A
revista inglesa “The Economist” traz um texto intitulado “Lições de um
Armagedom Futebolístico” em que afirma que a derrota de sete a um para a
Alemanha evidencia que o Brasil precisa de novas ideias dentro e fora
do campo.
O texto
lembra a metáfora hiperbólica de Nelson Rodrigues quando a Seleção
perdeu de 2 a 1 para o Uruguai em 1950, em pleno Maracanã: “Uma
catástrofe nacional… Nossa Hiroshima”. Se é assim, diz a revista, então a
tragédia do Mineirão foi o Armagedom, e não apenas por causa da
dimensão da derrota de 7 a 1, mas também em razão da facilidade com que
os rápidos e tecnicamente superiores alemães penetravam na zaga
brasileira, como uma faca cortando tapioca, compara.
Com alguma
ironia, a publicação diz que a humilhação deixou os brasileiros em
estado de choque, muito especialmente porque o Brasil não tem Hiroshimas
reais a lamentar. A reportagem observa que, além da breve participação
brasileira na Segunda Guerra, entre 1944 e 1945, o conflito armado
anterior em que se meteu data de 1860 — a Guerra do Paraguai. O país tem
a sorte de não enfrentar ameaças de vizinhos, terrorismo, tensões
étnicas ou religiosas.
Apelando
ao antropólogo Roberto DaMatta, o texto lembra que o futebol deu ao
brasileiro a confiança em si mesmo que nenhuma outra instituição
proporcionou, inventando uma narrativa nacional e uma cola social, isso
num país que jamais conseguiu fazer jus a seu potencial. Ganhou cinco
Copas do Mundo, mas nenhum prêmio Nobel, contrasta.
A revista
prossegue observando que, quando o Brasil obteve o direito de sediar a
Copa do Mundo deste ano e os Jogos Olímpicos de 2016, o então presidente
Lula pretendia demonstrar que o país tem outros motivos para se
orgulhar. O mundo conheceria a sétima maior economia do planeta, uma
democracia vibrante, com notável progresso social, que tem visto cair a
pobreza e a desigualdade de renda.
Mas o
torneio aconteceu justamente quando os brasileiros estão menos
confiantes sobre o futuro. A economia vive um mau momento; a inflação
está em 6,5%, apesar das sucessivas elevações da taxa de juros. Os R$ 11
bilhões de recursos públicos destinados ao financiamento de estádios
desencadearam grandes protestos no ano passado contra a precariedade dos
serviços públicos, a corrupção e as prioridades equivocadas dos
políticos. A correria para concluir as obras e o trágico desabamento de
um viaduto recém-construído em Belo Horizonte evidenciaram as
dificuldades do país com projetos de infraestrutura.
Ao
contrário de algumas previsões, destaca a Economist, o evento em si foi
bem-sucedido, sem colapso nos transportes ou protestos significativos.
Pesquisas começaram a demonstrar que os brasileiros estavam aquiescendo
com o fato de o país sediar o torneio. Mesmo vaiada na cerimônia de
abertura, Dilma Rousseff, sucessora e protegida de Lula, sentiu-se
encorajada a anunciar que iria participar da final.
A derrota
do Brasil para a Alemanha tirou de Dilma qualquer esperança que ela
tenha alimentado de que a Copa do Mundo lhe daria um impulso para a
eleição de outubro, quando ela vai buscar um segundo mandato. Mas, por
si, essa derrota também não vai ajudar a oposição. As coisas não são
assim tão simples. Os brasileiros terão outras coisas em mente quando
votarem, daqui a três meses. A Economist lembra que FHC venceu a
reeleição em 1998, quando o Brasil foi derrotado na Copa, e que não
conseguiu fazer seu sucessor em 2002, ano em que a Seleção sagrou-se
campeã.
Num nível
mais profundo, diz a revista, a humilhação ocorrida no Mineirão tem
potencial para reforçar o mau humor do país, o que é potencialmente
perigoso para Dilma. Embora as pesquisas ainda a apontem como favorita, a
campanha só começa para valer agora. Seu índice de aprovação é pouco
superior a 40%, e as pesquisas têm demonstrado de forma consistente que
entre 60% e 70% dos brasileiros querem mudança. O PT está há 12 anos no
poder. Será que ela pode oferecer essa mudança?, indaga a revista. As
principais conquistas do partido estão no passado, lembra a revista,
como o aumento do emprego e do salário real — e ambas começam a se
perder.
O desastre
do Mineirão demonstra que o futebol brasileiro já não é mais uma fonte
da confiança nacional. Ele também precisa de mudanças que vão muito além
da construção de novos estádios. Seus principais agentes são corruptos,
e sua estrutura doméstica é mal administrada. Quem vive das glórias do
passado não tem futuro. Os brasileiros podem acabar chegando à conclusão
de que precisam de uma nova gestão e de novas ideias dentro e fora do
campo.
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