Vivemos
realmente dias interessantes. Desde a redemocratização do país, é a
primeira vez que milhares de pessoas saem às ruas tendo de enfrentar a
franca hostilidade da maioria da imprensa e até de humoristas
chapas-brancas — como se fosse possível fazer humorismo a favor sem que o
palhaço se comporte como mero áulico. Até o bobo da corte, como é
sabido, tinha mais independência do que a pletora de engraçadinhos
patrocinados. Afinal, o bobo era o único que podia fazer piada com o
rei… Os de hoje em dia só sabem ironizar os… inimigos do rei.
Sim, uns
poucos tolos pediram intervenção militar. Já disse o que penso a
respeito em dois posts bastante longos. Mas a esmagadora maioria foi à
rua cobrar a apuração de crimes contra o patrimônio público, exigir o
impeachment de Dilma (se ficar provado que ela sabia das falcatruas) e,
oram vejam, protestar contra o controle da mídia — que vem a ser
justamente a pauta oposta à dos esquerdistas que marcharam na
quinta-feira, sob a liderança da CUT e de Gilherme Boulos, chefão do
MTST — a entidade e o movimento são vermelhos por fora, mas tem a chapa
branca por dentro.
Os que
defendem abertamente a censura à imprensa, no entanto, foram tratados
com reverência e delicadeza pela… imprensa! Os que se opõem a controles,
bem, estes estão sendo francamente hostilizados, com uma abordagem
jocosa, com esgares óbvios de preconceito. Sugiro aos manifestantes, no
entanto, que ignorem a patrulha e deixem os jornalistas em paz. Seus
respectivos leitores saberão fazer a coisa certa. O único controle
admissível para a imprensa é o público. A liberdade de imprensa não é um
bem que se defenda em benefício de jornalistas. A gente defende a
liberdade de imprensa é em benefício do país. Adiante.
Manifestações
de defensores da ordem democrática também são meio chatas, não é?, para
certo jornalismo. A turma não quebra nada, nem bem público nem bem
privado; não busca o confronto físico coma a Polícia Militar — ao
contrário: até a aplaude, o que deixa os esquerdistas da imprensa,
digamos, “absurdados”. Também não se trata, assim, de um desfile de
culturas alternativas, de tribos, de comportamentos de exceção, de
minorais, de militantes profissionais.
Nada
disso! Nas ruas, estavam aquelas pessoas que a Marilena Chaui e boa
parte da imprensa odeiam: gente comum, que trabalha, que estuda, que é
obrigada a ganhar o próprio sustento — e, por essa razão, tem especial
predileção para protestar aos sábados. São pessoas que não têm as mesmas
facilidades dos militantes da CUT ou do MTST. Estes podem armar o circo
em plena quinta-feira porque o pão já está mesmo garantido pelas tetas
públicas.
Onde já se
viu gente comum; que não pertence a nenhum movimento social; que não se
organiza em nome de nenhuma minoria influente; que, percebe-se, nem tem
muito traquejo em manifestação porque costuma estar empenhada demais em
prover o próprio sustento, sem tempo para se comportar como esbirro de
grupelhos militantes; que recolhe seus impostos; que faz funcionar a
máquina perdulária do estado… Onde já se viu gente assim ousar sair às
ruas?
Cumpre
ridicularizá-la; tratá-la como um bando de primitivos; tirar o sarro de
sua agenda; evidenciar o seu reacionarismo; hostilizá-la como expressão
do atraso.
Não é porque essa gente é a parcela do Brasil que financia o
circo do estatismo; não é porque essa gente é diariamente espoliada por
marginais do poder; não é por isso tudo que essa gente, agora, vai achar
que deve ter também o direito de voz. Como quer o ainda ministro
Gilberto Carvalho, a obrigação do governo é conversar com os movimentos
sociais de esquerda. Os indignados com a roubalheira que se danem.
Vem coisa por aí
Os histéricos — e vou escrever daqui a pouco sobre o ministro José Eduardo Cardozo — que se acalmem! A Operação Lava Jato, até agora, ainda não chegou aos políticos. Vai chegar. É possível que a penca de prisões acabe resultado em novos processos de delação premiada.
Os histéricos — e vou escrever daqui a pouco sobre o ministro José Eduardo Cardozo — que se acalmem! A Operação Lava Jato, até agora, ainda não chegou aos políticos. Vai chegar. É possível que a penca de prisões acabe resultado em novos processos de delação premiada.
Ainda que
amplos setores da imprensa só reconheçam a legitimidade de protestos que
carregam a bandeira vermelha, terão de aceitar, cedo ou tarde (pior se
for tarde), que os que pagam a conta têm o direito de reclamar da
qualidade do serviço.
Para esclarecer
Há gente fazendo uma lambança dos diabos.
Tenho escrito aqui que o eventual impeachment de Dilma precisa de
provas. Aí alguns insistem: “Mas elas já existem…”. Ainda não são do
nosso conhecimento.
VEJA noticiou — assim como os demais veículos de
comunicação — que Alberto Youssef afirmou que Lula e Dilma sabiam de
tudo. É fato que ele tenha dito isso. Mas é preciso que venha à luz a
materialidade dessa afirmação, entenderam? “Ah, Reinaldo, mas o que você
acha?” Eu acho que não havia como eles não saberem. Mas um processo
requer mais do que, digamos, essa obviedade lógica.
E, ficando
provado que a presidente sabia, ela vai se aposentar mais cedo. Sem
traumas institucionais.
Não adianta Cardozo ter faniquito. Os cretinos
que chamam de “golpista” a manifestação em favor do impeachment precisam
saber que o impedimento tem prescrição legal. Logo, não pode ser golpe o
que se ancora na legalidade democrática. Quando alguém fala em
“impeachment” fala também em legalidade. É elementar!
A crise é
de fôlego, estejam certos. Quanto à hostilidade de parte considerável da
imprensa, dizer o quê? Jornalistas não podem ser molestados. Que façam o
seu trabalho, bom ou mau. É o leitor, o telespectador, o ouvinte ou o
internauta que escolhem este ou aquele veículos. A melhor forma de
protestar contra áulicos ou maledicentes é mudando de jornal, de
revista, de canal, de blog, de rádio…
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