terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eleições: Debate revela dificuldades de Marina na reta final

BLOG do SOMBRA


Qualquer que seja o resultado do primeiro turno, ele dependerá do desempenho da candidata do PSB nesta semana e no debate da Globo

Os candidatos à Presidência da República Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) em debate da Record no domingo (Foto: André Penner/AP)

O debate de domingo (28) à noite expôs as fragilidades de cada um dos principais candidatos a presidente nesta semana decisiva, mas evidenciou ainda mais aquilo que as mais recentes pesquisas de intenção de voto já haviam captado: as muitas dificuldades da candidatura Marina Silva (PSB)...

Promovido pela TV Record, o embate entre os candidatos foi o penúltimo antes do primeiro turno, marcado para domingo (5). Na quinta-feira (2) à noite, a TV Globo realizará o confronto final desta fase. Cercado de grande expectativa, esse próximo debate poderá definir se a presidente Dilma Rousseff (PT) chegará ao final de semana com chances de liquidar a disputa, se obtiver mais do que a soma dos votos de seus concorrentes. Também será mais uma oportunidade para Aécio Neves (PSDB) tentar convencer o eleitor insatisfeito com o PT e com o governo de que ele é a opção mais viável para derrotar Dilma numa segunda etapa. Nas duas hipóteses, será fundamental o desempenho de Marina Silva.

Nesta reta final, há muitas reclamações do lado de Marina e comemorações em demasia na equipe de Dilma em relação ao tom das propagandas do horário eleitoral de rádio e televisão e dos discursos de campanha. O PT está tentando "colar" em Marina a imagem de uma candidata fraca, insegura e que muda de opinião ao sabor das pesquisas, dos partidos e dos aliados. Com essa estratégia, Dilma Rousseff procura convencer o eleitor de que Marina não é uma alternativa de confiança para assumir a Presidência. Confiança, como costumam dizer os marqueteiros, é o pilar da eleição.

No debate do domingo, Marina, logo no primeiro bloco, ajudou a reforçar a estratégia do PT. Primeiro, ao se enrolar para responder uma pergunta clara e direta de Dilma. A presidente quis saber se a adversária e ex-senadora tinha votado contra ou favor da criação da CPMF (conhecido como o "imposto do cheque") no Congresso. "A senhora (...) mudou de posição de um dia para outro em temas extrema importância como a CLT, a homofobia e o pré-sal. No debate da Bandeirantes, a senhora disse que tinha votado a favor da criação da CPMF porque achava que era o melhor que se podia ter para a saúde. Qual foi mesmo seu voto, candidata, como senadora, na questão da CPMF?", questionou Dilma, reverberando uma peça publicitária que sua campanha levou ao ar no final de semana. "Votei favorável (na questão da CPMF), sim. Tenho total coerência com as posições que defendo e foi por isso que disse que não faço oposição por oposição. Sei o que é melhor para o Brasil." Na réplica, Dilma fez ironia e se disse "estarrecida". "Não acredito que a senhora não se lembre de que votou quatro vezes contra a CPMF." Conforme os anais do Senado, Marina votou contra a criação do imposto quando era senadora pelo PT.

Desse momento em diante, Marina optou por jogar na defensiva, por gastar boa parte de suas intervenções para negar acusações veiculadas pela campanha do PT, como a de que acabará com programas sociais e benefícios. No geral, teve uma participação de pouco brilho, talvez acreditando já estar no segundo turno. Assim, expor o que ela chama de agressividade de Dilma poderia ser sua melhor alternativa neste momento. O problema para a candidata do PSB é que Aécio Neves soube explorar o escândalo da Petrobras com um discurso muito sedutor ao eleitor antipetista, contra a corrupção e "descalabro". Marina se calou a esse respeito. Em seu pronunciamento final, Marina disse que no segundo turno terá tempo igual no horário de rádio e TV e que isso representará uma outra dinâmica para sua campanha.

Para chegar até a fase decisiva, porém, Marina precisa estancar a sangria de seus pontos percentuais nas pesquisas (caiu de 30% para 27% no Datafolha, e está em segundo lugar, atrás de Dilma e à frente de Aécio). Outro desafio é controlar a guerra interna deflagrada dentro de seu partido, o PSB, que hoje vive uma luta pelo poder entre grupos mais próximos da candidata e outros contrários a ela. Por fim, Marina precisa encontrar uma forma eficaz de responder às críticas de Dilma e de Aécio e afastar a imagem de ser uma candidata sem posições firmes. Não será simples. Se sair do debate da Globo sem ter respondido ao menos a essa última tarefa, ou terá seu lugar no segundo turno (e o próprio segundo turno) ameaçado ou entrará tão enfraquecida na fase final que uma virada sobre a atual presidente se tornará muito difícil.

O sucesso da estratégia publicitária do PT, a cargo do marqueteiro João Santana, não mascara o que essa tática tem de mais nefasto: o pouco espaço para as propostas e para o debate de ideias. Não há, no entanto, como negar que ela acalmou a "onda Marina Silva".

Fonte: Revista Época. ALBERTO BOMBIG - 29/09/2014 - - 18:19:07

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