domingo, 16 de novembro de 2014

A lepra da intervenção política: indesejados e indignos

manifestacao
As manifestações de ontem, 15 de novembro, foram belíssimas expressões da democracia. Mas ainda tivemos problemas. É deles que falarei agora.


Às vezes é preciso “mandar a real”, e falar sobre as coisas como elas são. Já usei o termo lepra política para me definir em relação à presença de pessoas pedindo “intervenção militar” e “separatismo” nas manifestações. Mas acho que não fui suficientemente claro.

Não havia dúvidas de que essa gente apareceria para atrapalhar.
Há alguns dias vi a seguinte mensagem no Facebook:
AVISO AOS INTERVENCIONISTAS QUE SOFREREM QUALQUER TIPO DE CENSURA
Qualquer um que por ventura for impedido de expor suas faixas de intervenção militar em qualquer movimento de rua registre com vídeo o momento em que houver obstrução da liberdade de expressão para posterior identificação do infrator e vá a uma autoridade policial mais próxima denunciar o crime de censura fazendo o registro do BO (Boletim de Ocorrência).

Posteriormente abra uma denuncia no Ministério Público por crime de censura. Impedimento do direito constitucional de liberdade de expressão. Artigo quinto da Constituição de 1988: “É livre a manifestação de pensamento, e a Reunião pacífica e a Liberdade de Expressão”

IMPORTANTE: Coloque os registros de censura nas redes sociais, para que mais intervencionistas possam ajudar a tomar providências sobre a ocorrência.

Observações: O movimento promovido por pessoas que pedem a Intervenção Militar é apartidário, descentralizado, legitimo e feito por brasileiros livres cumpridores de todas as suas obrigações legais. E neste sentido, não podemos em hipótese nenhuma aceitar sermos caluniados, ou difamados, ou injuriados, pois caracteriza-se-a igualmente Crime, sujeito a prisão e indenização por reparação de danos morais.
Sempre pelo Brasil.
Um bom texto de Robson A. D. Silva no site Revista Sociedade Militar já deixava bem claro o quanto essas pessoas eram indesejadas, até mesmo pelas Forças Armadas:
Em momentos de crise, grande comoção, ou politizaçao da sociedade, ha sempre o risco de que surjam radicais. Radicalismo gera mais radicalismo. Ja ouviram falar em Malta? Resumidamente falando, é um grupo de maria-vai-com-as-outras que se junta e age de forma irresponsável e covarde se escorando na multidão que age igual.

 Quem trata muito bem desse assunto é Elias Canetti, teórico que todo ativista devia ler.

Como o ativismo político no Brasil até bem recentemente era propriedade da esquerda, os loucos e extremistas radicais, como o que cuspiu em idosos em frente ao clube militar, eram quase sempre sua exclusividade.  Contudo, vivemos novos tempos, a sociedade esclarecida chegou ao limite de sua paciência e aos poucos sai de dentro de casa. A maioria se atém a protestos racionais, são apologetas da mudança por meios democráticos e racionais.


Mas, ha uns poucos que nos mostram que já ha necessidade de auto-policiamento. Se isso não for feito rapidamente, ha sério risco de que ponha-se tudo a perder, e até que essas pessoas acabem gerando situações lamentáveis.

Como se não bastasse o árduo papel de orientadores nessa árdua jornada para a construção de uma oposição verdadeiramente fundamentada, os teóricos que constroem a oposição literalmente lutam agora, curiosamente, para aplacar os ânimos desses mais exaltados.

Por incrível que pareça, ha gente que fala abertamente em matar, guerra e “liberdade ou norte”. Destilam o ódio como se o país vivesse uma situação fora de controle. Estes acabam por fornecer combustível para ataques mortais da esquerda.

Nenhum grupo, nenhum partido, de direita, centro ou esquerda, legalizado ou em formação, pode compactuar ou permitir a presença de pessoas com esse tipo de comportamento.


 “Gerentes” de manifestações, que geralmente discursam em cima dos carros de som, também têm que se apressar em acabar com isso. Esse talvez seja o lado obscuro e mais perigoso da nova oposição em formação, onde alguns fazem incitação ao crime, à reação armada e imposição de uma idéia que não é e nunca será majoritária entre aqueles que se opõem ao atual re-governo.

Para esse tipo de extremista qualquer um que prefira a via democrática, é um covarde, fraco, desinformado etc.
Sim, somos contra os desmandos, a corrupção e o desgoverno. Mas nunca compactuaremos com qualquer incitação a violência e formação de grupos paramilitares. Lembremos sempre que Verdade e honestidade são princípios inegociáveis. Acreditamos que qualquer um pode pedir qualquer coisa. A presença do povo nas ruas é sim importante. Peçam ajuda aos militares caso achem que a soberania foi aviltada, peçam que General Heleno seja presidente, peçam que Bolsonaro seja ministro da defesa, peçam julgamento/Impeachment se acham que houve crime, peçam devassa no TSE e o que mais qualquer um achar necessário. Mas que isso seja feito por vias pacíficas, democráticas e dentro do que prescreve a LEI.
Feito logo após as manifestações, o ótimo texto Canalha minoritária e golpista macula protesto legítimo e democrático contra desmandos do governo petista, mas ficou claro: trata-se de uma minoria repudiada por todos, inclusive pelas Forças Armadas de Reinaldo Azevedo complementa bem o assunto.
Ele diz:
Os imbecis conseguiram.
Os idiotas chegaram lá.
Os zumbis se impuseram sobre os vivos.
Os estúpidos ganharam a ribalta.
A escória da democracia mostrou a fuça.
Reinaldo lembra que no mínimo 10 mil pessoas participaram dos protestos contra Dilma em São Paulo.

Mas eis que surgem várias matérias em sites:
  • “Pedido de ação militar racha protesto contra Dilma na Paulista” (Folha Online)
  • “Pedido de intervenção militar racha protesto anti-Dilma na Paulista” (Estadão Online)
  • “Defensores de intervenção militar dividem ato contra Dilma” (Globo Online)
  • “Lobão abandona ato após pedido de ação militar” (UOL)
Reinaldo prossegue:
As democracias não podem proibir a estupidez, ou democracias não seriam. As pessoas têm o direito de ser ignorantes. Mas eu também tenho o direito de repudiar a sua burrice. Se um único cartaz bastou para enviesar a cobertura jornalística do ato anterior, é evidente que um carro de som ganharia ainda maior saliência. Desta vez, ao menos, informa-se a coisa correta: o pedido de intervenção militar era coisa de uma minoria, que acabou marchando sozinha, por sua própria conta, até o Comando Militar do Sudeste.

Quem vai bater à porta de quartel é carpideira ou gente com vontade de lamber botas. Falaram para ninguém. Conheço generais da ativa que tratam essa gente por aquilo que é: um bando de trouxas, de oportunistas, que se aproveitam da justa indignação de pessoas decentes para lançar seu ridículo grito de guerra.

Por que esses celerados não dão ao menos um exemplo contemporâneo de governo militar que seja democrático e decente? Existem ditaduras militares no continente americano hoje? Sim.

Qualquer pessoa informada sabe que a Venezuela, na prática, é uma Cuba também. As fachadas socialista e comunista só escondem a real natureza do regime: são camarilhas militares que garantem a opressão.

Apanhei durante a ditadura. Fui perseguido com meros 16 anos. Repudio de modo absoluto esses asquerosos, que não sabem o que é democracia; que acabam, porque burros, legitimando o regime corrupto e de desmandos em curso. Se querem pedir ditadura, que marquem suas próprias manifestações.
Essa gente me dá nojo!
Sendo que já compilei a mensagem de um intervencionista indesejado, de um cientista político da Revista Sociedade Militar e de Reinaldo Azevedo, preciso fazer um apanhado da situação.

É fato que nem todos os adeptos da intervenção militar estão representados nesses energúmenos que apareceram nas manifestações. Aqui eu vou me referir a esses últimos.

Como podemos definir pessoas que não respeitam o direito de um grupo social definir as regras para este grupo social? Vamos dar alguns exemplos?


Ativistas LGBT que vão se beijar em Igrejas. Por que fazem isso? Se as regras da igreja não permitem esse comportamento, por que eles precisam entrar lá para ofender os demais? 


Se a torcida do Corinthians não admite palmeirenses (e vice-versa) por que você priorizaria ir lá vestindo uma camisa do Palmeiras?
É claro que estamos diante de comportamentos antissociais, a partir dos quais a vida em sociedade torna-se inviável. São normas básicas de respeito a regras de grupo que essas pessoas se recusam a assimilar. Pessoas assim chegam no mais baixo estágio da indignidade humana.


Quem é indesejado em um grupo social (o qual se estabelece pela via não coercitiva) deveria procurar os grupos sociais que o aceitem. A rejeição a isso configura-se em autoritarismo.


A partir do momento em que intervencionistas foram definidos como indesejados nas manifestações, a única posição aceitável seria de que não participassem. Ou que fizessem uma manifestação em qualquer outro lugar.
Mas alguns deles não conseguiram, e, agindo de forma tão indigna quanto os petistas mais desonrados, resolveram aparecer por lá, demonstrando arrogância extrema e desrespeito total aos objetivos da organização.


O que eles conseguiram com isso? Como sempre, conseguiram atrapalhar mais uma manifestação legítima, sempre gerando capital político para o PT.


Ora, se eles são indesejados no grupo e se a participação deles só serve para ajudar aos petistas, é melhor tachá-los de petistas infiltrados mesmo, ou então de malucos indignos. Ao menos estes que apareceram nas manifestações.
Em relação a estes intervencionistas, estamos em pólos opostos em várias questões como:
  • fornecimento de capitalização política gratuita pelo PT (eles são a favor, nós somos contra)
  • luta somente pelas vias democráticas (eles são contra, nós somos a favor)
  • respeito às organizações sociais (eles são contra, nós somos a favor)
  • busca do realismo político (eles são contra, nós somos a favor)
Quer dizer que nós temos inimigos à nossa frente. Eles são tanto os bolivarianos, como os militaristas.


E, exatamente por isso, este blog a partir de agora estabelecerá uma regra: nenhuma postagem a favor de intervenção militar será permitida por aqui.

Eu até respeito pessoas que acreditem nessas coisas por questão de perda de fé nas instituições.

Tenho divergência dialética com essas pessoas em minha discordância profunda com qualquer pedido por intervenção militar.

Mas a partir do momento em que uma parte desses intervencionistas se recusa a aceitar regras sociais e decide partir para sabotar manifestações democráticas, novas regras precisam ser estabelecidas.

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