quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Cabeça a cabeça

Merval Pereira

 Com a manutenção dos índices da presidente Dilma Rousseff na casa dos 40%, o que indicaria ser mais difícil do que apregoavam os militantes uma vitória já no primeiro turno, as duas pesquisas divulgadas ontem, do Datafolha e do Ibope, os dois institutos de opinião mais acreditados pela opinião pública, indicam que o grande assunto desses últimos dias da corrida presidencial será a disputa entre o candidato do PSDB, Aécio Neves, e a do PSB, Marina Silva, para ver quem vai brigar com a incumbente no segundo turno da eleição.

De maneira geral as pesquisas são muito favoráveis a Aécio Neves, especialmente a do Datafolha, que o coloca pela quarta rodada seguida em ascensão, quase num empate técnico com Marina. Já o Ibope chega à mesma conclusão, mas por outro caminho: registra a queda de Marina pela quarta rodada seguida, mas coloca Aécio Neves estagnado pela terceira vez consecutiva.

A diferença entre ele e Marina, neste caso, seria mais pela decadência da adversária do que por seus méritos, o que faria a diferença num segundo turno. No Datafolha, em duas semanas, a diferença entre Marina e Aécio caiu 8 pontos: de 30% a 17% para 25% a 20%.

Outra boa novidade para Aécio Neves é a disputa pelo segundo turno, onde os dois adversários de Dilma perdem por uma diferença semelhante, de 9 e 8 pontos, com a vantagem adicional para o tucano de que ele chega aos mesmos 41 pontos de Marina em trajetória inversa. Aécio Neves foi de 39% para 41%, enquanto Marina caiu de 46% para 41%.

É interessante observar que tanto na pesquisa do Datafolha quanto na do Ibope, os adversários da presidente Dilma crescem no segundo turno muito mais do que ela, o que indicaria que ela tem uma margem mais apertada para ampliar sua votação.

No Datafolha ela sobe de 40% no primeiro turno para 50% contra Aécio Neves e 49% contra Marina. No Ibope o melhor resultado é para Marina, que continua em empate técnico com a presidente, que tem 42% dos votos contra 38% de Marina. Contra Aécio, a presidente venceria por 45% a 35%.

Nesses dois casos, a presidente acrescenta apenas de 2 a cinco pontos à sua votação, enquanto Marina cresce 13 pontos e Aécio Neves 15 pontos. No Datafolha, a presidente cresce de 9 a 10 pontos no segundo turno, enquanto Aécio sobe nada menos que 22 pontos e Marina 16 pontos. A diferença nas duas pesquisas representa, na verdade, 5 a 6 pontos na disputa do segundo turno.

A atropelada na reta final de Aécio Neves sobre Marina Silva, se mantidas na mesma intensidade a queda de uma e a subida do outro, pode levar a uma disputa voto a voto no dia da eleição, daqui a quatro dias. A dificuldade de Aécio Neves é que ele não está reagindo em São Paulo, maior colégio eleitoral e principal reduto tucano, onde segundo o Ibope a candidata do PSB continua liderando e em ascensão, ao contrário do resultado nacional: tinha 35% e agora aparece com 39% das intenções de voto.

Aécio caiu de 19% para 17% e a presidente Dilma manteve-se em segundo lugar com 23%. O candidato tucano parece, no entanto, ter superado seu principal obstáculo, que era o voto útil em Marina de eleitores convencidos de que só ela poderia derrotar Dilma.

Mesmo que seu crescimento seja lento, segundo o Datafolha, ou esteja estagnado segundo o Ibope, o candidato do PSDB ainda tem eleitores indecisos que saíram de Marina, mas não encontraram o candidato ainda. É nesse time que ele poderá encontrar os últimos reforços à sua candidatura. O que tudo indica é que já não existem mais tantos eleitores apenas de Marina, que desistiriam da eleição caso ela não tenha chances. O PT conseguiu transformá-la em uma candidata comum que, para o bem ou para o mal, disputará a presidência da República dentro de um terreno definido pela falta de escrúpulos ditada pela propaganda petista.

Tanto ela quanto Aécio serão obrigados a subir o tom de suas campanhas nos próximos dias e no segundo turno, pois a disputa passou a ser de antipetistas contra os conservadores, no sentido de eleitores que querem manter o que está aí.

Não há mais espaço para um discurso utópico de ser contra ao mesmo tempo PT e PSDB. Nesse terreno, o candidato tucano tem melhores condições estruturais para enfrentar a guerra que se avizinha. E Marina precisará desse apoio caso seja ela a ir para o segundo turno.


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