soltos. Perdemos a tranquilidade. Antigamente, eu não tinha cerca na minha casa. A campainha era, na porta de entrada, e ela ainda está lá e funciona. Mas a grade impede as pessoas de chegarem até ela. Regiões administrativas, como Águas Claras, por exemplo, cresceram sem ter nada.
E como será sua participação na campanha?
Eu vou para o corpo a corpo, conversar com as pessoas, fazer o que eu sei fazer.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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