A menos de uma semana da eleição, a campanha do tucano ganha novo fôlego com pesquisas que apontam sua aproximação da segunda colocada na corrida presidencial, Marina Silva (PSB). Ele mantém as esperanças de ir ao segundo turno contra Dilma Rousseff
30/09/2014 16h56
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>> Reportagem publicada na edição impressa de ÉPOCA fechada
em 27 de setembro e atualizada no site às 19h45 do dia 30 de setembro
Vez por outra, mostra números positivos, passa seu dedo pelas curvas que apontam para sua recuperação e para a queda de Marina Silva nos três maiores colégios eleitorais do país. Se o balançar permanente do pé esquerdo denuncia certa inquietação, o permanente bom humor é um indício de que Aécio ainda tem esperanças de conseguir um feito histórico e chegar ao segundo turno. Todas as vezes em que é instado a responder se apoiaria Marina Silva (PSB) contra Dilma Rousseff (PT), caso não chegue mesmo à segunda fase da eleição, repete aquele que parece ter se tornado seu mantra nesta reta final. “Vou estar no segundo turno. Tem de perguntar para ela o que ela vai fazer.”
Na segunda-feira, dia 6, será possível dizer se a frase é um rompante visionário ou mero excesso de otimismo. Na semana passada, parecia coisa de sonhador. Na pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (26), a dez dias das eleições, Aécio aparecia com 18 pontos, 9 a menos que Marina. Ele teria, grosso modo, de reduzir a diferença em 1 ponto por dia. Dará tempo? Quatro dias depois, nesta segunda-feira (30), em novo levantamento Datafolha, os números foram animadores para o tucano.
Ele subiu dois pontos. Marina caiu dois. Em quatro dias, foram quatro pontos. E estão mantidas as esperanças do tucano.
Se Aécio está vivo na disputa para ir ao segundo turno, Pimenta da Veiga, postulante tucano ao governo de Minas, é forte candidato a perder já no primeiro. Ele aparece cerca de 20 pontos atrás do petista Fernando Pimentel nas últimas sondagens. Se o PSDB perder a eleição no Estado que comanda há 12 anos, a terra de Aécio, para os tucanos, evocará o verso de Carlos Drummond de Andrade: “Minas é apenas um retrato na parede. Mas como dói”.
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Ainda com expectativa de emparelhar com Marina nos últimos instantes, mas pressionado pelo enorme risco de seu grupo perder em casa, Aécio vive um dilema. Apostar tudo na corrida ao Planalto e deixar a disputa estadual em segundo plano, ou concentrar-se em Minas com o intuito de evitar um mal maior nesta eleição? Para Aécio, a única forma de fazer um é fazer o outro, já que, para empurrar Pimenta, precisa recuperar o que perdeu em Minas. “Tenho muita confiança de que o PSDB ganhará a eleição em Minas. Não queremos que Minas seja o destino de petistas que outros Estados já descartaram e o Brasil se prepara para descartar”, diz.
Ao desembarcar em Uberaba, na última quarta-feira – na sexta visita a cidades mineiras em sete dias –, Aécio era aguardado por dezenas de apoiadores. Eles o saudavam com o grito de “Aécio, guerreiro, orgulho dos mineiros”. Após uma rápida carreata pela cidade, ele iniciou uma curta caminhada. Logo foi agarrado por uma cozinheira. Ela saiu correndo da lanchonete em que trabalha e o alcançou. Como fez ao longo de toda a caminhada, Aécio tirou fotos com todos aqueles que pediram – enquanto um locutor, de dentro de um carro de som, entre o degustar de uma jabuticaba e outra, dizia o que Aécio queria ouvir: “Vamos mostrar a força de Minas. Precisamos vencer em Minas Gerais”.
Depois de passar a tarde em Uberaba, Aécio foi para Belo Horizonte. Num evento com centrais sindicais no centro da cidade, levou os correligionários ao delírio ao relatar sua rotina – com a voz empostada, típica dos antigos políticos mineiros. “Acabei de chegar de Uberaba, tenho mais um evento em BH e vou hoje ainda para o Rio Grande do Sul, de onde sigo para Santa Catarina e Paraná e chego a São Paulo ainda amanhã. Sabem por quê? Porque vou ganhar a eleição”, disse. Para, em seguida, ainda mais exaltado, com os olhos quase saindo do rosto, convocar a militância. “Vamos arregaçar as mangas, mandar e-mails, ligar. Não vamos deixar Minas cair nas mãos daqueles que o Brasil rejeita. A vitória mais uma vez será nossa.”
E se as expectativas otimistas de Aécio não se confirmarem? Quem é próximo a ele diz que Aécio não faria o mesmo que Marina fez em 2010. Não se manterá neutro nas eleições, ajudando o PT a conseguir um quarto mandato consecutivo. Se quiser mesmo apoiar Marina, Aécio enfrentará algumas resistências no PSDB paulista. Não do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem eleger Marina é o preço a pagar para abrir caminho para a volta dos tucanos ao Palácio do Planalto em 2018. Mas do grupo ligado ao ex-governador José Serra, que ainda tem mágoa com Marina por causa do segundo turno de 2010, quando ela nem quis conversar com os tucanos sobre a possibilidade de apoiar Serra contra Dilma.
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No entorno de Alckmin, os ressentimentos são mais recentes. Marina não aceitou até agora dividir palanque com ele, embora o candidato a vice na chapa tucana seja Márcio França, do PSB. Os tucanos mais próximos de Alckmin também não engolem Walter Feldman (ex-PSDB) como interlocutor de Marina. Feldman é acusado de ter traído Alckmin em 2008, quando ficou ao lado de Gilberto Kassab (PSD) na disputa pela prefeitura paulistana.
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Há dúvidas, portanto, sobre se o PSDB optará pelo apoio a Marina ou pela declaração de “neutralidade” no segundo turno. Na prática, isso significa deixar cada tucano livre para agir como melhor entender. Para Aécio, o partido pode estar dividido sobre esse assunto, mas está unido em torno de sua candidatura. Aécio cita Serra, seu principal rival interno no PSDB nos últimos anos. “Ao mesmo tempo que você percebe que alguns se afastam, aparecem outros. Alguém que teve uma reação muito positiva foi o Serra”, diz Aécio. “Ligava, mandava e-mail, estimulava. Foi muito positivo. Não tenho reclamação do pessoal de São Paulo. O próprio Geraldo. Toda vez que eu ligava dizendo que podia estar em São Paulo em tal horário, ele remarcava a agenda dele.” Em 2006 e 2010, a desunião foi apontada como um dos fatores responsáveis pela derrota do PSDB nas eleições presidenciais. Para Aécio, se o partido fracassar outra vez, ao menos os motivos serão outros.
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