segunda-feira, 21 de julho de 2014

Fantasmas de eleições passadas - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 20/07


Disputa difícil vai depender ainda mais de 'novidades' mostradas no horário eleitoral gratuito

O QUE ENSINAM pesquisas de voto para presidente em eleições passadas? Praticamente nada. Obviedades. Alguns contrastes. De mais importante, aprende-se que é muito cedo para dizer grande coisa, ainda mais quando se observa o estado paradoxal da disputa. Dilma Rousseff (PT) está tanto à beira da vitória no primeiro turno como da derrota caso tenha de enfrentar um segundo turno.

Obviedade esquecida em cada eleição: convém esperar o que acontece entre o início da campanha e o começo da propaganda em TV e rádio, a reação do eleitorado entre o final de julho e meados de agosto. Parece ser o momento em que o grosso do eleitorado acorda para a eleição.

O voto dos eleitores de renda mais baixa costuma mudar mais do que o do eleitorado "mais rico", de renda familiar superior a dez salários mínimos, de resto muito minoritário.

Não raro, algum acidente, escândalo ou derrapada feia de candidato importante acaba dando uma balançada temporária nos números das pesquisas.

Nas eleições de 2006 e 2010, a vantagem que Lula e Dilma tiveram no Nordeste foi decisiva para o resultado final. Em agosto, logo depois do início da propaganda na TV, a votação nordestina era maciçamente pró-PT (mais de 60%). Não vem muito ao caso lembrar as eleições de 1994, 1998 ou 2002. Trata-se de disputas muito antigas, entre personagens de lastro histórico e político maior; uma delas foi travada em situação de quase colapso econômico (2002). Não é o caso.

Nesta eleição, a vantagem de Dilma no Nordeste ainda é grande, mas a presidente domina menos votos. Por ora empata com Aécio Neves (PSDB) no Sudeste.

A presidente quase não tem mais vantagem em regiões mais ricas e em cidades maiores do país (com mais de 500 mil habitantes), muitas delas mais afetadas pelo esfriamento da economia e, em geral, menos dependentes de dinheiro público e mais do setor privado.

Dilma tirou dez pontos de diferença nas pesquisas e empatou com José Serra (PSDB) entre abril e maio de 2010, empate que durou até o final de julho. Com o início da campanha, Dilma deslanchou. Basicamente, foi quando o grosso do eleitorado mais pobre, da cidade pequena, do Nordeste, soube que ela era a "mulher do Lula", que beirava os 80% de avaliação "ótimo/bom".

Não sendo novidade e em crise de prestígio, Dilma terá de informar ou lembrar os eleitores do trunfo restante, e relevante, de seu governo, a expansão dos programas sociais. Se tal informação já "está no preço", se já é considerada pelo eleitor mais pobre, a presidente tem um problema sério.

Quanto à economia, o grosso do eleitorado não teme, por exemplo, perder o emprego, mas demonstra insegurança ou insatisfação mais difusa por meio do medo manifesto de inflação maior. Trata-se de uma espécie de voto de desconfiança mais genérico, não necessariamente ligado ao medo de carestia, a julgar pelo histórico de 20 anos de pesquisas.

Uma incógnita importante é o que dirão os candidatos de oposição (até agora, nada disseram de relevante). Aécio e Eduardo Campos (PSB) não animam muito; passam a ter muitas chances no segundo turno devido a uma coalizão anti-Dilma, não a seus méritos próprios, por ora ao menos.
 

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