20 Julho 2014
Artigos -
Cultura
A medida do verdadeiro amor é a medida do sacrifício pelo bem do outro.
Têm sido frequentes os casos de jovens que se deixam fotografar nuas por seus namorados e, depois, passam pelo constrangimento de saber que essas imagens foram postadas nas redes sociais.
As consequências de tão
imprópria prova de amor desabam sobre a parte frágil, determinando
padecimento, processos judiciais, enfermidades psíquicas, crises de
adaptação social e familiar e, em certos casos, suicídio por total
incapacidade para enfrentar a situação.
Surpreende que, mesmo com a
reiterada divulgação de tais casos, algumas moças ainda se exponham em
tão desnecessárias liberalidades.
Estranhamente,
num ambiente social como o contemporâneo, ainda existem jovens
convencidas de que sua paixão do momento será eterna.
E eternamente
responsável por elas.
Afinal, eles as cativaram, hão de pensar. Falsas
rosas de Éxupery, tão confiantes em seus príncipes malandros!
Confundem-se diante do que mais desejam. Afligem-se em busca do amor e o
confundem com sedução, desejo, paixão.
Mas não é assim. A medida do
verdadeiro amor é a medida do sacrifício pelo bem do outro. E como não é
inteiramente própria da juventude essa capacidade de renúncia, faltam a
tais amores tanto as condições da perenidade quanto o longo convívio
que proporcione solidez à confiança mútua.
É sabido, porém, que estas
observações - conselhos, vá que sejam - não costumam ser bem recebidos
por aqueles a quem se dirigem.
Quanto
aos namorados pornofotógrafos, esses são malandros de escol,
colecionadores de troféus.
São canalhas completos, canalhas de Nelson
Rodrigues, do começo ao fim de cada uma dessas tristes novelas.
Canalhas
ao fotografar e canalhas ao divulgar as fotos.
Quanto às jovens,
pensando sobre a força determinante dessa decisão de se deixarem
fotografar assim pelos namorados, percebi que existe algo contraditório
aí.
De um lado, a jovem está dando prova a si mesma de um rompimento com
a cultura da geração anterior. Ela é jovem, autônoma, moderna, liberal e
se deixa fotografar como bem entende.
De outro - e aqui se esconde a
contradição - ela está servindo ao machismo e não à autonomia da mulher!
Essa jovem, que se crê autônoma, moderna e liberal, se oferece ao altar
do machismo. Ao coisificar-se, serve-o.
Nos
meus tempos escolares, volta e meia aparecia alguém com uma revista
Playboy. Rapidamente, os varões da sala nos agrupávamos em torno da mesa
e contemplávamos aquelas desfrutáveis deusas da beleza. Nossas colegas
do sexo feminino irritavam-se e esbravejavam. Conosco? Para nós?
Não. A
irritação delas era direcionada para as modelos da revista, para aquelas
mulheres, jovens como elas, que se dispunham ao papel de objetos
sexuais para agrado e consumo dos rapazes que as folheavam e delas
faziam páginas viradas.
Meio
século atrás, minhas colegas sabiam mais sobre si mesmas e sobre sua
dignidade. Eram mais sensíveis e mais valentes no enfrentamento do
machismo do que certas mocinhas do século 21.
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